10 MAI 2024 | ATUALIZADO 18:26
Will Vicente
27/02/2015 22:39
Atualizado
13/12/2018 12:48

Ageism é para os fracos

Sobre quando somos maiores que qualquer tipo de preconceito. Artigo do jornal inglês The Guardian. Madonna.

        
Sobre quando somos maiores que qualquer tipo de preconceito.

Artigo do jornal inglês The Guardian.

 

Não é de admirar que Madonna levou sua queda no Brit Awards na esportiva – Ela lida o tempo todo com algo muito pior que isso, somente pelo fato de ser uma mulher de 56 anos de idade.

Madonna esteve no Brit Awards, (quarta-feira, 25 de fevereiro), realizando a performance de seu novo single Living for Love, totalmente no estilo “I will survive”, quando o acidente aconteceu.

“Levou-me para o céu, deixou-me cair no chão…Levantou-me e me viu tropeçar.” Ela profetizou na letra e assim aconteceu. Não foi uma simples queda ou tropeço. Não foi engraçado. Foi aterrorizante e tão brutal que o público ficou em silêncio. Foi o tipo de acidente que quebra pescoços, danifica o cérebro e assombra os pesadelos dos artistas do Cirque du Soleil.

A capa da Armani que Madonna usava quando ela se aproximou do palco foi amarrada muito apertada e Madonna não conseguiu desfazer o nó antes de os dançarinos a puxarem.

Madonna foi empurrada pelo pescoço e voou pelo ar numa altura de três degraus, aterrissou com força na base do palco e por uma fração de segundos não se mexeu.

Assistindo em casa, meu coração parou. Isso é tudo o que é necessário para matar uma rainha? Uma capa Milanesa? As hashtags odiosas #shefellover, #Fallenmadonna, imediatamente começaram a poluir o Twitter:

“Eu entendo, Madonna. Minha avó é exatamente assim”. “Eu espero que a vovó esteja bem. Um quadril quebrado na idade dela poderia ser uma sentença de morte.”

Mas Madonna também cantou assim: “Eu peguei a minha coroa, coloquei-a de volta na minha cabeça. Posso perdoar, mas eu nunca vou esquecer”.

Depois de uma queda como essa qualquer outra pessoa teria rolado no chão gritando de agonia e, em seguida, procurado alguém para culpar. Ela procurou forças em um poder superior: ela mesma.

Mostrando sua famosa força mental e física, ela se levantou, seguiu com a coreografia e a música, sem uso de playback, assim como aconteceu nos vocais isolados de sua performance no Grammy, e terminou a performance de maneira triunfante.


Essa é a Madonna que eu sempre amei, desde os passos de flamenco de La Isla Bonita. Dizem que não se deve acreditar nos exageros sobre alguns artistas, mas com algumas pessoas, o mito é real.

Madonna tem mística, seu carisma é a prova de balas e isso é um fato raro. Ela nunca permitiu ser rotulada pelos homens e sempre defendeu as mulheres, dizendo em sua próxima entrevista de capa da Rolling Stone que “as pessoas gostam de colocar as mulheres umas contra as outras”.

Mas não estou falando apenas sobre sua capacidade individualista de sobrevivência, sobre sua camaradagem com as outras mulheres ou sobre outros detalhes superficiais, como o estilo de Vogue ou “Procura-se Susan Desesperadamente”.

Madonna não é digna de respeito simplesmente por sua capacidade de sobrevivência, sua insolência e sua incrível capacidade de trabalhar todos os ângulos dos negócios e do capitalismo. Ela também tem um talento artístico brilhante, que de fato quebra recordes em seu verdadeiro dom, que é a música. Ela tem feito grandes álbuns ao longo de sua carreira, incluindo Like A Prayer, Ray of Light e Confessions on a Dancefloor, e o mais recente, Rebel Heart, está entre eles. Ela está “de volta ao jogo”, como diz o The Telegraph.

Mas quantas vezes mais Madonna terá que provar que é uma jogadora digna? Quantas vezes ela terá que quebrar recordes com as turnês mais lucrativas da história, flexionando seu corpo com mais habilidade que qualquer outra pessoa no planeta?

Muitos de seus colegas já prestaram homenagens às suas habilidades excepcionais como produtora, compositora e letrista; mas sempre que Madonna trabalha com um produtor do sexo masculino é ele quem acaba com todo o crédito.

Quando suas habilidades não são ignoradas, imputadas a homens, ou dadas como deixadas no passado, alguém surge e as zomba. Eu amei o filme WE, comparando-o favoravelmente ao banal O Discurso do Rei, com seu Rei bobalhão, onde as mulheres tinham apenas algumas poucas falas entre si e Wallis Simpson era apenas uma megera depravada.

Assisti a WE com um amigo historiador que ficou impressionado com sua precisão de detalhes. Eu amei os personagens femininos, a estética, a realidade triste por trás do romance. É um filme feminista, psicologicamente pesado.

Mas ela foi brutalmente ridicularizada nas críticas ao filme. E esse riso maldoso de seus críticos está cada vez mais alto e mais cruel, como mostram as reações a sua queda no Twitter.

A longevidade de Madonna sempre foi admirada, mas está agora sendo sabotada pelos editoriais, que nunca deixam de mencionar a sua idade, como se fosse algo de que ela devesse se envergonhar. Fico chocado com o desprezo, o escárnio desbocado e a maneira depreciativa como Madonna é tratada, de forma grosseiramente visceral: o ódio a sua carne, forma física, sua confiança sexual, seu atletismo, sua ambição, sua preferência por rapazes latinos, a maneira como ela alterna prepotência e vulnerabilidade, romantismo e erotismo lúdico, e sua capacidade de desempenhar seu trabalho e sua fome por sucesso. Todas as coisas que já foram admiradas nela agora são usadas para atacá-la e fazê-la parecer ridícula, monstruosa ou desesperada.


A misoginia não é novidade para Madonna. Ela é uma sobrevivente de estupro e uma sobrevivente de agressão doméstica. O que poderia ser pior que isso?

Madonna tem apenas 56 anos de idade. Ela está no auge de sua vida, ela tem poder, talento, experiência e sabedoria, além de sua inteligência natural e vigor. Ela está prestes a lançar seu 13º álbum – um dos melhores de sua carreira.

As coisas que o mundo a obriga a fazer – envelhecer graciosamente, retirar-se de cena, aposentar-se, rastejar e morrer – trazem consigo um desejo de envergonhar, destruir e negar essa mulher que se atreve a se manter ativa, vocalmente e visivelmente, politicamente ativa e relevante.

A fim de resistir a isso tudo, uma pessoa teria que ser sobre-humana. Felizmente, Madonna é. Mas por que alguém deveria ter que engolir o ódio irrestrito do mundo, quando ela quer apenas ser lembrada por seu brilhante talento artístico?

 

Bidisha

Traduzido para o principal site de fãs brasileiros de Madonna, o Madonnaonline, por Raphael Pechir. Sobre o disco que será lançado dia 9 de março, falaremos depois.

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