Entidades e governos estrangeiros estão preocupados com a posse de Lula (PT), no dia 1º de janeiro de 2023, que deve contar com mais de 50 delegações de alto nível do exterior.
Segundo apurou a coluna de Janil Chade, no UOL, o principal motivo de alerta é o silêncio do presidente Jair Bolsonaro (PL) e de seus aliados diante das ameaças contra a cerimônia e indícios de possíveis atentados da extrema direita.
A reportagem do UOL apurou que as notícias sobre a prisão de suspeitos por planejarem ataques, assim como a organização de manifestações violentas, estão sendo acompanhadas de perto por organismos estrangeiros.
Alguns, ainda sob a condição de anonimato, indicaram que estudam emitir alertas internacionais às autoridades nacionais, com o objetivo de cobrar garantias de que golpistas sejam processados e que a posse de Lula possa ocorrer.
Entre embaixadas estrangeiras em Brasília, o Natal foi em parte interrompido para que os postos enviassem às capitais pelo mundo alertas sobre a prisão de George Washington Souza, 54, suspeito de atos terroristas.
Mas o que tem preocupado de fato os governos estrangeiros?
O silêncio de Bolsonaro diante das ameaças e descobertas de planos de atentados violentos.
- Segundo diplomatas europeus, a opção de um líder por não se pronunciar é uma característica da extrema direita diante de um movimento supostamente espontâneo de ataques contra instituições;
- A comprovação da existência de células da extrema direita ou mesmo indivíduos aguardando sinais por parte das lideranças para agir;
- O aumento da circulação de mensagens em redes bolsonaristas sobre eventuais - "acontecimentos" que poderiam marcar a posse.
Ainda antes da votação no Brasil, cientes do fator de comunicação entre grupos de extrema direta de todo o mundo, democracias estabeleceram uma espécie de aliança informal para sair em apoio ao processo eleitoral no país.
Mas a blindagem ainda não terminou e, de acordo com fontes estrangeiras, a presença de um número inédito de líderes na posse faz parte de uma ofensiva para garantir que a extrema direita não seja capaz de reverter um resultado legítimo das urnas.
A ausência de Bolsonaro na transferência da faixa presidencial não seria exatamente uma surpresa. Segundo o ex-ministro e embaixador Rubens Ricupero, a comunidade internacional já "precificou" essa decisão do atual presidente de não participar da posse e repetir o comportamento de Donald Trump, nos EUA.
Mas isso não significa o fim dos problemas. Segundo membros da equipe que prepara a transferência de poder, há uma decisão deliberada por uma intensificação do aparato de inteligência, antes do dia 1 de janeiro.
De acordo com fontes no Itamaraty, um esquema importante de segurança está sendo montado para receber cerca de 30 lideranças internacionais e mais 20 delegações de alto nível, o maior contingente de personalidades estrangeiras, chefes de estado, de governo, monarcas e ministros em uma posse na democracia no Brasil.
Silêncio é usado como disfarce pela extrema direita. Michel Gherman, professor do departamento de sociologia da UFRJ e coordenador do Núcleo de Estudos Judaicos, não disfarça sua preocupação.
“Essa é a ponta de um iceberg do qual não temos uma noção completa de sua dimensão. A lógica do silêncio é típica da extrema direita. Uma lógica de que não controlo, de que não oriento e apenas mostro a direção a partir de códigos”, disse Michel Gherman.
Gherman lembra que, nesses últimos meses, o Brasil já viveu um surto de violência na eleição e agora caminha para uma onda de atentados mais sérios que visam "instalar o caos". Autor do livro "O não judeu judeu: A tentativa de colonização do judaísmo pelo bolsonarismo" (Fósforo Editora), ele ainda destaca como o Brasil tem uma tradição de atentados terroristas por parte do Exército.