O presidente francês, François Hollande, confirmou nesta quinta-feira que o avião da companhia aérea EgyptAir, que ia de Paris para o Cairo, caiu com 66 pessoas a bordo. O avião levava 56 passageiros, incluindo uma criança e dois bebês. A aeronave desapareceu do radar antes de entrar no espaço aéreo egípcio.
Em uma entrevista coletiva, o ministro da Defesa grego, Panos Kammenos, explicou que o Airbus mudou de rota abruptamente, fazendo primeiro um giro de 90º à esquerda e depois 360º à direita.
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Hollande insistiu que não se deve excluir nenhuma hipótese, incluindo terrorismo, e disse que a França está em contato com as autoridades gregas e egípcias para enviar aviões e navios para participar nos esforços de busca. "Nós temos que ter certeza de que sabemos tudo sobre as causas do que aconteceu. Não está excluída nenhuma hipótese", afirmou o presidente.
Na mesma linha, o primeiro-ministro do Egito, Sherif Ismail, disse que é muito cedo para descartar qualquer motivação. Quando perguntado se poderia descartar uma ação terrorista por trás do incidente, ele respondeu:
"Não podemos excluir ou confirmar nada neste momento. Todas as operações de busca devem ser concluídas para que possamos saber a causa. As operações de busca estão em curso neste momento para localizar o avião na zona onde se acredita que teria perdido o contato", disse Ismail no aeroporto do Cairo.
Segundo a EgyptAir, o avião, que estava viajando a uma altitude de 11.280 metros, desapareceu por volta das 2h45m (21h45m em Brasília), a cerca de 130 quilômetros antes de entrar no espaço aéreo egípcio. De acordo com flightradar24.com, na última posição conhecida, a aeronave estava acima do Mar Mediterrâneo.
"Uma fonte oficial da EgyptAir afirmou que o voo MS804, que partiu do aeroporto Charles de Gaulle às 23h09m (18h09m no horário de Brasília) rumo ao Cairo e desapareceu do radar", disse a companhia no Twitter.
A EgyptAir informou as nacionalidades dos passageiros: são 15 franceses, 30 egípcios, um britânico, um belga, dois iraquianos, um cidadão do Kuwait, um árabe, um cidadão do Chade, um português, um argelino, um canadense e um sudanês.
O chefe do Departamento de Aviação Civil da Grécia, Kostas Litzerakis, detalhou que aeronave sumiu dois minutos depois de sair do espaço aéreo grego.
Suspeita de queda no mar
Autoridades acreditam que possivelmente o avião caiu no Mar Mediterrâneo. Uma fonte aeroportuária da Grécia informou à France Presse que a aeronave teria caído perto da ilha grega de Karpatos, ao sudeste do Mar Egeu, quando sobrevoava o espaço aéreo egípcio.
Controladores gregos de tráfego aéreo falaram com o piloto sobre a ilha de Kea, no que deve ter sido a última transmissão da aeronave.
"O piloto não mencionou qualquer problema", disse Litzerakis.
Nos impactos contra a água, uma baliza localizadora submariana unida à aeronave começa a emitir um sinal. Isso ajuda as equipes de busca e resgate a localizar as caixas-pretas e o local do acidente.
"A teoria de que o avião caiu foi confirmada depois da busca preliminar e depois da aeronave não ter chegado a nenhum aeroporto próximo", disse uma fonte da aviação que pediu para não ser identificada. "Todas as causas do desastre são possíveis, desde uma falha técnica grave até uma ação terrorista ou qualquer outra circunstância. Isso será confirmado quando inspecionarmos os destroços do avião e com as transcrições das caixas-pretas".
O Exército egípcio negou nesta quinta-feira ter recebido uma mensagem de emergência do avião A320 da EgyptAir, o que contradiz uma informação da companhia aérea.
O fato de que os pilotos não tiveram tempo de enviar uma mensagem de emergência poderia sugerir, segundo especialistas, que aconteceu um incidente brutal.
Terrorismo
Vários cenários podem explicar o desaparecimento hoje (19) do avião A320, da Egyptair, que fazia a ligação entre Paris e a cidade do Cairo, mas especialistas dizem que um ataque terrorista é o mais provável. A França e o Egito têm sido recentemente alvos dos extremistas islâmicos.
Em outubro, o grupo fundamentalista Estado Islâmico reivindicou o ataque a um avião A321 da companhia russa Metrojet, que caiu no deserto do Sinai quando fazia o trecho entre a estância turística de Sharm el-Sheikh e São Petersburgo, matando 224 passageiros e a tripulação.
Argumentos
Segundo peritos, as possibilidades de uma avaria mecânica no caso do desaparecimento hoje do voo MS804 da EgyptAir são poucas. “Uma falha técnica grave – a explosão de um motor, por exemplo – parece improvável”, disse o especialista em aeronáutica Gérard Feldzer, destacando que o A320 em questão era “relativamente novo”, porque vinha voando desde 2003.
Trata-se de “um avião moderno, o acidente ocorreu em pleno voo em condições extremamente estáveis. A qualidade da manutenção e do avião não estão em causa neste acidente”, reforçou Jean-Paul Troadec, antigo diretor do Gabinete de Inquéritos e Análises para a segurança da aviação civil de França.
Troadec assinalou ainda que a EgyptAir “é uma companhia que está autorizada” a voar na Europa e “não está na lista negra”.
Os peritos consideram igualmente improvável que o avião tenha sido atingido do solo, como foi o caso do voo 17 da Malaysia Airlines que caiu na Ucrânia em julho de 2014, ou do mar, como ocorreu em julho de 1988 quando a marinha norte-americana fez explodir por engano um avião de passageiros da Iran Air.
O avião da Egyptair desapareceu a cerca de 130 milhas náuticas da ilha grega de Karpathos, o que o coloca fora do alcance dos lança-mísseis portáteis utilizados por vários grupos combatentes no Oriente Médio.
“Não podemos excluir a possibilidade de ter sido atingido por engano por outro avião, mas provavelmente já saberíamos”, disse Feldzer, adiantando que a região ao norte do Egito, incluindo as costas de Israel e da faixa de Gaza, é “uma das mais vigiadas do mundo, também por satélite”.
Se for determinado que se trata de uma bomba [que causou a tragédia], a questão para os investigadores será como é que o dispositivo foi levado para um avião que decolou do aeroporto mais movimentado da França, o Charles de Gaulle, em Paris, onde o alerta de segurança é elevado desde os ataques terroristas do ano passado na capital francesa.
“A primeira coisa a fazer é recuperar destroços que nos darão algumas indicações sobre o acidente, se houve uma explosão, pode haver talvez vestígio de explosivos", disse Troadec.
Informações desencontradas
O vice-presidente da EgyptAir, Ahmed Adel, afirmou em um primeiro momento que a tripulação não havia enviado nenhum sinal de emergência.
Alguns minutos depois, no entanto, um comunicado da EgyptAir afirmava o contrário e um porta-voz destacou que o exército havia captado uma "mensagem de emergência", "menos de 10 minutos antes" do desaparecimento do avião dos radares.
Ahmed Abdel, vice-presidente da holding proprietária da companhia, disse que as equipes de resgate estão no local.
"O sol já nasceu há pouco, de maneira que podemos ter mais informação na próxima hora", disse Abdel à rede CNN e acrescentou que o avião não fez nenhuma chamada de socorro.
A França planeja enviar barcos e aviões para ajudar na busca da aeronave, informou nesta quinta-feira o chanceler Jean-Marc Ayrault. No avião viajavam 15 franceses.
"Tudo deve ser feito para encontrar o avião, é por isso que estamos em contato com as autoridades egípcias. Estamos mobilizados e prontos para enviar os nossos meios militares, aviões e barcos", disse Ayrault a repórteres depois uma reunião ministerial com o presidente francês, François Hollande.
Um Airbus A321 operado pela Metrojet da Rússia caiu no Sinai em 31 de outubro de 2015, matando todas as 224 pessoas a bordo. A Rússia e governos ocidentais disseram que o avião foi provavelmente derrubado por uma bomba, e o grupo militante Estado Islâmico disse ter contrabandeado um explosivo a bordo.
A Reuters informou em janeiro que um mecânico da EgyptAir, cujo primo se juntou ao Estado Islâmico na Síria, é suspeito de ter colocado a bomba, de acordo com fontes familiarizadas com o assunto.
Em março, um avião da EgyptAir que voava de Alexandria ao Cairo foi sequestrado e forçado a aterrissar no Chipre por um homem que as autoridades disseram que usava um falso cinto com explosivos. Ele foi preso depois de se entregar.