29 MAR 2024 | ATUALIZADO 18:35
POLÍCIA
Da redação
13/08/2018 07:22
Atualizado
13/12/2018 23:22

Jornal O Globo destaca história do ex-PM preso em Mossoró suspeito do assassinato de Marielle

Diário carioca conta também que a mãe do miliciano, Maria do Carmo Araújo, esteve em Mossoró para visitar o filho no presídio federal
Reprodução da página
O jornal O Globo, do Rio de Janeiro, publicou em sua edição impressa deste domingo (12) uma reportagem sobre a história do miliciano Orlando de Curicica, ex-policial militar, acusado de participar da morte da vereador Marielle Franco. Ele está preso no Presídio Federal de Mossoró. A reportagem ainda detalha que a mãe de Orlando, Maria do Carmo Araújo, esteve na cidade para visitar o filho na prisão. Veja a reportagem: 

A trajetória de Orlando Curicica, o ex-PM que virou o principal suspeito da morte de Marielle
Nascido em Caxias, detento pode estar por trás do crime que abalou o Rio de Janeiro

 

















 

POR CHICO OTÁVIO E VERA ARAÚJO

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RIO - Um mendigo chega a uma boca de fumo na Cidade de Deus. Sozinho, ele se depara com traficantes armados. Um deles pergunta: “Qual é velho?”. De dentro de uma sacola plástica, o maltrapilho tira uma pistola e atira no bando. Não teria sobrado ninguém. Encoberto por andrajos, estaria Orlando Oliveira Araújo, de 42 anos. A história, contada quase como lenda, é um dos pontos altos da biografia do principal suspeito da morte da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes.

Com o crime, Orlando deixou de ser o quase desconhecido de antes. Até 14 de março, quando a vereadora foi assassinada, só pesava contra ele um mandado de prisão provisório por um homicídio, expedido pelo juiz Alexandre Abrahão, do III Tribunal do Júri, e um flagrante de posse de uma arma encontrada na casa de uma ex-mulher, no dia em que ele foi preso em Vargem Grande, na Zona Oeste, em outubro do ano passado.

A partir do depoimento de uma testemunha chave que foi revelado pelo GLOBO, que o implica no caso como o mandante da execução, Orlando passou a ser alvo de uma investigação que já lhe imputou a suspeita de pelo menos dez assassinatos. Hoje, há três mandados de prisão para ele por homicídio — um deles pela morte de duas pessoas.

 

EM BUSCA DE PROVAS

Os investigadores ainda buscam provas para indiciá-lo pela morte de Marielle. O titular da Delegacia de Homicídios da Capital (DH), Giniton Lages, monta um quebra-cabeças do crime que considera o mais complexo da história da especializada, que elucidou, após 63 dias de um minucioso trabalho, o atentado que matou a juíza Patrícia Acioli, em agosto de 2011. Ontem, o caso Marielle Franco completou 150 dias.

Para a polícia, um dos personagens principais dessa trama é Orlando. A saga que levou o criminoso a cruzar o caminho da vereadora começou em Campos Elíseos, em Caxias, onde o suspeito de ter se tornado um poderoso miliciano nasceu e cresceu. A mãe dele — e de outros quatro meninos —, Maria do Carmo Araújo, conta que Orlando, aos 12 anos, saía com um carrinho de mão vendendo, por alguns trocados, terra para vizinhos que construíam suas casas. Depois de completar o segundo grau, ele passou num concurso e se tornou PM em 30 de maio de 1996.

 

— Decidiu ser PM contra a minha vontade — lembra a mãe, garantindo, contra todas as evidências de policiais, que o filho sempre foi um bom menino, carinhoso e trabalhador. — Ele não matou essa Marielle, quer testemunhar, ser ouvido pelo Ministério Público. Não me contou detalhes, mas garantiu que tem gente graúda por trás (do crime).

Maria do Carmo já foi visitá-lo na Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, onde foi parar o ex-PM que só ficou pouco mais de um ano na carreira de agente público. Em agosto de 1997, foi preso em flagrante pela Polícia Rodoviária Federal, com um carro de chassi adulterado, que usava para roubar carga na Rodovia Rio-Teresópolis, em Parada Modelo, Guapimirim. Acabou condenado a cinco anos e oito meses em regime fechado. E, claro, perdeu a farda.


A vereadora Marielle Franco, assassinada em 14 de março - Reprodução

 

Até o momento da expulsão, era ficha limpa. No entanto, aos 23 anos, quando entregou a arma e a carteira de policial, Orlando mergulhou de vez no submundo. O primeiro “negócio” foi cobrar taxas de ambulantes que quisessem se instalar em uma praça do bairro de Curicica, em Jacarepaguá. Vem daí o apelido Orlando de Curicica. Com o passar dos anos, ele se associou a outros policiais e ex-PMs e a quem mais quisesse segui-lo numa milícia que vivia da extorsão de comerciantes e da venda de segurança.

Os negócios ilícitos se expandiram, dando origem a uma holding criminosa que distribuía gás, gatonet e explorava a venda de galões de água e de cigarros do Paraguai, além do transporte alternativo. A “firma”, jargão usado por milicianos, cresceu para localidades como Boiúna, Camorim e Pau da Fome, em Jacarepaguá; e Terreirão, no Recreio dos Bandeirantes. Levantamento da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) estima um lucro de R$ 200 mil, por semana, só para Orlando. Segundo a polícia, a quadrilha impõe terror e mantém uma rígida divisão de tarefas entre seus integrantes. Ao temperamento instável de Orlando é atribuído o longo rastro de mortes na trajetória do criminoso nos últimos anos. A testemunha que municia a polícia hoje sustenta que o miliciano matava quem estivesse em seu caminho ou ameaçasse seu faturamento. Pode ser que essa tenha sido a motivação para a execução de Marielle e Anderson.

Orlando também é acusado do assassinato do presidente da escola de samba Parque da Curicica, Wagner Raphael de Souza, conhecido como Dádi, em 2015, que não aceitaria sua interferência na agremiação. Dádi morreu numa emboscada em que seu carro foi atingido por 12 tiros. Uma outra pessoa, que estava no veículo, sobreviveu e tem colaborado com a Justiça.

 

CORPOS INCINERADOS

Em 2017, temendo uma traição dentro do próprio grupo, Orlando teria dado ordens para matar o PM José Ricardo da Silva, na época lotado no 5º BPM (Praça da Harmonia), e o ex-PM Rodrigo Severo, em seu próprio sítio, em Guapimirim. A testemunha garante ter presenciado a execução, em 25 de fevereiro. Os corpos foram achados incinerados dentro de um carro em Brás de Pina, na Zona Norte.

— Orlando é um psicopata padrão. Ricardo, o policial que foi uma das vítimas do duplo homicídio de Guapimirim, era chamado por Orlando de filho. No enterro, Orlando chegou a consolar a esposa da vítima. Ele é extremamente frio — descreveu um policial da DH da Capital.


Frase escrita no Centro do Rio pede respostas sobre caso Marielle - Emily Almeida / Agência O Globo


Leia mais: https://oglobo.globo.com/rio/a-trajetoria-de-orlando-curicica-ex-pm-que-virou-principal-suspeito-da-morte-de-marielle-22971401#ixzz5O3zs4U9a 
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