19 ABR 2024 | ATUALIZADO 18:31
MOSSORÓ
Por Katharina Gurgel
20/03/2022 13:28
Atualizado
20/03/2022 13:31

A história de vida de Seu José do Mundo, por Katharina Gurgel

José está almoçando, enquanto conversamos. Uma vasilha bem servida de frango, macarrão, feijão, salada, que o pessoal vizinho sempre fornece para ele na hora do almoço e do jantar, numa rede armada entre duas árvores perto da UPA do Grande Alto São Manoel, em Mossoró-RN
José está almoçando, enquanto conversamos. Uma vasilha bem servida de frango, macarrão, feijão, salada, que o pessoal vizinho sempre fornece para ele na hora do almoço e do jantar, numa rede armada entre duas árvores perto da UPA do Grande Alto São Manoel, em Mossoró-RN
Foto: Katharina Gurgel

José tem 48 anos. Nasceu no Ceará, mas seu último endereço fixo foi em João Pessoa/PB, cidade onde deixou sua única filha, junto com a ex-mulher.

Hoje, José mora aqui, nesse espaço ao ar livre, delimitado por uma rede, armada entre duas árvores, na lateral da UPA do Alto de São Manoel, aqui em Mossoró.

- E banho, José, como você faz? - Pergunto eu com um tom meio de curiosidade, meio de preocupação.

- E a chuva, não conta não? Tomo maravilhosos banhos de chuva e quando não chove, uso a torneira ali do "hospital". - Ele responde com uma tranquilidade de dar inveja.

José está almoçando, enquanto conversamos. Uma vasilha bem servida de frango, macarrão, feijão, salada, que o pessoal vizinho sempre fornece para ele na hora do almoço e do jantar.

Vai fazer um mês que esse é o endereço de José. Está sem documentos, foi roubado.

- Já fui roubado umas 4 vezes aqui, mas tem nada não, Deus é meu parceiro, sempre me manda tudo novamente. Olhe bem, tenho tudo o que preciso: a natureza - aponta para as árvores -, comida, descanso, água, liberdade... Tá tudo ótimo. Já, já, me organizo e parto para outra cidade.

José tem família em Fortaleza. Irmãs até com lojas comerciais. Mas ele resolveu andar pelo mundo. Cansou das mulheres ciumentas que teve.

Já foi motorista e camelô. Já foi "bacana", como ele mesmo me falou.

- Sabe o que eu não aceito, Katharina? Trairagem; gente que não sabe ser verdadeiro, leal, que engana a gente. Cansei desse tipo de companhia. Tanto os amigos quanto as mulheres, quero só gente falando a verdade comigo, sem falsidade.

Me contou que há muitos anos, veio para a festa de Santa Luzia, aqui em Mossoró. Nunca esqueceu. Adorou todo aquele movimento de gente. Uma vez, sentado num bar, quando dois amigos (camelôs também) falaram que estavam partindo para uma viagem para fazer compras e que passariam por Mossoró, ele nem pensou duas vezes, disse que iria junto e que não sabia nem quando voltaria mais.

Hoje, José é do mundo. Não tem nome nem endereço no momento. José é livre. Como ele mesmo me falou: - Sou do mundo, mas uma hora volto.

- Katharina, volte, para a gente conversar mais. Gostei de falar com você. Tô sempre aqui e minha porta está sempre aberta.

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