29 ABR 2024 | ATUALIZADO 15:00
VARIEDADES
Miguel Carlos
05/08/2016 06:08
Atualizado
13/12/2018 05:03

A Terapia Cognitivo-Comportamental enquanto forma de intervenção junto ao transtorno de ansiedade de separação

A TCC, abordagem clínica criada pelo psiquiatra Aaron T. Beck no início da década de 1960, se baseia na ideia de que pensamentos disfuncionais afetam as emoções e a forma como o indivíduo age
Reprodução
Nos últimos tempos, tem ganhado destaque a grande incidência de transtornos de ansiedade. O estilo de vida acelerado das pessoas, as cobranças dentro do ambiente de trabalho e estudo, e a urgência para a realização de tarefas leva ao indivíduo a desenvolver esse “estado emocional desagradável acompanhado de desconforto somático, que guarda relação com outra emoção – o medo” (ZAMIGNANI; BANACO, 2005)
 
No presente artigo, se pretender estudar um transtorno em específico: o da ansiedade de separação (TAS), observado em crianças e adolescentes. Também se disserta a respeito da Terapia Cognitivo-Comportamental, fazendo um breve histórico da sua origem e sobre os seus fundamentos, a fim de explorar as possibilidades, dentro desta abordagem clínica, de se ajudar o indivíduo a lidar com as consequências negativas deste transtorno. Para tanto, foi realizada uma revisão bibliográfica em algumas obras que dissertam sobre a abordagem cognitiva-comportamental, artigos científicos estudem o TAS, bem como a TCC pode ir de auxílio a indivíduos que tenham de enfrentar as consequências deste transtorno.
 
Aaron T. Beck é um psiquiatra e psicanalista de formação completa, que entre o final da década de 50 e início da década de 60 se empenhou em fazer um estudo em cima da depressão. Ele buscou comprovar a teoria psicanalítica de que a depressão é consequência da hostilidade voltada para si mesmo (BECK, 2013).
 
Para tanto, passou a investigar “os sonhos dos pacientes deprimidos, os quais, segundo sua teoria, manifestariam mais temas de hostilidade do que os sonhos dos controles normais” (BECK, p. 25, 2013). Contudo, esses sonhos manifestaram bem mais temas relacionados a fracasso, privação e perda.
 
Mais à frente, Beck percebeu que seus pacientes com depressão apresentavam duas vertentes de pensamento: uma de livre associação e outra de avaliações automáticas de si mesmo (BECK, 2013). Mediante um exame mais aprofundado destes, ele pôde constar que essa segunda corrente estava fortemente ligada às emoções do indivíduo. A partir dessa descoberta, o psiquiatra passa a orientá-los a “identificar, avaliar e responder ao seu pensamento irrealista e desadaptativo. Quando fez isso, eles melhoraram rapidamente” (BECK, p. 25, 2013).
 
A TCC é formulada com base no modelo cognitivo, que concebe todo transtorno psicológico, como resultante da influência de um pensamento distorcido sobre as emoções do indivíduo (BECK, 2013). Todo pensamento automático acarreta uma emoção (tristeza, por exemplo) e um comportamento específico (ficar na cama).
 
Quando Beck fundou a terapia cognitiva, ele teve em mente se manter focado em três pressupostos: “1) construir uma teoria abrangente de psicopatologia que dialogasse bem com a abordagem psicoterápica; 2) pesquisar as bases empíricas para a teoria; e 3) conduzir estudos empíricos para testar a eficácia da terapia” (BECK; KNAPP, 2008)
 
Logo, para haver uma efetiva melhoria, é preciso levar o paciente a questionar a validade da ideia disfuncional e feita tal crítica, é possível concluir que o pensamento não era verídico, apenas uma generalização.
 
Enquanto forma de psicoterapia, a TCC é “estruturada, de curta duração, voltada para o presente, direcionada para a solução de problemas atuais e a modificação de pensamentos e comportamentos disfuncionais (inadequados e/ou inúteis) ” (BECK, 1964 apud BECK, 2013).
 
O transtorno de ansiedade de separação (TAS) é descrito como um imenso medo de perder os pais, ou figuras que representem os mesmos. Nele, a criança ou adolescente acredita que durante o afastamento entre ele e seus guardiões algo de muito terrível (acidentes, sequestros ou doenças) irá acontecer, separando-os permanentemente. Junto a esse apego excessivo, somam-se manifestações somáticas tais como: náusea, vômitos e dor de cabeça. Tais sintomas impõem barreiras à autonomia da criança nos mais diferentes setores de sua vida (acadêmico, social e familiar), causando um estresse pessoal e familiar. A autoestima é fortemente afetada, uma vez que essas crianças se sentem fracas e medrosas devido a suas limitações. (ASBAHR, 2004).
 
Crianças que possuem tal transtorno tem o receio que algo muito ruim irá acontecer. Para ajudá-las, o terapeuta precisa desenvolver uma série de etapas a fim de desmistificar esse pensamento desadaptativo. Inicialmente é necessário auxiliar a criança a identificar suas emoções, uma vez que estas por vezes ainda são desconhecidas. Para isso, o profissional pode usar o desenho como forma do paciente descrever a alegria, tristeza, raiva, medo ou o que quer que esteja sentindo (TESSARO et al, 2014).
 
Também é de grande importância que o profissional guie seu paciente para que este possa apresentar seus pensamentos automáticos, ou seja, aqueles que “fogem à vontade do paciente, que são extremamente rápidos e que possuem uma estrutura telegráfica”, (BUNGE, GOMAR E MANDIL (2012, p. 17). Um recurso útil nesse momento é o uso de um diário de sentimentos, que permite ao psicólogo identificar padrões e, dessa forma, levantar reflexões acerca do conteúdo daqueles escritos (STALLARD, 2010).
 
Estabelecer uma relação de causa-consequência entre o pensamento tido, a emoção sentida e a forma como se reage é um outro recurso de grande valor. Histórias e esquemas com figuras são um meio de utilizar esse instrumento com maior fidelidade (BUNGE, GOMAR E MANDIL (2012).
 
Uma vez identificados os pensamentos disfuncionais, o próximo passo é levar a criança a questioná-los e buscar novas soluções. Fantoches, representações das situações geradores de medo são alternativas para a vivência dessa etapa (BUNGE, GOMAR E MANDIL (2012). O terapeuta acompanha o paciente no processo de desenvolvimentos das habilidades necessárias ao enfrentamento de situações-problema, fazendo isso de maneira gradual, de modo a respeitar o tempo da criança
 
Através da pesquisa desenvolvida, foi possível constatar que o transtorno de ansiedade de separação ocasiona um imenso sofrimento ao indivíduo, uma vez que danifica sua autoestima, além de limitar consideravelmente sua capacidade de exercer atividades acadêmicas, sociais entre outras.
 
Também foram levantadas as bases da terapia cognitivo-comportamental, desde seu surgimento até como se dá a prática clínica da mesma. Mediante os conhecimentos obtidos da TCC, constatou-se que ela é um método eficiente enquanto tratamento de indivíduos acometidos pelo TAS, uma vez que promove a autonomia e uma postura crítica frente a pensamentos automáticos destrutivos, colaborando para uma melhora significativa na qualidade de vida dos mesmos.

Miguel Carlos, Acadêmico de Psicologia, UNP, Mossoró

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