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MOSSORÓ
Da redação
08/12/2017 09:23
Atualizado
14/12/2018 10:00

"A gente vive sem rumo", diz dona de casa sobrevivente de incêndio criminoso em Mossoró

Deuzilene Antônia da Silva, 43, e Glícia Roberto, 17, tiveram que abandonar a cidade após o ataque que sofreram, em 14 de julho de 2016. Um ano e meio depois, as duas tratam as sequelas físicas e psicológicas.
Há quase um ano e meio, a dona de casa Deusilene Antônia da Silva Santana, de 43 anos, e sua filha cadeirante Glícia Roberta da Silva, 17 anos, foram vítimas de quanto um ser humano pode ser cruel em sua fase extrema. As duas foram presas num quarto, jogaram gasolina no colchão e atearam fogo. Foram salvas com queimaduras gravíssimas pelos corpos. O atentado contra a vida das duas gerou sequelas físicas e psicológicas irreparáveis. Dores que excedem os incômodos marcados na pele pelas chamas, mas que estão vivos no olhar profundo e triste de cada uma.

“Vivemos sem rumo na vida”, revelou Leninha, como é conhecida.

Deusilene e Glícia foram alvos de um atentado no dia 14 de julho de 2016. Bandidos trancaram as duas dentro do quarto da casa no Conjunto Santa Júlia, jogaram gasolina na cama e atearam fogo. Antes, o marido de Leninha foi retirado da casa e ameaçado de morte pelos criminosos. Mesmo assim, conseguiu se soltar dos bandidos, entrar na residência em meio às chamas e salvar a filha e depois a mulher Leninha.

Em estado grave, as duas foram internadas às pressas no Hospital Regional Tarcísio Maia, que nao tem tratamento para queimados. Como tinha plano de saúde, Glícia Roberta foi levada para o Hospital Antônio Fagundes, em Fortaleza. Em seguida foi transferida para ala de queimados no Instituto Doutor José Frota, hospital público na capital cearense, pois o hospital pago pelo plano não tinha o tratamento que precisava para se recuperar das queimaduras.

Já sua mãe, passou três dias internada no HRTM e foi transferida para a ala de queimados do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, em Natal, após a interferência do vereador Alex do Frango. Leninha, que na época nem roupas tinah para vestir, pois havia perdido tudo no incêndio, ficou sendo acompanhada pelo marido no hospital em Natal e a filha Glícia pela tia em Fortaleza.

As duas passaram por tratamento intensivo de aproximadamente dois meses. E por um “milagre”, como definiu a irmã de Leninha, Deuzinete Maria da Silva, as duas sobreviveram para contar a história, com marcas enormes pelo corpo e tambem com sequelas piscológicas traumáticas.

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De passagem por Mossoró essa semana, as duas aproveitaram para visitar os familiares, que há muito tempo não viam, porque tiveram que sair de Mossoró com medo que os criminosos tentassem mata-las novamente.

Por conta das sequelas, Deuzilene Antônia não consegue mais trabalhar como doméstica ou artesã, atividades que ela desenvolvia perfeitamente antes do atentado, inclusive junto com a filha. Ela ficou com braço esquerdo inutilizado. Até para cuidar da filha Glicia, que é cadeirante, precisa de ajuda.

Sua filha, Glícia, não estuda mais. Foi aprovada no 9º ano, em 2016, onde estudava na Escola Antônio Alcides, localizada no bairro Redenção. Ela é portadora de Síndrome Neurogênica, que afetou os membros inferiores. Usa cadeira de rodas. Com as queimaduras, a síndrome se agravou. Por isso, a adolescente não consegue mais frequentar a escola. “Tenho muita vontade de ir para a escola”, declarou.

Em Mossoró, as duas procuraram saber a que pé está o processo judicial sobre o ataque, sofrido por elas. As duas foram até o Fórum Municipal Desembargador Silveira Martins e ao Ministério Público Estadual, mas não conseguiram informações. Lá, informaram que é feriado do Dia da Justiça.

“A gente espera pela justiça dos homens, mas até agora não aconteceu, então só espero a justiça do Senhor”, afirmou Leninha, mostrando as marcas das chamas pelo corpo.



Mesmo diante de tanta dor sofrida por ela e toda a família, Deuzilene revela que tem pena da mãe dos acusados. Segundo ela, a família dos acusados não são pessoas ruins. Ela lamenta, inclusive, que os filhos tenham trilhado na direção errada. “Tenho pena porque, sou mãe, e sei como é, a gente quer voltar para Mossoró, para perto da minha família, mas temos muito medo”, afirmou.

Para Deuzinete, é momento de pedir justiça para a família. Ela explica, além de Leninha, ela e outros irmãos tiveram que mudar de residência para ficar longe dos acusados. “A gente só quer justiça, quero muito que elas fiquem boas, que consigam vencer essas dificuldades e que ela (Leninha) possa se recuperar para cuidar a filha dela, que precisa muito dela”, disse.

Sobre o processo criminal na Justiça, Leninha e a filha sabem absolutamente nada. As duas pediram para conversamos com o escritório de advocacia Vilar Saldanha Advogados e Associados, de Natal, que passou a acompanhar o caso há poucos dias. Em contato com o MOSSORO HOJE, o escritório informou que se trata de uma questão extremamente grave que aconteceu em Mossoro e que apesar do terror, do medo, de toda maldade empregada no ataque contra a mulher e a jovem Glícia, até agora a família não tem conhecimento se foi adotada alguma providência judicial.

O Advogado Bruno Saldanha destinou o associado Niederland Tavares Lemos para analisar o caso em Mossoró e definir como a família pode receber melhor assistência do estado, em se tratando de serviços de saúde, e o que está acontecendo que até agora a família não recebeu qualquer informação de como anda o processo na esfera criminal. "Estamos estudando e analisando este caso. O que posso dizer é que é chocante", diz Niederland Lemos.
 

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