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MOSSORÓ
WILLIAM ROBSON, Especial para o MOSSORÓ HOJE
15/08/2018 08:10
Atualizado
25/02/2019 17:03

Na sociedade super-conectada, para quê submeter o mossoroense desempregado à humilhação?

Jornalista William Robson comenta a humilhação submetida aos mossoroenses desempregados ao enfrentar uma fila para a entrega de um simples currículo

Uma fila de desempregados que dobrava o quarteirão próximo à Praça dos Esportes. Gente que buscava honestamente voltar para o mundo do trabalho, de acordo com as regras que a sociedade capitalista impõe. São estas pessoas, mais que números, que engrossam a vergonhosa estatística do desemprego no Brasil, que já passa dos 13 milhões.

São pessoas que não trabalham, outros dos chamados nem-nem (nem estudam e nem trabalham) e outra fatia importante de desalentados (aqueles que desistiram de procurar emprego diante de tantos "nãos" e "aguarde ser chamado").

Não são pessoas vagabundas. Enfrentaram esta fila e se submeteram à uma seleção por uma vaga de trabalho em uma indústria de cerâmica, a Porcelanatti. Estavam desde cedo, hoje, quarta-feira (15), quando o dia sequer tinha amanhecido. Centenas se acotovelavam pelas primeiras 300 fichas para uma simples entrega de currículo.  Muitas acamparam desde às 5h da manhã e voltaram para casa sem a tal da ficha. Os dias seguintes prometem outra via-crúcis.

Sim, em pleno século 21, na era da modernidade, do mundo conectado, das redes sociais, emails e banco de dados digitais, a Prefeitura de Mossoró, através de sua secretaria destinada a arrolar os candidatos interessados a uma vaga na firma, prefere sobrepor aos concidadãos uma dupla humilhação: a do desemprego e da fila para entregar um papel.

Somente a necessidade é capaz de mobilizar pais e mães de famílias, jovens, homens e mulheres a se  submeterem a isso. Não é algo bonito de ver. É uma cena triste, horrível, de corar o rosto dos mais sensíveis, porém não faz sequer pestanejar os burocratas locais.

É verdade que muitos olham estas pessoas apenas como números, outros como peças de reposição, outros como coisas que podem ser descartadas, outros com indiferença. São elas que buscam proporcionar o desenvolvimento de nossa cidade tão afetada com violência e descaso. E da forma como manda o figurino: com trabalho honesto.

Será que estes selecionadores do período cretáceo não ouviram falar que existe uma possibilidade de recrutar mão-de-obra via online? Um simples email onde o candidato escreve no assunto FULANDO DE TAL_CURRÍCULO é difícil de manter? Ou um programa digital de cadastramento? Isso também contribuiria para a construção de um banco de dados virtual com o poder do trabalho dos mossoroenses. Não seria incrível? Sem precisar de fila, nada.

Portanto, qual a necessidade de subjugar o nosso povo já fragilizado com o fantasma do desemprego mais real do que nunca?

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