26 ABR 2024 | ATUALIZADO 18:29
POLÍCIA
Da redação
25/06/2016 19:30
Atualizado
14/12/2018 07:38

A Palmatória de Diversas Faces e a Operação ?Os Intocáveis?

Artigo do especialista em segurança pública Ivênio Hermes esclarecendo didaticamente outro artigo que escreveu sobre a Operação "Os Intocáveis" e foi mal interpretado

Por Ivenio Hermes

Era dia de sabatina, uma prática da escola que consistia em fazer várias perguntas sobre a tabuada, uma cartilha que ensinava os primeiros passos da aritmética com operações de adição, subtração, multiplicação, divisão, enfim, as famosas contas. Mas por trás dessas perguntas havia um ato cruel.

Na sabatina, que acertasse as contas tinha o direito de bater no coleguinha que errava com uma peça de madeira chamada palmatória. Numa das primeiras sabatinas nas quais participou, certo aluno se destacou, e a ele foi dada a oportunidade de usar a palmatória nos coleguinhas que erravam. Mas ele não quis, e recebeu a informação de que se não desse a palmada, receberia a palmada.

Onde estava o propósito daquele sistema de educação? Era preciso aprender para não apanhar, e a recompensa por aprender era a oportunidade de espancar os outros. Como vencer esse sistema, se acertasse era obrigado a bater, se não apanhava, se errasse apanhava...

Certo dia, a professora ensinava a fazer uma operação no quadro, e por um motivo qualquer, ela não realizou a multiplicação correta, e imediatamente o aluno diferente disse, “Se fosse na sabatina a senhora iria levar uma palmada”.

Com sua autoridade desafiada, a professora foi até a parede onde a palmatória ficava pendurada e deu duas palmadas no aluno por tê-la desrespeitado, e assim o respeito pela dor foi ensinado.

Ao escrever o texto “As Dores Colaterais”, com o objetivo de mostrar as dores dos que sofrem colateralmente, ou seja, famílias de policiais desonestos e policiais honestos, não havia nenhum propósito de defender grupos de extermínio, de fazer defesa de policiais corruptos, nem de me imiscuir em confrontos de classes, nem tampouco ainda, de apoiar instituições em detrimento de outras em guerras de vaidades. O objetivo foi mostrar que não estamos preparando direito nossos encarregados de aplicar a lei, precisamos ensinar direitos humanos na prática e não colocarmos uma palmatória de diversas faces nas mãos de pessoas que deveriam ser nossos defensores e não nossos algozes, ou bate ou apanha.

Aos policiais assassinos se deve a punição correta, mas aos honestos se deve o respeito por arriscarem suas vidas que quando saem para trabalhar, se despedem de suas famílias, sem nem perceber que talvez aquela seja a última vez que estão juntos.

O nascedouro da prestação do serviço público é preparar o homem para ser um servidor, e não um guerreiro habituado a pegar a palmatória para atingir a outro, seja por razões do estrito cumprimento do dever legal, seja por corporativismo, seja por justiçamento, seja por quaisquer interesses pessoais, classistas ou outro motivo escuso.

Quem não sabe corrigir e educar, usa qualquer motivo para impor sua vontade, se torna soberano de suas ideias e não aceita nenhuma crítica ou contribuição para melhorar. E estamos aqui neste mundo para servir e só servimos se melhoramos a qualidade de nossos serviços.

Fui criticado por ter escrito o texto “As Dores Colaterais”, cuja intensão foi resgatar a importância do serviço de inteligência no aparelho de segurança pública, sendo usado inclusive em corregedorias para que ajam com celeridade, que investiguem realmente as denúncias, agindo de forma proativa e sem prejulgar. Quem já leu meus textos sabe que defendo a paz e a harmonia e jamais defenderia exterminadores, criminosos, violadores de direitos, torturadores, assassinos, corruptos...

Também tentei sugerir que a doutrina ensinada ao policial mude desde o seu cerne. Para lembrar o que já escrevi em inúmeros outros artigos e textos: que é preciso parar de treinar o policial para responder a sociedade como se fosse um agente vingador, incitados a agir com os “heróis policiais” de filmes americanos, o anti-herói que usa a palmatória sem questionar quem ele está ferindo e porque fere...

Espero que as conveniências de cada um sejam colocadas de lado, que reflitamos sobre todo nosso sistema de inteligência e ensino em segurança pública, do contrário, esse texto servirá apenas como uma palmatória de diversas faces, usada para ferir, na medida da interpretação egoísta de cada um.

Vincit omnia veritas!

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