“Eu tinha um primo que era como um irmão para mim. Ele foi assassinado com um tiro por conta de uma dívida. Estão matando por nada, por motivo banal”. A declaração do agricultor Francisco da Costa* reflete a realidade vivida por muitas famílias mossoroenses, que perderam seus entes queridos, ainda na juventude, para o crime.
Dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública e Defesa Social do Rio Grande do Norte (Sesed) apontam que o número de assassinatos de jovens tem aumentado nos últimos anos em Mossoró.
Somente no primeiro semestre deste ano houve um aumento de 78% no número de jovens mortos com idade entre 12 e 29 anos. Dos 128 assassinatos registrados no município este ano, 84 vitimaram jovens. Em 2014 foram 63 mortes, contra 47 em 2015.
Os números são ainda mais assustadores quando levados a nível estadual. Dos quase mil homicídios já notificados nos seis primeiros meses do ano, mais de 60% foram contra jovens.
Para o pesquisador e especialista em segurança pública Ivenio Hermes, os dados preocupam e estão relacionados, diretamente, a ineficiência do Estado em promover políticas públicas que funcionem.
“O aumento da mortandade da juventude está diretamente ligado às suscetibilidades que as lacunas das políticas públicas deixam. É a inexistência de programas sociais de inclusão dentro da esfera estadual, as escolas com maiores atrativos, o desemprego, as condições de moradia e as drogas”, destacou.
(Foto: Cedida)
Ivenio ressalta que o quesito drogas precisa ter uma atenção maior e ser tratado como uma política de saúde. “A política do combate às drogas é geralmente feita por meio de combate ao tráfico, e cada vez que um traficante é tirado das ruas, dois aparecem para lutar pelo espaço vago, e o resultado é a morte”, frisa.
“O estado e o município deveriam tratar o tráfico como uma política de saúde relacionada à demanda de mercado, ou seja, quanto mais usuários, mais tráfico vai existir. Se houver uma preocupação em tratar o viciado para tirá-lo do vício, teremos menos usuários para demandar as drogas. Erramos em tratar o tráfico como uma guerra, onde a maior vítima é a juventude, vítima direta e indireta desta guerra”, acrescenta o pesquisador.
A escola também tem fundamental importância no combate à criminalidade. Ela deve criar uma interdisciplinaridade entre o assunto das drogas com os conteúdos apresentados em sala de aula.
“É um equívoco falar das drogas e seus efeitos tanto sociais, quanto criminais e quanto de saúde, apenas durante eventos da escola. É assunto para ser comentado e tratado diariamente”, conclui Ivenio Hermes.