O Conselho de Ética da Câmara instaura nesta terça (3) o processo que vai analisar o pedido de cassação do mandato do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A partir de então, com a escolha do relator, começam a valer os prazos para apresentação de defesa, depoimentos de testemunhas e elaboração do relatório final.
O primeiro passo é sortear três nomes entre os 18 membros efetivos do conselho contra os quais não há impedimento para relatar a proposta. O deputado não pode ter presidido o conselho, ser do mesmo partido ou Estado do acusado nem da sigla que entrou com a representação.
Caberá então ao presidente do conselho, deputado José Carlos Araújo (PSD-BA), escolher um dos sorteados.
O relator pode fazer um relatório preliminar pela inépcia do caso, o que o faria ser engavetado automaticamente, a não ser que haja recurso ao plenário com assinatura de um décimo dos deputados da Casa –pelo menos 52.
O presidente do conselho disse nesse domingo (02) que será um dos primeiros a assinar um desses recursos se for necessário.
Nos bastidores, fala-se que, antes da escolha, Araújo conversará com os três candidatos e averiguará qual tem mais chances de levar o caso até o fim. O presidente do conselho não quer deixar o processo acabar no início.
Após sua instalação, o Conselho de Ética deve notificar o acusado, que terá dez dias para apresentar defesa. Depois, o relator tem 15 dias –prorrogáveis por mais 15– para ouvir testemunhas e elaborar o relatório final.
Se o resultado do processo for pela cassação, o acusado terá cinco dias úteis para recorrer à CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), que analisará se o Conselho seguiu o regimento e a constitucionalidade das decisões.
Segundo aliados, Cunha irá usar todo o tempo garantido pelo regimento. Araújo já alegou dificuldades para comunicar ao peemedebista a data de início da análise.
Protestos
Grupos contrários a Cunha picharam a residência oficial da Presidência da Câmara nesta segunda (2). Asfalto, guarita e placa de identificação foram pintados com a frase "Fora, Cunha". Cerca de 400 pessoas foram ao ato, segundo organizadores. A segurança estimou cem.
Clima adverso no STF
Em almoço com um amigo, no último domingo, um ministro do STF revelou-se “impressionado” com a evolução das investigações sobre a corrupção atribuída ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Sem antecipar o voto, disse estar convencido de que haverá maioria no Supremo para converter o presidente da Câmara em réu nos processos em que é acusado de receber propinas provenientes da Petrobras e de manter contas bancárias clandestinas na Suíça. Nas palavras do magistrado, vai se consolidando no Supremo um “ambiente adverso” para Cunha.
O ministro da Suprema Corte contou ao interlocutor que, além da fragilidade processual, um outro fator contribuiu para a formação da atmosfera negativa que rodeia Cunha. Mencionou as notícias sobre o hipotético poder atribuído ao governo Dilma Rousseff para interceder em favor de Cunha junto a ministros do STF. Em privado, alguns ministros consideraram insultuosas as insinuações. Sobretudo porque o Planalto não as desmentiu.