25 ABR 2024 | ATUALIZADO 18:39
POLÍTICA
Da redação
17/09/2018 13:48
Atualizado
14/12/2018 08:23

[OPINIÃO] Os erros apontados por Tasso Jereissati que gestaram o ódio e a extrema-direita

O jornalista William Robson diz que o PSDB tenta agora se descolar da imagem do impeachment e do governo desastroso do qual participou; e tem outro desafio: enfrentar a personificação de tudo isso, para quem os votos se esvaíram
Agência Estado
WILLIAM ROBSON
Especial para o MOSSORÓ HOJE

Está lá no site do Estadão uma entrevista com o senador cearense Tasso Jereissati. Ele faz uma análise da atual situação em que se encontra o PSDB, hoje um partido praticamente nanico em termos eleitorais, embora mantenha a maior coalizão entre todos os candidatos a presidente. Seu escolhido, Geraldo Alckmin não decola nas pesquisas de opinião. Depois de assistir o seu candidato anterior, Aécio Neves, minguar de mais de 50 milhões para tentar  uma vaga de deputado federal amarga enormes dificuldades para cativar a confiança dos mineiros.

Tasso fala de "erros memoráveis" praticados pelo PSDB, um arrependimento mais que tardio, sentido não por bem, mas pelo mal que tais  atitudes  provocaram à nação e ao partido, agora em total decadência.  O primeiro, segundo ele, foi questionar o resultado eleitoral. "Começou no dia seguinte (à eleição). Não é da nossa história e do nosso perfil. Não questionamos as instituições, respeitamos a democracia", afirmou.

Quem retomar a gravação de Aécio Neves com o empresário Joesley Batista vai rememorar o episódio deste primeiro erro. Como um menino mimado, entrou com ação para recontagem dos votos apenas para "encher o saco". Ora, o contexto era de total acirramento e divisão política no Brasil, onde Aécio perdera por pouco mais de três milhões de votos. Havia uma campanha pesada da mídia antipetista (quem não lembra da capa da Veja "eles sabiam de tudo" antecipada como panfleto eleitoral na semana da eleição?). O PSDB entrou na onda, foi para o tudo ou nada.

Além de pedir a recontagem, o PSDB ainda tentou impedir a posse da Dilma. Você pode não gostar do PT, mas se for minimamente democrático, perceberá que, pelas regras do jogo, estas atitudes não faziam o menor sentido. Tasso hoje reconhece.

Antes de irmos para o segundo ponto, é bom lembrarmos que o PSDB já se colocava como a voz antipetista e, com outros aliados de Direita, participaram dos movimentos populares que vieram a seguir e que pediam a saída da presidente. A dosimetria do antipetismo injetada na população foi além da conta: ao invés de um PSDB mais forte, capaz de governar o país através do voto em eleições seguintes, se viu abraçados a conspiradores e golpistas, enquanto nascia o fruto do ódio e da matança em massa como solução generalizada para as questões sociais mais complexas: o Jair Bolsonaro, um deputado profissional do baixo-clero alçado à porta-voz da intolerância.

Este pequeno adendo serve para entendermos os erros elencados por Tasso que contribuíram  para a crise instalada no país. Vamos então para o segundo ponto: "votar contra princípios básicos nossos, sobretudo na economia, só para ser contra o PT". São as chamadas pautas-bombas.

O PSDB abraçou o antipetismo e a obsessão era tanta que projetos de interesse nacional eram simplesmente sabotados. A sociedade perdia diante de uma insanidade política e de um delírio que acometeu e ainda segue entorpecendo parte importante da sociedade. Não foi à toa que recentemente, Ciro Gomes afirmou que "o Brasil não cometeria um suicídio coletivo", se referindo ao Bolsonaro. Podemos dizer que coletivo é o resultado de um forte processo de hipnose que, como vemos nas pesquisas, até hoje rende.

Por fim, "o grande erro, e boa parte do PSDB se opôs a isso, foi entrar no governo Temer", diz Tasso. A precipitação de romper com a democracia, ao apoiar num impeachment comprovadamente sem crime, motivado apenas por uma insatisfação política (estamos no presidencialismo ainda!). Promoveu toda esta balbúrdia e neutralizou o futuro do PSDB, antes tido como o partido que liderava as pesquisas para 2018, e hoje brigando na faixa dos 6% das intenções de votos, como diz a pesquisa CNT/MDA divulgada nesta segunda-feira (17).

Um texto do jornalista Bernardo Melo  Franco, publicado no jornal O Globo na semana passada, lembrou que Alckmin rebateu os pontos apresentados por Tasso, ao afirmar que o "PSDB não tem nada a ver com este governo". Melo refrescou sua memória ao apontar que o partido chegou a ocupar cinco ministérios.

Hoje, tentando se descolar da imagem do golpe que ajudou a promover e do governo desastroso do qual participou, tem outro árduo desafio: enfrentar a personificação de tudo isso, para quem os votos se esvaíram, mostrando que o perfil do seu eleitor deixou o centro e ganhou a extrema direita mais antipovo possível.

Na edição impressa da Folha de hoje, os aliados de Alckmin, o pessoal do chamado Centrão, estão à beira do desespero. Dizem que se ele não reagir nos próximos dias, a situação ficará irreversível. O PSDB viveu dias melhores e se estes erros apontados por Tasso tivessem sido evitados, certamente não é preciso ser profeta para prever que a posição do partido seria bem melhor.

No entanto, optou pela precipitação, pelo rompimento democrático e o povo não está perdoando os protagonistas disso tudo. Ao contrário do que pensa o general Hamilton Mourão, o vice de Bolsonaro, ao afirmar que "a constituição não precisa ser feita por eleitos" pela população, ainda temos uma democracia com povo.

 

Tasso concluiu assim: "Foi a gota d’água, junto com os problemas do Aécio. Fomos engolidos pela tentação do poder".
 

Notas

Publicidades

Outras Notícias

Deixe seu comentário