Criadores de abelhas perdem até 80% da produção devido circulação do carro fumacê em Mossoró
Criadores explicam que o veneno está matando muitas abelhas e prejudicando a produção de mel; Eles reclamam da aplicação indiscriminada do carro fumacê nos bairros da cidade
Cerca de 100 meliponicultores (criadores de abelhas), que atuam dentro da cidade de Mossoró, passam por sérias dificuldades provocadas pela circulação do carro fumacê, da Prefeitura de Mossoró e Secretaria do Estado de Saúde Pública (Sesap). O veneno está matando os animais – e consequentemente, fazendo com que os criadores percam de 50% a 80% da produção de mel.
A situação se agravou mais ainda porque a Prefeitura de Mossoró não informava quando o carro fumacê iria circular pelas ruas da cidade e acabava pegando os criadores de surpresa. A partir desta semana, o órgão começou a avisar dois ou três dias antes. No entanto, a matança das abelhas continua. É o que relatou ao MOSSORÓ HOJE o criador de abelhas José Cilineudo.
De acordo com o profissional, os criadores estão "a mercê" diante do problema. "Agora eles estão avisando uns dois ou três dias antes e a gente solta as abelhas 24 horas antes, mesmo assim muitas são mortas", relatou.
José Cilineudo e os demais criadores de abelhas questionam a real necessidade do carro fumacê atualmente em Mossoró. Ele relata que essa medida é utilizada geralmente quando há epidemia de dengue – que não é o caso. Explicou ainda que nem prefeitura nem a secretaria estadual de saúde justificam a necessidade desta medida. E o que é pior: O carro fumacê passa com principalmente nos bairros que mais têm criadores de abelhas, no Doze Anos, Alto de São Manoel, Abolições e Três Vinténs.
"Cadê a epidemia? Eu mesmo já pensei em sair nos postos de saúde e perguntar se está tendo dengue, mas onde a gente vai não tem ninguém com a doença nos últimos meses na cidade, é muito melhor a prevenção do que usar o carro fumacê", ressaltou o criador de abelhas.
O criador de abelhas vai além. Ele sugere que equipe de agentes endemias serão contratados para visitar as residências e orientar a população para prevenir o foco do mosquito Aedes aegypti. "Além do veneno matar as abelhas, matam os mosquitos, mas não matam os ovos, vamos prevenir, a gente anda pelas ruas de Mossoró e só vê lixo por cima de lixo, a gente começa a produção, solta as abelhas, e o veneno acaba matando as abelhas operárias, aí tem que começar o processo de novo em 40/50 dias,", explicou Cilineudo destacando que o veneno não prejudica apenas os criadores que perdem a produção, mas o próprio meio ambiente (morte das abelhas) e à população que precisa dos alimentos.
José Cilineudo fala sobre criação de abelhas e cuidados devido à circulação do carro fumacê:
Diante da situação, a Associação de Meliponicultores e Meliponicultoras Potiguar (AMEP) ingressou com representação e pedido de medidas urgentes junto ao Ministério Público, de Mossoró. No documento, a associação destaca que as abelhas nativas são responsáveis por 90% do trabalho de polinização da flora, especialmente na caatinga brasileira. Relatou que neste ano ocorreram três aplicações do veneno em Mossoró – em abril, agosto e agora em outubro, conforme anunciado pela Prefeitura Municipal no site da instituição esta semana.
A associação pede, de forma urgente, à promotoria de Meio Ambiente, que seja instaurado um inquérito civil para apurar as possíveis aplicações indiscriminadas do carro fumacê em Mossoró e ainda uma audiência com os criadores para explicação sobre os prejuízos aos mesmos.
Um dos fundadores da AMEP, Victor Hugo Dias, fala sobre funcionamento da associação: