O senador Delcídio do Amaral (PT-MS) disse em depoimento de delação premiada no âmbito da Operação Lava-Jato que o senador tucano Aécio Neves foi beneficiado por corrupção em Furnas. Segundo ele, Aécio tem vínculo forte com Dimas Toledo, apontado como operador de Furnas. PT e PP também receberam propina de Furnas, disse Delcídio.
"Questionado ao depoente quem teria recebido valores de Furnas, o depoente disse que nao sabe precisar, mas sabe que Dimas operacionalizava pagamentos e um dos beneficiários dos valores ilícitos sem duvida foi Aécio Neves, assim como também o PP, atraves de José Janene; que também o próprio PT recebeu valores, mas não sabe ao certo quem os recebia e de que forma", informa a delação de Delcídio.
Delcídio disse que diretoria de Engenharia de Furnas é a mais cobiçada por partidos políticos por permitir desvio de dinheiro da estatal. Ele afirmou que Furnas foi usada sistematicamente para repassar valores para partidos, e que o esquema de própina na Petrobras também ocorreu em Furnas.
"Dimas possui vínculo muito forte com Aécio Neves; que na CPI dos Correios surgiu a chamada Lista de Furnas; que o tema foi muito polêmico, pois se alegou que a lista teria sido falsificada; que, embora o documento pudesse ser falso materialmente (até mesmo porque constava como se fosse assinado por Dimas, o que ele jamais faria), o conteúdo do documento não era falso", acrescenta o senador petista.
"Realmente existia repasse de valores para políticos; que se tratava de uma lista de doações destinadas a vários políticos; que acredita que ao menos parte daqueles políticos recebeu valores, embora a lista possa ter sido superdimensionada (ou seja, nem todos políticos mencionados realmente receberam)", conclui a delação de Delcídio.
Dimas Toledo era diretor de Engenharia de Furnas e "foi por muito tempo, por vários governos", disse Delcídio. Segundo ele, "quando o governo Lula assumiu a presidência, Dimas Toledo já era diretor e era apoiado por PP e PSDB "por meio de Aécio Neves". Dimas Toledo é pai do deputado federal Fabiano Toledo (PP-MG).
A delação de Delcídio foi homologada nesta manhã pelo ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).
Paraíso fiscal
O senador Delcídio do Amaral (PT-MS) disse em depoimento de delação premiada no âmbito da Operação Lava-Jato ter escutado que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) era beneficiário de fundação em Liechtenstein, paraíso fiscal. Aécio seria dono ou "controlador de fato" da fundação, e a entidade estaria em nome da mãe de Aécio ou do próprio tucano.
Delcídio disse que escutou essa história sobre a fundação quando conversou com o deputado já falecido do PP, José Janene - estruturador do esquema de propina na Petrobras, segundo a Lava-Jato.
A operação de Aécio em Liechtenstein teria sido estruturada por doleiro no Rio, disse Delcídio, relatando o que teria ouvido de Janene.
"O declarante ouviu do deputado José Janene que Aécio Neves era beneficiário de uma fundação sediada em um paraíso fiscal, da qual ele seria dono ou controlador de fato; que essa fundação seria sediada em Liechtenstein; que o declarante não sabe precisar, mas ao que parece, a fundação estaria em nome da mãe ou do próprio Aécio Neves; que essa operação financeira teria sido estruturada por um doleiro do Rio de Janeiro", informa a delação de Delcídio.
A história foi contada por Delcídio enquanto ele narrava suposto esquema para maquiar dados do Banco Rural que seriam entregues à CPMI dos Correios, e os fatos teriam ocorrido entre 2005 e 2006. Segundo Delcídio, "outros parlamentares também sabiam que esses dados estavam maquiados, podendo citar os Deputados Carlos Sampaio e Eduardo Paes, já mencionados, dentre outros que não se recorda; que, esses fatos ocorreram em 2005/2006".
"O assunto maquiagem do Banco Rural foi tratado com Aécio em Belo Horizonte, no Palácio do governo", disse Delcídio. E, após essa reunião, "Aécio Neves franqueou o avião do Governo de Minas Gerais para que o declarante viajasse para o Rio de Janeiro".
Outro lado
Aécio divulgou nota para se defender de acusações feitas por Delcídio. Sobre o suposto recebimento de propina em Furnas, Aécio afirmou tratar-se de questões já esclarecidas e disseminadas pelo PT na internet há anos.
“Sobre a menção ao nome do senador Aécio com relação a Furnas, Delcídio repete o que vem sendo amplamente disseminado há anos pelo PT que tenta criar falsas acusações envolvendo nomes da oposição”, anota o texto. “É curioso observar a contradição na fala do delator já que ao mesmo tempo em que ele diz que a lista de Furnas é falsa, ele afirma que houve recursos destinados a políticos".
A nota não esclarece, no entanto, possíveis ligações de Aécio com Dimas Toledo, ex-presidente de Furnas e que seria o responsável por operacionalizar pagamentos. “Um dos beneficiários dos valores ilícitos foi sem dúvida Aécio Neves”, disse Delcídio.
Em resposta, Aécio diz que “jamais tratou com o delator Delcídio de nenhum assunto referente à CPMI dos Correios. Também jamais pediu a ninguém que o fizesse”.
Aécio garantiu que “nunca manteve qualquer relação com o Banco Rural, teve conta corrente na instituição ou solicitou empréstimos”.
Outros delatores da Operação Lava-Jato já mencionaram a influência de Aécio em Furnas.