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SAÚDE
Maricelio Almeida
11/02/2017 16:30
Atualizado
14/12/2018 05:05

“A Polícia é a minha vida”: conheça a história do tenente coronel Francisco Alvibá Gomes

Alvibá completou no fim de janeiro 28 anos de Polícia Militar. Confira detalhes dessa trajetória a seguir: “Agradeço a Deus todos os dias a oportunidade de estar aqui e, se pudesse voltar no tempo, faria tudo novamente”, diz o PM
Maricelio Almeida/MH
O ano era 1989. 29 de janeiro. O jovem Francisco Alvibá Gomes Ferreira, natural de Luís Gomes, ingressava na Polícia Militar com um sonho: proteger a população, mesmo que essa proteção pudesse lhe custar a própria vida. Passados 28 anos, o hoje tenente coronel colhe os frutos de sua dedicação e inicia mais uma etapa da sua trajetória na PM, ocupando agora o posto de comandante de Policiamento Regional I, sendo responsável por uma área que abrange 53 municípios potiguares.

“A Polícia é a minha vida. Agradeço a Deus todos os dias a oportunidade de estar aqui, de poder contar o quanto me sinto feliz por fazer o que eu faço”, resume Alvibá ao ser questionado sobre o que representa para ele a Polícia Militar.

O coronel recebeu a reportagem do MOSSORÓ HOJE na tarde da última quinta-feira, 9, na sede do 2º Batalhão de Polícia Militar (2º BPM). É lá que ele coordena o Comando de Policiamento Regional I, missão que lhe foi atribuída pelo comandante da PM, coronel André Azevedo. “Deixei a Secretaria de Segurança Pública de Mossoró no dia 30 de dezembro e me apresentei no Comando Geral em 4 de janeiro, quando recebi essa missão. Não tive tempo nem de descansar”, brinca Alvibá.

Ao longo de mais de uma hora de conversa, o coronel falou sobre trabalho, família, angústias, conquistas. É esse relato que você acompanha a seguir.
 
O começo

Alvibá ingressou na Polícia Militar em 29 de janeiro de 1989, inspirado pelo exemplo que veio de casa: o pai, Afonso Gomes Ferreira, falecido aos 89 anos, 50 deles dedicados à Polícia. “Meu pai passou 30 anos na PM, mas 20 anos na polícia civil, como delegado adjunto. Isso me ensinou que a polícia não enrica ninguém, mas engrandece a natureza do homem, porque você ajuda as pessoas, salva vidas. Vendo meu pai trabalhar, me inseri na carreira militar com a mesma vontade, minha inspiração vem dele”, revela.

A formação para iniciar o trabalho na rua ocorreu na Academia de Polícia do Ceará, ao longo de três anos. Na sequência, Alvibá passou a atuar em unidades operacionais na capital do Rio Grande do Norte, Natal. “Depois vim para Mossoró, onde passei, inicialmente, três anos. Na época, Pau dos Ferros era subordinado ao Batalhão de Mossoró, então fui transferido para a 2º Companhia de Pau dos Ferros, onde passei a ser o subcomandante e vice-diretor do presídio de lá”, relembra.

Percorreu ainda nos anos iniciais na PM cidades como São Miguel, Alexandria e Patu. “Em 2000 voltei a Pau dos Ferros, instalando e montando o 7ª Batalhão de Polícia Militar. Fui também para Assú, período em que cursei minha especialização em Estudos de Criminalidade e Segurança Pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)”, destaca.

Alvibá fixou residência em Mossoró no de 2003, passando pelo comando de pelotões, batalhões, companhias, da Penitenciária Mário Negócio, chegando a ocupar o posto de secretário municipal de Segurança Pública e Defesa social durante quase dois anos, na gestão do ex-prefeito Francisco José Júnior. “Saí satisfeito e feliz. Fui convidado para ajudar o Município, estava no comando do Batalhão e hoje me sinto satisfeito em ter voltado para a PM”, frisou.
 
Desafios
 
“Todos os momentos foram difíceis. Em Alexandria, por exemplo, presenciei conflitos de família e a PM tentando não se envolver nesses conflitos, mas ao mesmo buscando resolver a situação de violência. Em São Miguel, foram conflitos de família X político, resquícios de luta por pedações de terra”, pontuou.

O coronel afirma que atualmente um dos maiores desafios da Polícia Militar é o combate às drogas e o controle do sistema prisional. “Hoje, a criminalidade é diferente. Antigamente se aprendia uma trouxinha de maconha, uma pedra de crack, hoje são apreendidos 100 quilos, uma tonelada, o que mostra, no caso de Mossoró, que a cidade está na rota do tráfico".

“Essas facções criminosas vêm mexendo com todo o Estado, com a estrutura das forças de segurança. O crime vem se estabelecendo de forma, podemos dizer, organizada. Vem crescendo em cadeia, formando barreiras mais resistentes para as forças de segurança”, relata Alvibá com franqueza.
 
“O medo precisa fazer parte da vida policial”
 
Com quase três décadas de experiência na PM, Alvibá destaca a importância de sentir medo: “Se o policial disser que não tem medo, ele está despreparado, porque o homem com medo é precavido, cauteloso e atencioso nas suas ações, então ele tem que sair de casa todo dia com medo do que vai acontecer e também com medo do que vai fazer. A vida de pessoas inocentes e do próprio policial depende de um posicionamento adequado dele. O medo leva a frieza e não ao pânico, ao desespero. É preciso ter frieza para que se consiga contornar situações. O medo precisa fazer parte da vida policial”.


 
O coronel garante que o PM, ao entrar em um beco escuro, sem saber o que pode encontrar pela frente, sente medo, o que não é demérito para profissão. “Quando você entra em um beco escuro, com pessoas possivelmente armadas, que disparam contra sua guarnição, você tem medo, então vai ter cautela de como reagir, preservando a sua vida, das pessoas inocentes que podem estar na linha de tiro, e dos PMs que estão com você. Se o bom policial trabalhar essa conduta na rua, ele está passível de errar menos”, orienta.
 
“Faria tudo novamente”
 
E se pudesse voltar no tempo, Alvibá escolheria outra profissão, com menos riscos e dificuldades? O coronel afirma categoricamente que não. “Não é a melhor das profissões, mas eu iria fazer tudo do mesmo jeito. Mesmo com todas as dificuldades financeiras do Estado, que não são de hoje, eu voltaria à estaca zero, faria tudo novamente, porque foi essa a vocação onde eu aprendi a trabalhar. Sou bacharel em direito, comecei outras faculdades, mas a minha missão, dada por Deus, é de ser PM, continuo satisfeito com o trabalho que faço”.

O tenente coronel reforça que a PM, assim como qualquer outra profissão, exige comprometimento e dedicação. “Quando se busca resultados, você terá portas abertas em diversos aspectos. Agora quando se chega no trabalho com má vontade, indisposição, isso se reflete em toda a sua tropa, e, consequentemente, no cidadão de bem, e o PM está na rua para atender bem a população, para servir, para isso que a população paga seus impostos, então não se pode ir para a rua para ser grosseiro, agressivo, violento com quem merece atenção”, orienta.
 
Uma nova PM


 
Para Alvibá, a Polícia Militar vem buscando mudar o seu foco no que diz respeito ao contato mais próximo com a população. “A PM continua sendo rígida e contundente contra quem está cometendo crime, mas abraça, com projetos como o Ronda Cidadã, a população, isso é importantíssimo.  Isso faz com que as pessoas se sintam seguras e confiantes com a presença da polícia. É preciso acabar com a visão que ainda existe da época da ditadura”, diz.

Perguntando sobre o que angustia o policial, o coronel responde que é o fato de, muitas vezes, o PM não conseguir o resultado que esperava nas ruas. “Nenhum policial sai de casa hoje com a certeza que vai voltar. Quando tentamos resolver o nosso trabalho e não conseguimos, mesmo sabendo dos nossos limites, isso nos angustia, porque buscamos resultado positivo, isso do soldado ao coronel”.
 
Família

Alvibá é casado há cerca 20 anos com a enfermeira Sílvia Regina, com quem tem dois filhos: Bruna, de 19 anos, e Felipe, de 17. A mais velha ingressará agora no curso de Engenharia da Computação, na Universidade Federal do Ceará (UFC). O mais novo quer seguir os passos do pai, e já se dedica para realizar o concurso da Polícia Militar anunciando para este ano pelo Governo do Estado.

O coronel revela que, por ele, os dois seriam PMs. Bruna, inclusive, chegou a iniciar a formação na Academia de Polícia em João Pessoa, tendo sido aprovada em quarto lugar no concurso público. “Ela já tinha passado nos exames intelectuais, psicotestes, mas não quis continuar. Por mim, meus filhos seriam policiais militares também. Minha família é minha paixão”, enfatiza.

E é na família que Alvibá encontra a sua fortaleza. “Se não houver o apoio familiar o PM entra em crise, em parafuso. A pressão que sofremos da sociedade, do nosso comando, é grande, então o policial que não tem uma boa condição familiar ele termina entrando em situação de crise, sem ter com quem conversar. Lá em casa, o meu confessionário é minha esposa, na vida não há só coisas positivas. São 28 anos de polícia, 20 de casado. O que a gente já passou junto, é um colegiado de informações e situações. A família é quem faz a gente se sentir sólido nesse trabalho”, conclui o coronel.
 

Notas

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