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POLÍTICA
Maricelio Almeida
31/03/2017 15:01
Atualizado
14/12/2018 07:40

“Vou continuar votando a favor do povo”, afirma a deputada Zenaide Maia

Em entrevista ao MOSSORÓ HOJE, parlamentar garante que seguirá mantendo uma postura de contrariedade às reformas e projetos defendidos pelo presidente Temer.
Maricelio Almeida/MH
A deputada federal Zenaide Maia concedeu, na tarde desta sexta-feira, 31, entrevista exclusiva ao portal MOSSORÓ HOJE, onde abordou, entre outros pontos, sua Proposta de Emenda Constitucional que visa combater os juros excessivos dos cartões de crédito, seu posicionamento contrário às reformas propostas pelo presidente Temer, confirmou que deixará o Partido da República (PR), e falou ainda sobre o pleito de 2018. Acompanhe:
 
MOSSORÓ HOJE: O que propõe a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 160?

Zenaide Maia: Ela acrescenta o parágrafo 4º no artigo 192 da Constituição de 1988. Nesse artigo, diz que os juros não podem ultrapassar 12% ao ano, isso não foi regulamentado e engessou a política monetária do Banco Central, e o país passou a ser um dos poucos do mundo onde os juros não tem tutela estatal, então cada instituição financeira cobra os juros que quer. é tanto que o Banco Central me informou que há instituição financeira que faz empréstimo a pessoa física, sem desconto em folha, que chega a 815% ao ano, mas o que chama mais atenção são os juros do cartão de crédito, cheques especiais e financiamento de algum bem. Essa PEC limita os juros a três vezes a taxa Selic, basta dizer que hoje seria 36.75%. Hoje os cartões abusam, fazem uma extorsão do povo brasileirO, cobrando quase 500% ao ano, isso é uma vergonha. A PEC está na Comissão de Constituição e Justiça, foi colocada em votação, mas pediram vistas duas vezes. A gente sabe que a família brasileira está sendo explorada. Esses cartões, lá nos países de origem deles, praticam 0,5% ao ano, e vem aqui explorar com 500%.

MH: A senhora tem expectativa que essa PEC seja aprovada?

ZM: Como é uma PEC, ela precisa passar duas vezes no Congresso Nacional e não precisa do aval da Presidência da República. Sei que não é simples, porque se mexe com gente com muito dinheiro, se a gente conseguir aprovar na CCJ, criar comissão provisória, no plenário vai ser difícil o Congresso Nacional não defender a família brasileira. Cerca de 65% das dívidas das famílias brasileiros são dos cartões de crédito.

MH: Deputada, a senhora vem adotando posições que têm chamado a atenção dos potiguares desde a votação para abertura do processo de impeachment da ex-presidente Dilma. Naquele período, levantou-se a possibilidade da senhora estar atuando por interesse pessoal, defendendo a permanência do ex-deputado João Maia em uma das vice-presidências do Banco do Brasil, mas posteriormente a senhora manteve essa postura de contrariedade aos projetos defendidos pelo Governo Federal e apoiados pela maioria dos integrantes da bancada potiguar...

ZM: Fiquei triste em acharem que eu ia colocar em risco uma política toda do Brasil, inclusive a democracia. Votei contra o impeachment porque acho que era tirar o direito do povo pelo povo. A população colocou uma presidente lá e 531 deputados têm o direito de tirar? Isso não é democracia. Votei também por ter certeza que Eduardo Cunha e Michel Temer não eram solução para o país. Esse processo começou com uma crise política grande, parte dela criada pelo próprio Congresso, por não aceitar o resultado da eleição. Eu digo isso com a maior tranquilidade, porque não sou do partido da presidente. O Congresso aprovava aumentos exorbitantes para servidores públicos, até de 71%, a presidente vetava. Cada categoria que ela não autorizava o aumento, se revoltada. E assim foi se criando esse clima. Depois veio a crise financeira, se parou todas as obras do Governo Federal em nível de Brasil, uma média de 90 mil na construção civil, que é onde se gera mais emprego imediatamente. Foi tudo um plano. Muitos dos que foram bater panela não chegavam a ter esse conhecimento. Agora, se colocou na Constituição Brasileira que durante 20 anos não se vai investir em saúde, segurança e educação.

MH: Proposta que a senhora também votou contra...

ZM: Fui contra e por isso o partido me puniu. Eu mesma acho que não tenho mais condições de ficar no partido. Eu cumpri o programa do partido, de defender a educação, saúde e assistência social. A gente tá pensando nisso, em mudar de partido, eu já vou até solicitar (a desfiliação), mas é preciso esperar uma janela de seis meses antes da próxima eleição. Não tenho nenhum partido em vista. Houve muitos convites, eu dou graças a Deus. Apesar de ser o meu primeiro mandato, e está há pouco tempo lá, mesmo estando suspensa, não podendo falar como vice-líder no plenário, mas eles não tiveram como tirar das comissões de Seguridade Social, Saúde e Família e muito menos na Comissão de Defesa das Pessoas com Deficiência.
 
Em vídeo, Zenaide Maia avalia o governo do presidente Temer e critica a proposta de Reforma da Previdência. Assista:

 

MH: Após a votação do impeachment, veio o debate sobre a exploração do pré-sal por empresas estrangeiras, que a senhora também foi contra. Por quê?

ZM: O Brasil passou 30 anos investindo nessa pesquisa, sem um tostão de empresa multinacional, aí quando se descobre, se põe o ministro Serra, que depois que pôde vender o pré-sal a gente ainda tentou colocar alguns destaques, e emendas, para ver se deixava os poços que tinham uma produção de mais de um milhão de barris por dia, para eles não serem privatizados, mas afastaram tudo.

MH: Qual o principal prejuízo da PEC que limita os gastos públicos?

ZM
: Interfere na vida do cidadão como um todo. Por exemplo: o tripé que aumenta a expectativa de vida de um povo é o acesso à saúde, educação e assistência social segurança pública. Se você congela os investimentos nesses setores por 20 anos, é claro que a expectativa de vida vai diminuir. E agora tem a terceirização, sem limite, que é algo gravíssimo, na verdade não existe nada de bom para o cidadão brasileiro. Acho que isso não é política, porque tudo eles usam a desculpa de redução de gasto, aumento de emprego, mas não aumenta emprego se você tirar o poder de compra do operário.

MH: Essa semana houve a votação do projeto que visava autorizar a cobrança de mensalidades nos cursos de pós-graduação das universidades públicas. A senhora foi a única deputada do RN a votar contra, por quê?

ZM:
Eu sempre estudei em escola pública, me formei em Medicina e fiz residência em instituições públicas. Esse projeto era mais uma maneira de prejudicar a classe mais pobre. Esses cursos são necessários como títulos em concursos públicos, por exemplo, se você retira esse direito de quem não pode pagar, é claro que vai entrar a pessoa que tem dinheiro. A universidade tem que se manter pública. Essa aprovação já seria um grande incentivo para a privatização de algumas universidades, do jeito que estamos em uma linha de privatizar até o espaço aéreo.

MH: Como a senhora tem recebido os elogios da população em relação à essa postura adotada nas últimas votações?

ZM:
Isso é de uma importância tão grande, porque você fica votando muito só, diante da nossa bancada, muitas vezes a própria bancada do PR diz assim: ‘você acha que é só que está certa e todo mundo está errado’. Eu digo: ‘bem, eu sei que estou certa, mas vocês devem ter outros motivos para votares’. Ninguém, em sã consciência, vai votar a favor de colocar cursos pagos em universidade pública, não é por aí. Tem um partido bem maior, que se chama povo brasileiro, que eu não vou abrir mão disso.

MH: Em relação aos demais membros da bancada potiguar, como é a relação das senhoras com ele? Há algum tipo de animosidade, pelo fato da senhora votar, quase sempre, em desacordo com o que eles defendem?

ZM:
Eu digo: ‘quando vocês resolverem defender o povo, aí eu voto com vocês’. Mas a gente não tem animosidade, muitas vezes eu tento convencê-los, mas a bancada se une quando é um projeto estruturante.

MH: A população critica muito justamente essa falta de união da bancada na defesa de temas de interesse da sociedade potiguar, como saúde, segurança...

ZM:
Estivemos, por exemplo, reunidos com o ministro da Integração Nacional, sobre a Transposição do Rio São Francisco, mas é claro que existem os interesses particulares, as questões de cargos, ministérios, não é fácil desafiar isso tudo. Costumo dizer que como sobrevivi a mortalidade infantil do nordeste há mais de 50 anos, não fico com medo. Não tenho nenhum cargo, não me interessa isso aí, o que me dá uma certa liberdade. Muitas vezes eu sinto falta de votar no coletivo, como a PEC dos Gastos Públicos.

MH: Vamos falar um pouquinho sobre as eleições 2018. A deputada Zenaide pretende ser candidata à reeleição?

ZM:
A gente está vendo. Eu e Jaime (Calado, ex-prefeito de São Gonçalo do Amarante e marido de Zenaide ) não vamos ficar no partido. Vamos fazer pesquisa. Fico muito grata em saber que não estou só, me sinto muito bem, independente de qualquer coisa, de ser uma deputada que posso andar na rua, fazer minha feira, entrar num avião tranquilamente, porque eu respeito, não vou votar contra os direitos de um trabalhador, não faço isso.

MH: Há espaço para Zenaide Maia e João Maia na Câmara Federal?

ZM:
Na Câmara, não sei, mas pode ser. Mesmo que o PR estadual não tenha a mesma posição do nacional, não tem condições de você trabalhar brigando com um partido, e eles não vão mudar de opinião, e eu vou continuar votando a favor do povo, contra a Reforma Trabalhista, por exemplo, que é uma reforma cruel, onde querem contratar homens e mulheres como tratores.

MH: Por fim, há um rompimento político entre Zenaide e João?

ZM:
Há sim essa separação.
 
 
 

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