25 ABR 2024 | ATUALIZADO 08:06
MOSSORÓ
William Robson, especial para o MOSSORÓ HOJE
02/01/2018 05:33
Atualizado
13/12/2018 17:22

"O caos de Mossoró é de quem não teve um palmo de visão além do nariz"

Entre festas, praças e simulacros de ruas asfaltadas, o dinheiro foi drenado sem pensar no futuro econômico de Mossoró pós-petróleo

Estava lendo um necessário artigo do companheiro de profissão de fé, Bruno Barreto, sobre a situação de Mossoró. Uma análise interessante sobre os momentos em que a cidade viveu o auge de sua arrecadação, no mesmo instante em que administradores desta fortuna que deveria servir aos mossoroenses, não tiveram um palmo de visão além do nariz.

Entre festas, praças e simulacros de ruas asfaltadas, o dinheiro foi drenado sem pensar no futuro econômico de Mossoró pós-petróleo. Ao contrário, viu-se duas situações naquele contexto:

1- Que o petróleo de Mossoró era infinito e, por assim dizer, a terra que vertia leite e mel jamais deixaria de existir. Lembro que, em 2005, numa série espetacular que produzimos no Jornal de Fato com o grande jornalista Julierme Torres, especialistas e pesquisadores já falavam de um colapso importante do setor na região de Mossoró em 2016, ou seja, 11 anos depois.

Isso já deveria ser o suficiente para que as autoridades na gestão da cidade
ficassem alertas e agissem de forma a garantir a sobrevivência e o bem estar de todos nos anos e décadas seguintes. Mas, em vez disso, o ponto 2 agravou a situação.

2- Quem conhece bem Mossoró sabe que a cidade tem uma síndrome de grandeza, de ser capital de tudo (da cultura ao semiárido). Propagandeava, a preço de ouro em revistas de distribuição nacional, o status de "metrópole do futuro". Além disso, comemorava a cada aumento demográfico divulgado pelo IBGE, como se isso fosse sinal de desenvolvimento.

Claro que, à época, havia uma razão: o dinheiro do petróleo se juntava com retroescavadeira a cada mês e as festas incrementavam um tal "turismo de eventos" fajuto que, por outro lado, ajudava a esvair todo o futuro da cidade.

Quem não queria morar na metrópole do futuro, e ter a vida moderna e prática dos Jetsons? Tal propaganda atrai mais gente que o paraíso pós-morte vendido pelas religiões.

Mossoró recebeu tanta gente que hoje não consegue dar condições tranquilas, de trabalho, de cultura, de transporte e de progresso para 300 mil pessoas.

Quer dizer, a cidade inchou, o petróleo ficou escasso... Os melhores empregos se extinguiram e foram substituídos pela área de telemarketing que, apesar do esforço, não consegue carregar o fardo que foi deixado.

Os baixos salários pagos refletem no setor de serviços e em outras áreas, lógico. Não estou a considerar aqui, o atraso nos salários dos servidores estaduais, que agrava ainda mais a situação.

Tanta gente na metrópole do futuro encontrou uma Gotham City e, sem dinheiro, aumentou a pobreza e a violência. O caos foi projeto trabalhado a longo prazo.

Não é o Exército aplaudido e amontado de selfies em poucos dias que vai reverter tão bem feito trabalho de ter colocado Mossoró no cenário em que está. Ao longo dos últimos 30 anos.

Mossoró perdeu uma grande oportunidade de ser verdadeiramente um lugar bom de viver, sem almejar a soberba e os problemas da "metrópole".

WILLIAM ROBSON CORDEIRO é jornalista, mestre em Estudos da Mídia, ex-diretor de Redação dos jornais De Fato e Gazeta do Oeste, e pesquisador/doutorando de Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Universidade Autônoma de Barcelona (UAB)

Notas

Publicidades

Outras Notícias

Deixe seu comentário