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ESTADO
Da redação
06/03/2017 12:48
Atualizado
14/12/2018 00:16

Pele de tilápia surpreende médicos do Ceará no tratamento de queimaduras

Pele do peixe esterilizado é aplicada no paciente; o tratamento pode durar entre 9 e 12 dias. O assunto foi tema de reportagem no site americano Stat
Reprodução
Um tratamento diferenciado vem chamando a atenção de especialistas da área da saúde em todo o mundo. A pele da tilápia, peixe típico do Brasil, está sendo usada no tratamento de queimaduras graves em Fortaleza, Ceará. O assunto foi abordado em uma reportagem do site americano Stat. 

Os pacidentes são cobertos pela pele do peixe, especificamente tiras de tilápia devidamente esterilizada. 

Os médicos testam a pele do peixe como uma bandagem para queimaduras de segundo e terceiro graus. Surpreendente, o tratamento já é realizado há muito tempo em países desenvolvidos. 

Segundo o médico Dr. Jeanne Lee, diretor provisório do Centro Regional de Queimaduras da Universidade de Califórnia, em San Diego, antes do tratamento eram usados apenas um gaze e creme de sulfadiazina prata nos ferimentos.

"É um creme de queimar porque há prata nele, assim impede que as queimaduras sejam contaminadas", disse o médico. 

O curativo e gaze deve ser trocado todos os dias em um processo doloroso. Já a pele de tilápia, fica de 9 a 12 dias no paciente. Na unidade de queimadas do Instituto José Frota, em Fortaleza, os pacientes contorcem-se quando suas feridas são desenroladas e lavadas.

O tratamento está sendo estudado na Universidade Federal do Ceará. O médido Edmar Maciel afirma que ficou supreso quando perceberam a grande quantidade de proteínas de colágeno, tipos 1 e 3, que são muito importante para a cicatrização.

"Outro fator que descobrimos é que a quantidade de tensão, de resistência na pele de tilápia é muito maior do que na pele humana, também a quantidade de umidade", disse Maciel. 

Em pacientes com queimaduras superficiais de segundo grau, os médicos aplicam a pele do peixe e deixam-na até que o paciente cicatrize naturalmente.

Para queimaduras profundas de segundo grau, as ataduras de tilápias devem ser trocadas algumas vezes ao longo de várias semanas de tratamento, mas ainda com muito menos freqüência do que a gaze com creme.

O tratamento de tilápia também reduz o tempo de cicatrização até vários dias e reduz o uso de medicação para dor, disse Maciel.

Antônio dos Santos, um pescador, foi oferecido o tratamento de tilápia como parte de um ensaio clínico depois que ele sofreu queimaduras em todo o braço direito quando uma lata de gás em seu barco explodiu. Ele aceitou.

"Depois que eles colocaram a pele de tilápia, realmente aliviou a dor", disse ele. "Eu pensei que era realmente interessante que algo assim pudesse funcionar."

Os lotes iniciais de pele de tilápia foram estudados e preparados por uma equipe de pesquisadores da UFC. Técnicos de laboratório usaram vários agentes esterilizantes, depois enviaram as peles para radiação em São Paulo para matar vírus, antes de embalar e refrigerar as peles. Uma vez limpos e tratados, eles podem durar até dois anos.

Nos EUA, os substitutos de pele de origem animal exigem níveis de escrutínio da Food and Drug Administration e grupos de direitos dos animais que podem aumentar os custos, disse Lee. Dada a oferta substancial de pele humana doada, a pele de tilápia é improvável que chegue a hospitais americanos em breve.

Mas pode ser uma bênção nos países em desenvolvimento.

"Estou disposto a usar qualquer coisa que possa realmente ajudar um paciente", disse Lee. "Pode ser uma boa opção dependendo do país que você está falando. Mas eu também acho que o problema é que você precisa encontrar lugares que têm os recursos para processar a pele e esterilizá-la e certificar-se de que ela não tem doenças. "

No Brasil, além dos ensaios clínicos, os pesquisadores estão atualmente realizando estudos histológicos que comparam a composição de peles de humanos, tilápias, porcos e rãs. Eles também estão realizando estudos sobre os custos comparativos de pele de tilápia e tratamentos de queimadura convencionais. Se os ensaios clínicos mostram sucesso contínuo, os médicos esperam que uma empresa processe as peles em uma escala industrial e vendê-lo para o sistema de saúde pública.

Com informações Stat

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