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SAÚDE
Maricelio Almeida e Cezar Alves
02/02/2017 16:15
Atualizado
14/12/2018 08:55

Motorista de Caraúbas viajará 900 quilômetros para matricular filho aprovado em Medicina no Sergipe

Lúcio Flávio conversou com MOSSORÓ HOJE sobre a conquista do filho, Lúcio Júnior, aprovado por meio do Sisu para a Universidade Federal de Sergipe. "A distância agora é o menor problema. O mais difícil ele já conseguiu".
Cezar Alves/MH
Ao longo de 20 anos, Lúcio Flávio Fernandes de Oliveira percorreu um incontável número de estradas como motorista profissional, mas sua viagem mais esperada ainda está por vir: no próximo domingo, 5, ele percorrerá cerca de 900 quilômetros entre Caraúbas, interior do Rio Grande do Norte, e Lagarto, município do estado do Sergipe, onde o filho, Lúcio Júnior, irá se matricular para cursar Medicina.

Lúcio Júnior (foto à dir.) foi aprovado por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) para ingressar no ensino superior. É o início de mais uma etapa rumo ao seu grande sonho. Para o pai, a distância que percorrerá em direção a Lagarto não é problema: o mais difícil já foi alcançado. O motorista conversou com a equipe do portal MOSSORÓ HOJE na tarde desta quinta-feira, 2, no local onde trabalha há sete anos: o Instituto Técnico-Científico de Polícia (ITEP) de Mossoró.

Em diversos momentos, Lúcio Flávio se emocionou ao comentar a conquista do filho. "Foi por esforço dele. Eu sou motorista, a minha esposa é professora geógrafa. Levamos uma vida humilde, mas trabalhando muito. Somos assalariamos, as coisas não andam muito bem. A gente tem que fazer um esforço grande", relata.

A emoção tomou conta de Lúcio quando relembrou a ajuda da sua mãe, já falecida, no processo de apoio aos estudos de Lúcio Júnior. "Tivemos a ajuda da minha mãe, que faleceu em setembro, e não teve o prazer de ver esse sonho realizado, com o neto ser aprovado. Dona Ceição Fernandes era professora e o orgulho da vida dela era os netos", afirmou, com voz embargada e lágrimas nos olhos.

Após a perda da mãe, um novo baque: o sobrinho de Lúcio, Jório Fernandes, de 21 anos, foi uma das vítimas do grave acidente de trânsito na RN-117, entre Governador Dix-sept Rosado e Mossoró, no dia 4 de janeiro, tragédia que deixou três mortos, da mesma família. "Ele era primo e o maior amigo do meu filho, estava com 21 anos, cursando Direito na Ufersa. Perdi minha mãe em setembro, meu sobrinho agora, só notícias ruins, mas graças a Deus apareceu uma boa agora", destacou o motorista, mais uma vez emocionado. ASSISTA:
 

Sobre o filho, Lúcio Flávio conta que ele sempre foi muito estudioso. Após o ensino fundamental, ingressou na sequência no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRN) de Apodi, onde concluiu o curso técnico em Zootecnia. "Quando terminou no IF tentou a primeira vez para a Medicina, não conseguiu passar, aí entrou em Veterinária, mas trancou. Em 2016, fez um ano de cursinho, morando na Casa do Estudante aqui em Mossoró", relembra.

E a escolha por Medicina? Lúcio Flávio enfatiza que esse sempre foi o sonho do filho. "Eu achava que não era, por ele gostar muito de animais, o avô dele até tem um pedacinho de terra, e ele gosta de cavalo, corre a cavalo, por isso eu pensava que ele ia querer Medicina Veterinária, só que ele sempre disse que queria Medicina Humana. Sempre apoiamos, eu sempre dizia ‘meu filho, faça o que você quiser’. Esse ano, graças a Deus deu certo", relata o pai orgulhoso.

O motorista também ressaltou a importância do processo de interiorização do ensino superior. Ele relembra que em sua época de estudante, ingressar em curso técnico "era coisa de filho de rico". "Era muito mais difícil. Eu lembro que no meu tempo de estudante, só tinha IF em Natal. Só estudava lá quem era filho de rico", reforça.

Por fim, Lúcio Flávio, que é casado com a professora Calíngia Kátia, natural da comunidade de Fortuna, zona rural de Caraúbas (eles são pais ainda do jovem Pedro Lucas, de 14 anos), ressalta a viagem que fará no domingo. "Vai só eu e ele para diminuir as despesas. Vou passar o dia todo viajando, chegar lá no domingo à noite, dormir em uma pousadinha. A distância agora é o menor problema. O mais difícil ele já conseguiu.  Vão ser agora seis anos de muito trabalho, muito estudo, mas vai dá certo", conclui o motorista.
 
 

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