O Centro Regional do Nordeste (CRN) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em Natal, realiza um mapeamento da vulnerabilidade da população rural a fenômenos climáticos em aproximadamente 200 municípios da Paraíba, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte.
A iniciativa é derivada do projeto “Construindo nosso Mapa Municipal visto do Espaço“, do grupo de Geoprocessamento do CRN/INPE.
Secas prolongadas têm ocorrido com maior frequência no semiárido brasileiro nas últimas duas décadas e levado à redução dos reservatórios e ao colapso de centenas de municípios do Nordeste.
A população rural, que representa 38% dos 23,8 milhões de habitantes da região semiárida, é a mais afetada pelos efeitos das secas, sobretudo os agricultores familiares que compõem 89% dos estabelecimentos agropecuários.
Para o mapeamento, foi criado um índice de vulnerabilidade climática composto por 11 indicadores baseados em dados do IBGE e agências estaduais de meteorologia, considerando aspectos sociais, econômicos, político-institucionais e climáticos.
“Neste trabalho foram adotadas as noções de exposição, capacidade adaptativa e sensibilidade. A exposição se refere à distribuição espacial e temporal de chuvas, ou seja, trata da intensidade da seca a que os agricultores estão expostos. A sensibilidade está relacionada à suscetibilidade do sistema socioeconômico aos eventos climáticos, como prejuízos e impactos. Já a capacidade adaptativa reflete a habilidade dos sistemas socioecológicos de fazer ajustes, se adequar e se recuperar de distúrbios ambientais”, explica Guilherme Reis Pereira, pesquisador do CRN/INPE.
O estudo mostra que a seca não afeta de forma homogênea os municípios do semiárido por causa da distribuição irregular das chuvas entre as microrregiões e, também, pela disponibilidade de reservatórios e existência das bacias hidrográficas.
Os municípios do Ceará se destacam com maior capacidade de adaptação em virtude da existência da bacia do rio Jaguaribe e grandes reservatórios.
“O acesso aos recursos hídricos coloca os municípios do leste do Ceará e oeste do Rio Grande do Norte em situação de menor vulnerabilidade por utilizarem um sistema de irrigação, onde a diversificação de produtos e o plantio de frutas compensam a queda da produção de milho, feijão e mandioca, que são culturas predominantes na agricultura familiar. Por outro lado, mapas de exposição e sensibilidade apontam uma alta vulnerabilidade na maioria dos municípios do Seridó potiguar e do oeste da Paraíba, que é a região mais seca do estado e teve grande redução da produção agrícola e do rebanho”, explica o pesquisador.
Resultados parciais do mapeamento do CRN/INPE mostram queda da produção agrícola na maioria dos municípios pesquisados. Nos locais onde a população rural é maioria, com mais de 30% de pessoas ocupadas na agropecuária, o índice de sensibilidade tende a ser mais alto, como nos municípios do Piauí.
O índice de vulnerabilidade é menor, principalmente, onde há irrigação, diversificação de produtos e regularidade de chuva acima dos 500 mm por ano.
“Nestes municípios a queda da produção agrícola não foi tão elevada entre 2011 e 2013.Em Lagoa Seca (PB), a queda da produção agrícola e pecuária foi muito baixa em razão de uma média de chuva de 800 mm no período. Além disso, as comunidades da microrregião da Borborema, na Paraíba, recebem capacitação de organizações não governamentais para desenvolver a agroecologia e estabelecer mecanismos de adaptação às condições ambientais, como o banco de sementes nativas que foram selecionadas conforme a produtividade em tempos de seca”, diz Guilherme.
Os mapas podem ser visualizados no endereço:
http://www.geopro.crn2.inpe.br/vulnerabilidade.htm