16 ABR 2024 | ATUALIZADO 18:23
Entrevista
Da redação
13/06/2015 09:13
Atualizado
14/12/2018 06:39

Quando vi aquela menina transex crucificada achei super normal diz casal de Francisco

Francisco Bezera conta em A ENTREVISTA como ficou famoso há 20 anos ao conquistar uma jovem paulistana na TV, há 5 anos depois por ter divulgado um video no Youtube onde leva um choque elétrico e agora por ter gravado um video e escrito um artigo científico contando a história de uma marisqueira de 81 anos em Porto do Mangue
Valéria Lima

Francisco Bezerra Dantas Filho, de 36 anos, natural lá do pé da serra em Pau dos Ferros, no Alto Oeste do Rio Grande do Norte, ficou nacionalmente conhecido ao participar do Programa em " Em Nome do Amor", apresentado por Silvio Santos, no TVS, hoje SBT, em 1994. No caso dele, foi namoro e ficou 6 meses sendo acompanhado pela televisão.

Francisco conta esta história em A ENTREVISTA desta semana no Portal MOSSORÓ HOJE.

Famoso, retornou para Pau dos Ferros em 1996, onde disse que namorou muitas meninas. Depois se especializou em costura industrial, aprendeu a cozinhar e se casou, não com uma de tantas namoradas que teve, e, sim, com um homem. Em video, ele revela como chegou para a mãe e disse que estava apaixonado por um homem, o ator Chagas Santos, de Porto do Mangue. Os dois foram os primeiros a oficilizar o casamento na região e o primeiro a ter oficialmente o direito a adoção.

Se engana quem pensa que esta foi a grande aventura de Francisco Bezera. Esta é só a primeira parte. Francisco, ao lado de Chagas Santos conta que durante uma brincadeira na Serra do Mel, onde moravam, levou um choque na tomada quando imitava a cantora americana Beyonce e o video teve mais de 2 milhões de acessos no Youtube, tendo sido convidado para participar de vários programas de TV, apresentados por Eliana, Marcos Mion, entre outros.

Em função deste vídeo, foi convidado para gravar comerciais em rede nacional.

Se engana de novo quem pensou que a história do casal de Francisco fica por aqui. Ele conta nesta entrevista, que, como aluno do primeiro período do Curso de Licenciatura em Educação no Campo, na Universidade Federal Rural do Semiárido, escreveu um artigo, com orientação do professor/mestre Luiz Gomes, e fez um video contando a história de uma senhora marisqueira, em Porto do Mangue, que já foi apresentado em pelo menos seis eventos científicos e terminou sendo convidado para receber um treinamento na estrutura da TV Globo, no Rio de Janeiro, e gravar novamente o documentário com boa estrutura e exibi-lo na TV Futura.

Veja também em A ENTREVISTA a opinião do casal sobre a polêmica do momento: a crucificação de cristo na Parada Gay de São Paulo, que despertou um forte debate nas redes sociais e nos veículos de comunicação. "Quando vi aquela menina transex crucificada, achei super normal", diz Chagas Santos, explicando que a simbologia usada foi muito feliz, pois retrada a crucificação diária que sofre as minorias pelo mundo.

"Eu vi que muitas pessoas se aproveitaram da cena, tanto pelo lado bom como pelo lado pejorativo para se promover em cima de uma imagem. As pessoas todo ano buscam algo para denegrir ou algo só para falar. Observando tudo de forma geral, eu acho que é tudo muito leve", complementa Francisco Bezerra.

Segue-a;

 

MOSSORO HOJE - Na juventude, você se inscreveu num programa de TV apresentado na época por Sílvio Santos, se não me engano, o nome do programa foi “Em Nome do Amor”. E terminou dando namoro, como foi esta história?

FRANCISCO BEZERRA – Eu morava em Pau dos Ferros. Silvio Santos na época tinha um Programa chamado Namoro ou Amizade. Eu escrevi uma carta para o programa, que na época era um grande sucesso. Devia ser a maior audiência da TV. Fui convidado para participar do programa “Em Nome do Amor”. Eu tinha 16 ou 17 anos. Eu sai do pé da serra e fui para o programa e por sinal foi “namoro”. As gravações foram na cidade de São Paulo. Na época eu não conhecia muitos lugares. Nós gravamos de novembro de 1994 e fiquei seis meses sendo acompanhado pela TVS, que hoje é SBT. Eu namorei Silvia, que era dos Jardins, de São Paulo.  Os encontros foram ótimos. Nunca tinha nem visto banheiras de hidromassagens, nunca tinha usado nada sofisticado e aconteceram muitos episódios engraçados durante as gravações porque tudo era muito novo para mim.

Um episódio engraçado....

Você ficou nacionalmente conhecido e quando retornou teve tratamento de estrela em Pau dos Ferros?

Francisco Bezerra - Na época eu era a pessoa mais famosa que existia em Pau dos Ferros. Não existia outro. Eu era um garoto e as meninas ficavam loucas, loucas, loucas... Quando tinha bingos eu era anunciado. Nas festas eu não pagava senhas. Era atração no Edem Clube. Era convidado para festas de debutantes e casamentos. Era a presença vip.

Nesta época você estava com mais ou menos 20 anos. E com esta idade você já havia contado para sua família e a sociedade em geral de sua homossexualidade?

Francisco - Não tinha me declarado. Eu sempre soube que era. Mas como eu era do sertão pé de serra, eu não podia jamais dá pinta para minha família que era. Então, mas eu sempre soube que era homossexual desde pequeno. Até os 20 anos, eu tive que me conter e viver realmente alimentando esta ideia de meus pais e da minha família. Namorava todas as meninas que passava em minha frente. Fazia coleção de namoradas. Os rapazes diziam assim: “Menino, este cara, o povo diz aí que ele é afeminado, florzinha, havia outras denominações na época, mas eu não deixava margem para este tipo de assunto. Então, eu sempre procurava viver meu lado heterossexual e me jogava nos braços das meninas.

Depois que retornou para Pau dos Ferros você passou a trabalhar com o que?

Francisco - Tinha um programa romântico no rádio e entrei no Grupo de Teatro do Campus Avançado da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte em Pau dos Ferros. Isto só fazia aumentar minha popularidade com as meninas. Eu sempre trabalhei, sempre fui independente. Eu me profissionalizei em costura industrial em Natal. Lembro que antes mesmo me tornar conhecido na televisão, eu com 12 ou 13 anos já trabalhava com costura industrial. Sabia e gostava muito de fazer. Era um menino simples, mas que já sabia costurar. Apreendo tudo muito fácil. É só eu me interessar. Recebi treinamento pela Sulfabril. Apreendi a costurar jens no treinamento que me profissionalizei em Natal. Daí fui trabalhar na Porfírio Confecções, que é uma empresa de mais de 20 anos. No início fui eu que montei os primeiros layouts de costura na região. Eu garoto e ensinei as senhoras de 30 e 40 anos como costurar nesta época.

Quando você resolveu assumir sua homossexualidade e como aconteceu?

Francisco - Eu só resolvi dizer primeiro a mim que gostava de rapazes, assumir em definitivo, quando eu sai de casa. Eu queria que eles respeitassem como eu era, com o que eu fazia, com meu jeito de ser. Eu fui morar em Natal. Mas primeiro eu sair de Pau dos Ferros e fui para São Francisco do Oeste e depois fui morar em Natal. Em Natal profissionalizei, avancei nos cursos de design de modelagem industrial. Entrei na então escola Clóvis Moda, que na época era um curso técnico e depois se tornou um curso superior de moda. Eu nunca me acostumei com cidade grande. Eu sonhava em adquirir algum conhecimento e voltar para minha comunidade.

Como conheceu seu marido Francisco das Chagas?

Francisco - Foi num dos eventos de moda que teve numa boate nova em Natal. Eu nunca tinha ido a festas de boates em Natal. Achava estes locais agressivos. Foi lá que conheci Chagas, que já era artista popular. Ator de teatro. Já tinha participado de Auto da Liberdade e Chuva de Balas no País de Mossoró, entre outros grandes espetáculos. A gente se conheceu, pois, nós queríamos algo em comum, né?. Apesar das pessoas apontarem a promiscuidade dos gays, eu queria um relacionamento de respeito, algo que eu pudesse sossegar e fosse a imagem de minha família. Eu não queria ser apenas mais um gay jogado, apelando ou se escondendo. É tanto que o respeito que tenho hoje de minha família é justamente porque me portei sempre como se fosse uma família. A família para mim algo muito importante. O sexo ou a sexualidade ela está em segundo plano. Primeiro a família. Eu queria ter minha casa. A questão do respeito também é sempre maior. Sempre será.

Chagas, você garoto também já tinha uma história, uma relação também com a televisão. Como é esta história?

Chagas - Foi em 93. Eu fui um dos primeiros alunos do Telecurso Segundo Grau no município da Serra do Mel, mostrado na TV Globo. Em seguida me tornei instrutor do programa. Nesta época eu fazia teatro de rua. Eu havia ido para a Serra do Mel estudar. Lá em Porto do Mangue era vila de Carnaubais, não tinha nada além do primário. Só tinha até 4ª série. Como eu gostava de estudar, repetir a 4ª série 4 vezes. Meus pais não queriam deixar eu sair de casa para estudar em outro lugar. Daí em 1993 eu fui estudar na Serra do Mel, foi quando estava iniciando o Telecurso Segundo Grau. A Globo, inclusive, está até gravando agora um documentário sobre as primeiras turmas do Telecurso e já gravamos na Serra do Mel e já estivemos no Rio de Janeiro com as equipes de gravações. Quanto eu conheci Francisco eu já era assumido. Já sabia o que queria.

De Natal vocês vieram morar na Serra do Mel

Francisco - A gente se afinou na ideia da família. Daí viemos morar na Serra do Mel, a cidade dele, pois havia me deixado muito curioso, no sentido do projeto em si. Trata-se de um município projetado por Cortez Pereira, com suas vilas rurais e a administrativa. Parecia muito promissor. Outro fator que me atraiu na Serra do Mel foi a diversidade cultural. Foram assentados no município mais de mil famílias que vieram de várias regiões.

Vocês dois gays, casados, numa época que com certeza poucos aceitavam e talvez ninguém aceitasse numa cidade pequena. Como foi viver na Serra do Mel como casados sendo vocês dois do mesmo sexo?

Francisco - É preciso ressaltar que na Serra do Mel existe muitos gays garotos. Porém a proposta da gente mudou a cidade. Observe que Chagas já era da cidade. Tinha respeito, era professor, menino estudioso, educado... Isto foi uma porta para minha chegada junto com ele e conhecer e explorar a Serra do Mel sem encontrar grandes adversidades. A nossa chegada não foi tão chocante no sentido pejorativo. Para a grande maioria imagino que tenha sido curioso. Teve aquele burburinho na rua. As pessoas comentavam sobre o namorado de Chagas. Mas nós chegamos já como família. Chegamos, acertamos e já fomos morar numa casa, normal, como casal mesmo. Fui muito bem recepcionado pela família dele. Maria Veranir, irmã de Chagas, já era professora, me recebeu na casa dela. Daí começamos nossa trajetória familiar.

Chagas, sua família já havia aceitado numa boa sua homossexualidade ou também teve que se esconder durante sua adolescente como fez Francisco Bezerra?

Chagas - Não precisou conversar. Naturalmente todos sabiam, pela forma de lidar comigo. Meu pai, meus irmãos, todos sabem quando tem um gay na família. Todos. Não tem como se esconder, pois por mais que você se esconda, mas é reconhecido e identificado como tal. No meu caso foi tudo aceito naturalmente.

Francisco Bezerra, seu pai agricultor, homem do sertão, sua mãe também. Como foi que eles receberam a notícia que o jovem que namorava todas as meninas da cidade estava casado com um homem?

Francisco - Minha mãe é semianalfabeta. Ela tem só o “mobral”. Meu pai é bruto, totalmente. Tinha tanto preconceito que se ele ligasse a TV e tivesse passando a Globeleza, ele desligava. Achava aquilo um absurdo. Isto em função da criação dele, a época e a região que ele viveu...

...Ela faleceu há quatro anos. Sinto ela todos os dias. A partir deste momento nada foi mais importante para minha vida do que a presença dela perto de mim.

Chagas, no seu caso, como foi?

Chegas - Minha mãe já havia falecido. Só tinha que contar a meu pai. Quando eu cheguei e as pessoas perceberam que não era nada de amizade e sim pessoas ligadas intimamente, então teve aquelas falas, meio afastadas da gente, mas eu não cheguei para contar aos meus pais. Elas foram aceitando naturalmente. O modo de se comportar, agindo naturalmente que não havia diferença. Aceitaram. Não me colocaram contra a parede para fazer mil perguntas. Não teve nada disto.

Aqui na região, ao que se tem conhecimento, vocês foram os primeiros a oficializar o casamento logo após sair a decisão do Supremo Tribunal Federal. Confirmam isto?

Francisco - Foram duas decisões frutos das nossas lutas. A união estável no cartório nos dá alguns direitos, como aposentadoria. Na Serra do Mel, como já éramos bem conhecidos, tínhamos amizades com a menina do cartório e ela mesmo nos avisou que havia chegado esta possibilidade. Nesta época nós já tínhamos o respeito de toda a população. Coordenávamos o projeto Meninos da Serra, que é patrocinado pela Petrobras. As famílias confiavam seus filhos aos nossos cuidados.

Casados, casa, uma certa estrutura, veio a adoção?

Francisco - Aí veio Fernanda. Estamos provando por A mais B que os casais gays criam seus filhos com respeito, muita dedicação. Até agora não vi nenhuma notícia na mídia ou qualquer outro local apontando que casais gays criem errado seus filhos. Ou, que tenha abandonado, que trate mal seus filhos. Muito pelo contrário, talvez a gente seja mais rígida na criação, se cobre mais no sentido de estar educando do que os casais tradicionais. A gente está vendo que estamos criando aquele ser para o mundo e não é para gente. Tem disciplina. Observe que não vi nenhum defeito minha mãe me criar me dando umas cipoadas de vez em quando e colocando tarefas para mim fazer quando era criança, adolescente, arrumar a cama, armar e desarmar a rede, coisas assim. Aprendi com isto. Mas é preciso complementar dizendo que não somos a favor de bater em criança durante a criação. Existe formas melhores para disciplinar a criança e tem sido assim com Fernanda, que está sendo criada para ser uma mulher forte, uma mulher independente, capaz de enfrentar e vencer as diversidades da vida. E isto não se aprende levando só sim na vida. Fernanda está no sétimo ano na escola, tem 12 anos, época da adolescência. Observamos que as tecnologias atrapalharam muito a educação das crianças. Tira a atenção. Paulo Freire diz que a gente não pode ensinar algo que você não é exemplo. Então a gente se flagra com o celular 24 horas e quer impedir uma criança que nasceu dentro desta geração tecnológica de fazer o mesmo? A adoção de Fernanda foi polêmica porque na época da adoção, porque após três anos que estávamos com ela, ainda não tínhamos a guarda oficial para adota-la. Daí entramos na Justiça contra a mãe biológica, que não tinha estrutura para criar. Na verdade, nós queríamos que a mãe criasse a garota bem, mas ela não tinha como. É muito lindo quando a mãe cria seu filho. Mas a mãe não podia, não tinha condições. Era muito nova. Tinha 16 anos. Acho que foi o primeiro caso no Rio Grande do Norte que a Justiça decidiu por conceder a adoção de uma criança por um casal gay. Nós não trocamos o nome dela, colocando nosso nome. Fizemos questão que ela ficasse com o nome e sobrenome da mãe. Nós queríamos tão somente ter a garantia judicial para que ela pudesse ficar sobre nossa guarda e que não havia meios de perde-la ao longo dos anos no sentido de ser tomada por outra família e tudo mais. Fernanda hoje tem 12 anos e está cursando o ensino fundamental.

Fernanda perdeu o contato com a mãe?

Francisco - Não perdeu. A mãe foi embora da Serra do Mel e por uns três ou quatro anos ficou afastada. Mas aí eu convidei ela, que já morava em Brasília e havia vindo para Mossoró, para fazer uma visita lá em casa para criar um laço de mãe e filha. Nós achamos muito justo ela ter este contato afetivo com a mãe. Depois ela foi embora e casou. Foi morar em São Paulo. Hoje raramente falo com ela. Mas Fernanda tem a liberdade de falar com a mãe, uma reclamação, uma dúvida, mas nada que influencie na criação. Acompanhamos tudo na criação de Fernanda. Queria dizer ainda que a mãe num primeiro momento teve este comportamento que terminou perdendo a filha na Justiça, mas ela pode mudar, conforme vai crescendo e rever seus erros.

 

Francisco das Chagas e Francisco Bezerra, nos dias de hoje está rolando uma forte polêmica especialmente nas redes sociais, em função de um gay ter encenado a crucificação de Jesus na última parada gay. Qual sua visão sobre tudo isto?

Francisco - Depois que fiz um vídeo, onde eu imitava a cantora americana Beyonce e levo um choque e terminei ficando também conhecido nacionalmente em função disto (vídeo teve mais de 2 milhões de acessos), sempre sou convidado para participar das paradas gays pelo país, principalmente no Rio e São Paulo. Eu nunca fui. Só estive numa em Mossoró. Eu sempre achei que as lutas têm fundamento. Não são feitas à toa. Algumas atitudes de alguns manifestantes isoladamente não representa o sentimento da maioria dentro de uma manifestação de grande porte como a parada gay de São Paulo. Eu vejo que tem um lado bom e muito leve. Não tenho interesse nenhum fazer publicidade em cima de uma manifestação como aquela que eu sei que é feito com muito carinho e a intenção é realmente de abranger e ajudar. Eu nunca fui ligado a movimentos que busquem os direitos, porém reconheço que muitas lutas nos deram oportunidade de estarmos hoje aqui, vivendo como vivemos e sendo respeitados. É uma luta coletiva. Mas em relação a polêmica da crucificação, do uso da imagem, eu penso o seguinte: eu como ser humano, reconheço que a intenção foi maravilhosa, ou seja, mostrar a crucificação de quem sofre todo tipo de preconceito pessoal, na família, no conjunto... Eu vi que muitas pessoas se aproveitaram da cena, tanto pelo lado bom como pelo lado pejorativo para se promover em cima de uma imagem. As pessoas todo ano buscam algo para denegrir ou algo só para falar. Observando tudo de forma geral, eu acho que é tudo muito leve. Eu acho a fala do Papa Francisco sobre o tema leve, acho a fala do pastor leve, até mesmo porque se fosse diferente cada um fala por si. Hoje, sobre a crucificação achei superleve, não achei nada demais. O que houve foi um marketing exagerado. Geralmente um bobo faz um comentário nas redes sociais e a massa podre o segue. Então eu não vejo motivo que a gente não possa ter seu lado amoroso, o lado bom das coisas. Quem quer criticar por criticar vai sempre ver só o lado ruim e dá publicidade a ele conforme suas intenções ou pretensões pessoais. Existe outras coisas mais importante para estas pessoas estarem preocupadas, como a educação filho deles, a necessidade de serviços de saúde, a necessidade de estrutura de segurança, que a cada dia está pior, não se manifestam. Demonstram até certo egoismo. Realmente as pessoas usam isto para alimentar o ódio. É neste momento que eu me resguardo no meu casulo observando como o ódio é plantado na sociedade e agora com as redes sociais está mais grandioso. Eu publiquei uma nota do meu Facebook e várias pessoas comentaram de forma agradável. Não é que as pessoas tenham que concordar ou discordar. Só pedimos que as pessoas vejam as coisas com um olhar amoroso.

Sua opinião Chagas?

Chagas - A Igreja quer está à frente de tudo e isto sempre foi assim, desde os primórdios. Então, mexer com religião é uma coisa muito perigosa. Sempre agiram assim, querendo ser o certo e muitas das vezes sendo errado. Tem levado da idade média até o século XXI esta imagem de querer dominar as pessoas. Que as pessoas têm que seguir o que eles querem. Quando vi aquela menina transex crucificada, achei super normal. Ela foi criativa em chamar atenção das pessoas, usando visibilidade a questão das pessoas que são assassinadas diariamente em função de sua orientação sexual. Aí ela usou a imagem de Cristo para chocar as pessoas e dizer que nós somos crucificados no dia a dia, a minoria é crucificada. Explicar ainda que o Cristo veio para as minorias, para o leproso, as prostitutas... Ele abraçava todas estas pessoas, os gays, os doentes... Cristo quando veio não foi atrás dos cheirosinhos, dos ricos. Então aquela simbologia da transex foi fantástico, foi muito feliz em trazer este debate para a rua. Para mostrar que Jesus veio para abraçar as minorias. Quando Jesus dizia que era filho de Deus, o que ‘os bem de vida’ diziam? "Este é um idiota, um hipócrita, um imbecil", em dizer que era filho de Deus. Porque Jesus não era igual a eles. Era uma pessoa com certeza queimadinha do sol, mas na pintura aparece lourinho de olhos azuis. Hoje está com toda esta polêmica nas ruas, devido a transex ter feito esta simbologia, eu acredito que eles (alguns religiosos) pregam uma coisa e fazem outra.

 

Francisco Bezerra, como foi esta história que você terminou sendo convidado para vários programas de televisão novamente, com destaque para o programa de Eliane e Marcos Mion?

Francisco –

...Daí o SBT entrou em contato e até achei que era mentira. Fui para o programa de Eliana. Já eram mais de 16 milhões de downloads e mais de 2 milhões de acessos.  Estive três vezes no programa de Eliana. Foi o vídeo mais visto do mês. Foi no programa os Legendários de Marcos Mion, fui no Pânico na TV na época, foi exibido mais cinco vezes no “Programa Fala que eu te Escuto”. Daí fiz outros vídeos, mas só fez sucesso mesmo aqueles mais naturais. Daí desencadeou uma série de apresentações na TV. Até hoje estão me convidando para participar de programas. Inclusive uma agência publicidade do eixo Rio/São Paulo quer usar o vídeo para propaganda de carros. Vamos ver isto ainda. Rendeu bastante.

 

Você vê graça num vídeo onde leva um choque?

Francisco - Eu não vejo graça nenhuma, mas as pessoas gostam. Parei de gravar vídeos, depois que ingressei na Universidade.

Bom, mas foi gravando vídeo, acidental ou não, que vocês dois, Chagas e Francisco, aqui na Universidade Federal Rural do Semi Árido, conseguiram um grande feito, sendo elogiados em vários eventos científicos pelo País, com o documentário “Mulheres da Lama”, o que novamente terminou levando vocês dois de novo para a TV. Conta esta história também...

Francisco - Eu e Chagas tivemos a ideia.

Chagas - Eu nasci lá em Porto do Mangue via aquela senhora catando mariscos. Sempre daquele jeito. Até então eu não tinha olhado ela como uma pessoa muito importante, de grande sabedoria. Na verdade, eu só consegui enxergar aquela senhora na essência, depois que ingressei na universidade. Foi a universidade que despertou o meu olhar. Aqui na universidade encontramos uma questão: pesquisa e extensão. Aí, com as leituras, começamos a perceber que a senhora que cata marisco seria uma grande história, um ótimo objetivo de estudos. Aí eu falei para Francisco que aqui em Porto do Mangue existe uma senhora chamada Terezinha de Jesus, vamos fazer um artigo científico sobre ela, vamos fazer um vídeo e mostrar lá na Universidade, pois isto pesquisa e extensão. Tudo começou daí. Francisco começou a fazer amizades, começou a frequentar a casa dela. Um cafezinho à tarde e ficamos amigos.

Francisco – Dona Terezinha de Jesus nos proporcionou muito conhecimento, muito alegria. Conhecendo ela, conseguimos enxergar o mundo de forma mais humana. Aprendemos a ver e a dá visibilidade a pessoas deslumbrantes que são totalmente invisíveis. São pessoas a margem da sociedade. Pessoas que não são vistas ou reconhecidas por sua condição social. São pessoas que são invisibilizadas por este modelo de sociedade excludente. São Marias, Terezas, Antonias... Daí foi na construção deste artigo científico que entrou o Professor Luiz Gomes, da UFERSA, que nos trouxe o pensamento fantástico de Paulo Freire. Os ensinamentos de Paulo Freire desencadearam em mim um novo mundo. Algo que antes eu não tinha. Tinha a sensibilidade, mas não tinha o conhecimento para explorar, que eu quero agora para a minha vida toda. Com esta leitura conseguimos vê Dona Terezinha de Jesus em sua essência.

Chagas – Tinha dia que eu e Francisco estava no cais do Porto, lá em Porto do Mangue, e eu mostrava a Francisco aquela senhora com seu barco remando com uma força incrível na direção dos mangues, onde coletava mariscos e lenha para cozinhar os mariscos em terra firme. Era muito interessante. Muito impressionante. Procuramos conhece-la melhor, saber como era aquele trabalho tão pesado praticado por uma senhora com mais de 80 anos e tanto tempo. Quando começamos na faculdade e conhecemos os ensinamentos de Paulo Freire, tudo mudou. Conseguimos vê-la com outro olhar, rico em informações e ensinamentos.

Logo de início Dona Terezinha se permitiu fotografar, aceitou fazer o documentário ou foi preciso um processo de aproximação, de conquista?

Francisco – Eu queria que ela se permitisse isto. O nosso interesse claro era estudar aquela realidade, confrontando com as teorias de Paulo Freire. Mas eu não queria construir a ideia de pegar a imagem dela e usar. Era conhecer e dá visibilidade com um olhar educacional. Quando o artigo científico ficou pronto, todos os professores abraçaram a ideia. Ficaram todos admirados como um aluno do primeiro período do Curso de Licenciatura de Educação no Campo nascidos lá no pé da serra, poderiam construir um artigo que grande porcentagem dos alunos da universidade terminam a graduação e não consegue fazer e publicar. No nosso, já é o sexto artigo publicado. Todos neste mesmo viés, buscando dá visibilidade as pessoas invisíveis. Foi bem construído porque foi construído com amizade, com carinho, com a personagem principal se permitindo todo o processo, o que gerou não só o texto, mas também um vídeo muito natural, porque nós passamos a vivenciar a vida de Dona Terezinha de Jesus. Eu fui para o mangue com ela. Eu gosto de fotografia, gosto de filmar e que também contribuiu. Mas o que mais contribuiu para fazer o artigo, foi o conceito, foi a base que construímos aqui na UFERSA. Soma tudo isto ao fato que levamos muito a sério o que fazemos. Procuramos sempre fazer muito bem feito. E isto é algo que quero deixar para minha filha, para minha família, eu quero deixar para todas aquelas pessoas que buscam visibilidade.

Chagas – A reciprocidade ao conhecer mais a fundo a vida Dona Terezinha de Jesus fez nos apaixonar pela história de vida dela consorciado com os pensamentos de Paulo Freire. Daí percebemos que teríamos que contar aquela história antes que ela morresse. Ela está ficando velhinha. Aí não teríamos mais como registrar este conhecimento fantástico sobre o mangue, sobre a vida que brota no mangue.

Francisco - O vídeo/documentário tem 36 minutos. O artigo já foi publicado em eventos científicos com o vídeo retratando vários vieses da vida de Dona Terezinha de Jesus, mostrando lado de mãe, de negra, de mulher, o trabalho, o meio ambiente, onde ela colonizou o mangue sem perceber, de forma natural. Ela retirava a vara para fazer casa de taipas, mas replantava os galhos no mesmo local, fazendo florescer ali uma nova planta, uma nova vegetação e a permanência da vida no mangue.

Chagas - De onde veio esta sabedoria? Daí ter casado tão bem com a ideia de educação de Paulo Freire que nos foi apresentado pelo professor Luiz que estava o tema.

Francisco – Hoje não me vejo fora do curso de Licenciatura no Campo e nem fora da vida do professor Luiz. Ele dá brilho no sentido de estar nos orientando, no sentindo de nos estar proporcionando textos que ele já amadureceu ao longo de sua vivência na academia e dando a oportunidade de conhecer o lado mais humano de Paulo Freire, que tem um olhar amoroso volto as classes invisíveis. Este é um trabalho que está no início, mas que com certeza será meu mestrado lá na frente.  Com artigo, com o vídeo/documentário ganhamos um prêmio, que basicamente consiste em passar uma temporada no Projac, da Globo, no Rio de Janeiro, aprendendo tudo, em detalhes, como fazer um documentário, e depois retornar para gravar, com toda estrutura da TV Futura, o documentário Mulheres da Lama, com Dona Terezinha de Jesus. O treinamento começa nas próximas semanas.

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