'Vai dar merda com Michel', diz Cunha a Henrique Alves sobre repasse da JBS
Ex-deputados, hoje presos, trocaram mensagens em 2012 nas quais se referiram a repasses de Joesley Batista, dono da JBS. Ao saber que parte iria para o RN, Cunha fez alerta
Atualmente presos pela Polícia Federal, os ex-deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) trocaram mensagens em 2012 nas quais falaram sobre repasses de Joesley Batista, dono da JBS. Na conversa, há citação ao nome "Michel", que, segundo o relatório da Operação Catilinárias, provavelmente se refere ao presidente Michel Temer.
Conforme essas mensagens, ao saber que parte dos repasses de Joesley iria para o Rio Grande do Norte, estado de Henrique Alves, em vez de São Paulo, estado de Temer, Eduardo Cunha avisou: "Vai dar merda com Michel". À época da troca de mensagens, Temer era vice-presidente da República.
Pelo relatório, a mensagem indica que atitude de Alves "poderia gerar alguma indisposição" com Temer. À TV Globo, o Palácio do Planalto informou que não vai se manifestar sobre o assunto.
Também à TV Globo, as defesas de Cunha e Henrique Alves informaram que não iriam se manifestar.
Realizada em dezembro de 2015, quando Cunha ainda era presidente da Câmara, a Operação Catilinárias foi deflagrada pela Polícia Federal para evitar que investigados da Lava Jato destruíssem provas. Na ocasião, foram apreendidos bens que, segundo as investigações, poderiam ter sido adquiridos pela prática criminosa.
As mensagens de Eduardo Cunha e Henrique Alves constam da ação cautelar da operação. O relatório foi feito com base no material analisado no celular do ex-deputado.
O relatório
Conforme o relatório da operação, em 22 de agosto de 2012, Henrique Alves enviou mensagem a Cunha na qual afirmou que havia acertado três "convites" com "Joes", dos quais 2 iriam para São Paulo.
Os "convites", segundo o relatório da Polícia Federal, seriam remessas ilegais de dinheiro de "Joes", que seria Joesley Batista.
Leia abaixo a transcrição das mensagens:
Henrique Alves: "Joes aqui. Saindo. Confirme dos 3 convites. 2 SP! Disse a ele!"
Eduardo Cunha: "Ou seja ele vai tirar o de sao paulo para dar a vc?" Eduardo Cunha: "Isso vai dar merda com michel" Eduardo Cunha: "E ele nao estaria dando nada a mais"
Henrique Alves: "Estranho??"
Eduardo Cunha: "E porque falo por bbm"
Henrique Alves: "E conversa ontem Felipeli?"
Eduardo Cunha: "Amanha sao paulo atarde"
Eduardo Cunha: "Tou atras de otavio"
Eduardo Cunha: "Cheguei na vice vc ta aonde?"
Eduardo Cunha: "Ainda nao consegui falar"
A PF não esclarece o que é "bbm". "Otavio" seria, pelo relatório, Otávio Azevedo, "vinculado à época ao Grupo Andrade Gutierrez". Não há explicação sobre quem seria "Felipeli".
Prisão de ex-deputados
Cunha e Henrique Alves foram presos pela Polícia Federal. No caso de Cunha, ele foi preso em outubro do ano passado.
A decisão foi do juiz Sérgio Moro no processo em que Cunha é acusado de receber propina de contrato de exploração de Petróleo no Benin, na África, e de usar contas na Suíça para lavar o dinheiro.
Já no caso de Henrique Alves, o ex-deputado e ex-ministro foi preso em junho deste ano em uma operação da PF que investigou os crimes de corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro na construção da Arena das Dunas, em Natal (RN).
Denúncia contra Temer
O presidente Michel Temer foi denunciado ao Supremo Tribunal Federal pela Procuradoria Geral da República, pelo crime de corrupção passiva. A denúncia foi apresentada com base nas delações de executivos do grupo J&F, que controla a JBS.
O STF, contudo, só poderia analisar a denúncia se a Câmara autorizasse, mas, na última quarta (2), 263 deputados votaram contra o prosseguimento do processo e 227, a favor. Ou seja, a denúncia foi rejeitada.
Com isso, a denúncia contra Temer ficará parada até 31 de dezembro de 2018, quando ele deixar a Presidência da República.