Três ou quatro noites por semana Sandra Simione se arruma no final da tarde com o marido. Os dois pegam a moto cinquentinha que possuem e partem do conjunto Vingt Rosado, onde moram, para o seu novo local de trabalho: a Praça de Convivência em Mossoró. Entre os bares, restaurantes e o público que frequenta o local, Sandra conseguiu uma alternativa para o lar que estava sem nenhuma renda depois que ela ficou desempregada um ano atrás.
Sem outras opções por causa da idade de 53 anos que a distancia de algumas oportunidades de trabalho, Sandra montou uma caixa de doces e partiu, com um sorriso que esconde a sua luta, para tentar o pequeno lucro mensal que lhe ajuda a colocar a comida na mesa e garante o sustento dos seus dois filhos que precisam se dedicar aos estudos.
Investimento no estudo dos filhos e sonho com seu próprio curso universitário. Sandra não parou de sonhar. Inscreveu-se para o Enem e sonha com a faculdade de Turismo e também em rever a família que mora no Rio Grande do Sul e que não vê há 30 anos.
Nem todas as noites de venda na praça são fáceis. Com o marido sem renda e sem aposentadoria e ainda vivendo o desafio de alguns problemas de saúde, Sandra já teve que voltar para casa depois de uma noite de trabalho com apenas R$ 10 no bolso. Já outras noites são melhores e a ex-funcionária da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern) retorna satisfeita tendo conseguido já apurar cerca de R$ 120.
Entre os altos e baixos, a renda mensal da família fica em torno de R$ 500,00 mensais. “Aproveitar minha experiência com vendas foi à maneira que consegui para me sustentar”, conta à equipe do jornal Mossoró Hoje. O valor é a metade do que a vendedora ganhou enquanto trabalhou como Auxiliar de Serviços Gerais durante 16 anos consecutivos na Universidade do Estado do RN.
Após perder o emprego, surgiu a dificuldade de ser recolocada no mercado por causa da idade. Mas Sandra não desistiu. “Na época houve uma substituição na Uern por pessoas mais jovens e de uma hora para outra me vi sem ter como sustentar nossa família”, conta.
No dia em que a equipe deste jornal a encontrou para a entrevista, Sandra estava triste. Chuva leve que banhava a noite em Mossoró afastava o movimento de pessoas no local costumeiramente mais movimentado. “Hoje está fraco. Ainda não vendi nada”, falava com ar de um desânimo que demonstrava não poder permitir que a abatesse.
A mulher de rosto amistoso e sorriso fácil aos poucos faz amigos entre os frequentadores da Praça de Convivência, a quem sempre expõe com orgulho a história dos dois filhos, um que aos 17 anos é aluno de eletrotécnica do IFRN e o outro que aos 19 anos de idade mora na casa do estudante em Natal, onde é aluno do curso de Engenharia Elétrica da UFRN.
Mas o futuro que busca para os filhos, Sandra também acredita para ela mesma. Falando de uma amiga professora que a incentiva, lhe presenteia com livros e estímulo para a vida, contou com alegria da suplência que ficou no vestibular de Biologia e da nova tentativa já na próxima edição do Enem, onde tentará seu ingresso para o curso de Turismo. “Eu acredito em Deus, quando oro sei que Deus coloca no meu caminho pessoas que eu nunca vi, mas que de repente me dão ajuda e apoio moral”, declara.
A vida dessa paranaense, que já mora há 18 anos em Mossoró, não tem sido fácil. Penúltima filha de 12 irmãos, Sandra perdeu os pais quando tinha 10 anos de idade. A mãe vítima de infarto e o pai vítima de acidente pouco tempo depois. Não conseguiu sentir o apoio e a união dos irmãos para que uns cuidassem dos outros após a perda dos genitores. “Minha família é de pessoas ignorantes, trabalhávamos na roça, cada um teve que se virar”.
Uma fase tão desafiadora e difícil de descrever que Sandra diz que sua salvação foi a religião. Aos 17 anos, ela encontrou a Federação das Mulheres para a Paz Mundial. “Se não fosse essa associação, talvez eu estivesse perdida”, desabafa em meio às lembranças difíceis.
Da adolescência no Paraná, Sandra seguiu para São Paulo onde encontrou o marido com quem se casou e seguiu para o Nordeste. Seu primeiro destino foi à cidade de Recife, onde teve o primeiro filho. De lá veio para Mossoró. Apesar das dificuldades encontradas ela não desanima e revela um imenso amor pelos mossoroenses.
“Amar é servir. Nunca vi um povo como o daqui. As pessoas dessa cidade têm me servido muito. Não tenho emprego, me sinto muitas vezes um ninguém. Mas aí lembro que tenho amigos que são pessoas muito boas e assim recomeço minha batalha acreditando que Deus sempre abrirá novos caminhos e nós estaremos aqui”, conclui.