A presença do secretário estadual de Saúde do Rio Grande do Norte, George Antunes, na audiência pública que discutiu, na Câmara Municipal, a desativação do Hospital da Mulher Parteira Maria Correia foi marcada por forte tensão e debates acalorados.
O titular da Saúde chegou a afirmar que o Governo não pode manter serviços “a qualquer custo” e que não é negligente, mas que também não iria jogar recursos do Estado “pelo ralo”. As declarações geraram revolta entre os presentes, incluindo servidores que atuavam no Hospital da Mulher.
“A responsabilidade com erário não pode ser deixada de lado. Estou convicto de que estou fazendo a coisa certa. Me dedico 24h à Secretaria de Saúde. Não sou irresponsável, negligente, mas também não vou ficar jogando recursos do Estado pelo ralo, esse não é o meu trabalho. Precisamos ter mais clareza, conversamos, para construir algo de positivo para a sociedade”, afirmou.
George apresentou na audiência números e gráficos que, segundo ele, justificam a necessidade da transferência dos serviços do Hospital da Mulher para o Hospital Maternidade Almeida Castro. O secretário defendeu que a cidade não possuía duas maternidades, mas sim “duas meias maternidades”.
“No Hospital da Mulher, tínhamos um total de receita de R$ 449 mil, mas as despesas eram de R$ 3,3 milhões. Quando fazíamos as contas dava um prejuízo financeiro mensal de 2,871 milhão. Ao ano R$ 34 milhões. Com a decisão judicial, R$ 438 mil serão repassados para o Município e o Município paga a maternidade. Os recursos humanos também serão cedidos, as cooperativas, com isso, as despesas do Estado serão de R$ 1,7 milhão/mês, economia de mais de R$ 18 milhões ao ano”, detalhou.
Ainda segundo o secretário, juntas, as duas maternidades tinham uma taxa de ocupação muito baixa, o que também justificaria a junção dos serviços. “O Hospital da Mulher parou por seis vezes esse ano e a população continuou bem assistida, no Almeida Castro. Foi atestado pelo Poder Judiciário que o Almeida Castro está funcionando a contento, muito próximo da excelência, as mães não estão nas ruas, estão sendo assistidas”, disse.
George Antunes também frisou que além do Almeida Castro, outras unidades receberão o contingente de profissionais que atuava no Hospital da Mulher, inclusive o Tarcísio Maia. “Vamos ampliar serviços, mandamos enfermeiro para Caicó, no Rafael Fernandes vamos abrir 10 leitos de UTI Clínica, no HRTM vamos abrir 16 leitos de clínica cirúrgica, distribuir enfermeiros em núcleos, faremos a complementação da escala de pediatria”, pontuou.
Ainda sobre o Almeida Castro, o secretário destacou que levou o Conselho Regional de Medicina para inspecionar a unidade. “Atestaram que o hospital tem plena condição de funcionamento sem risco alguma para o paciente, para o profissional. Não estou entendendo o receio com essa qualidade da assistência, que já foi atestada. Convido todos a verem como as pessoas estão sendo atendidas. Não tem ninguém na rua”, comentou.
Servidores do Hospital da Mulher, SindSaúde, OAB e Igreja defendem manutenção dos serviços
Funcionários do Hospital da Mulher e representantes da Ordem dos Advogados do Brasil, Sindicato dos Servidores da Saúde e Paróquia de Santa Luzia utilizaram a tribuna da Câmara para defender a manutenção dos serviços do Hospital e criticar a posição adotada pelo Governo do Rio Grande do Norte.
“É lamentável essa situação. A saúde pública de Mossoró está na cova. Isso é um crime, Estamos presenciando o fechamento de mais um hospital público. Quantas vidas serão ceifadas? Estão negando o direito à vida”, afirmou João Morais, presidente do SindSaúde em Mossoró.
Representando a direção do Hospital da Mulher, Adriana Alves fez um dos discursos mais duros da manhã. “Estamos na luta, vamos até o final. Sabemos o que é uma mulher e uma criança morrerem por falta de atendimento, por falta de vaga. Nos salvamos vida, é isso que sabemos fazer. Não estamos na luta pelo nosso emprego, ele está garantido, estamos lutando pela vida da população. O Estado não fez nada por nós, e agora está brincando com a cara da população e não estão vendo? Estão querendo matar mais gente, sem necessidade?”, questionou.
Ela prosseguiu a sua fala afirmando que o Hospital foi morto por “inanição”. “Estão substituindo o público pelo filantrópico, isso é inconstitucional, é um absurdo. Nos mataram por inanição, o Hospital foi morto e o Governo é o assassino. Vamos acordar Mossoró”.
Discursando em nome da Diocese de Santa Luzia, padre Flávio Augusto afirmou que a luta pela manutenção do direito das mães mossoroenses terem seus filhos com dignidade. “Quando ouço falarem que no Hospital se gastava de mais para poucas pessoas serem atendidas, minha impressão é que querem que as pessoas continuem sendo atendidas no meio da rua, nos corredores dos hospitais. Queremos que os direitos sejam respeitados, o direito a parir com dignidade. Podemos até morrer, mas vamos morrer gritando. A luta não é em vão”, destacou.
A advogada Catarina Vitorino solicitou ao secretário de Saúde que ele volte atrás na decisão de fechar o Hospital da Mulher. Ela também cobrou do governador Robinson Faria mais “amor a Mossoró. “O direito à dignidade humana não pode ser ferido. O governador precisa ter amor a Mossoró, porque foi Mossoró que elegeu Robinson”, disse, sob aplausos do público presente.
O também advogado Evânio Araújo acusou o secretário George Antunes de maquiar números para justificar a desativação do Hospital da Mulher. “O senhor ser pago para dizer inverdades é falta de respeito. O povo de Mossoró merece respeito. As crianças têm direito de viver e os pais têm direito de sorrirem. Minha sugestão que formem uma Comissão, com representantes de cada segmento, e metam um processo no rabo (sic) do Governo, entrem com uma Ação Civil Pública, coloquem os responsáveis na cadeia”, discursou.
A tribuna da Casa Legislativa foi ocupada ainda por outros oradores, todos defendendo a permanência do Hospital da Mulher, entre eles o pediatra Watson Peixoto, a servidora Elizabeth Câmara e um pai cujos filhos gêmeos nasceram, prematuras, na unidade hospitalar.