26 ABR 2024 | ATUALIZADO 17:06
MOSSORÓ
Maricelio Almeida
17/03/2017 15:30
Atualizado
14/12/2018 09:27

“A Uern precisa se valorizar em nível de Estado”, afirma Telma Gurgel

Candidata de oposição na eleição pela reitoria da Universidade, Telma critica o modelo de gestão adotado pelo professor Pedro Fernandes e defende uma série de mudanças na Uern. Confira:
Valéria Lima/MH
Na próxima quarta-feira, 22, alunos, professores e técnicos-administrativos vão às urnas para escolher o reitor e vice-reitor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern). Com a proximidade do fim do pleito, o MOSSORÓ HOJE publica entrevistas com os dois candidatos ao cargo de reitor.
Por ordem alfabética, o primeiro entrevistado foi o professor Pedro Fernandes, atual reitor e candidato à reeleição. Confira AQUI. Nesta sexta, 17, foi a vez da professora Telma Gurgel ser ouvida pelo MOSSORÓ HOJE. Acompanhe:
 
MOSSORÓ HOJE: Quem é Telma Gurgel e por que a senhora se coloca como candidata à reitora da Uern?

TELMA GURGEL: Sou professora da Uern há 30 anos, professora pós-doutora e pesquisadora CNPq, já fui diretora da Faculdade de Serviço Social por dois mandatos e chefe de Departamento de Serviço Social, além de coordenadora do curso de Pós-Graduação em Serviço Social e Direitos Sociais. Nossa candidatura é originária de um grupo de resistência que já existe na universidade há 50 anos, e também representa a herança política do movimento de estadualização de nossa universidade.
 
MH: Quais são os principais desafios que a Uern enfrenta atualmente?

TG: A falta de credibilidade social, uma comunidade acadêmica completamente abandonada e dessasticida sob o ponto de vista de sua gestão, uma falta de transparência em seu interior e problemas no financiamento.
 
MH: E o que pode ser feito para superar esses obstáculos?

TG: Primeiramente nós precisamos valorizar nossa comunidade acadêmica, garantindo a execução dos nossos Planos de Cargos e Salários para docentes e técnicos-administrativos, garantindo também um plano de capacitação para os técnicos-administrativos, em especial, que até hoje não têm esse plano; garantir a assistência estudantil, respondendo as demandas imediatas dos estudantes em nossa universidade, e também precisamos mudar o tipo de gestão que temos na universidade, que não respeita sua comunidade e não se coloca como liderança em defesa da Uern. A falta de credibilidade e a baixa autoestima estão condicionadas exatamente a isso, pois a comunidade não se sente representada, não se vê com uma liderança no seu interior que conduza, internamente, a articulação que precisamos ter, bem como externamente com o conjunto da sociedade e com as forças políticas que temos que dialogar. Precisamos mudar e garantir uma gestão democrática, descentralizada e ética em nossa universidade, criar mecanismos de decisões coletivas, amplas, sobre o nosso orçamento, com planejamento estratégico sobre as formas de conduzir a organização interna e a firmeza da universidade na condição dos seus princípios.
 
MH: Tanto a senhora quanto o professor Pedro Fernandes defendem a autonomia financeira da Universidade. O que muda efetivamente com essa autonomia?

TG: A autonomia financeira seria, digamos, uma das saídas que nós teríamos para garantir o pleno funcionamento da nossa universidade, garantir um orçamento que potencialize a universidade no seu desenvolvimento a partir do duodécimo. Nós participamos das três comissões que foram formadas com indicações dos segmentos da universidade, participamos dos estudos, elaboramos as propostas. Compreendemos que o que o precisa ser feto é uma articulação política, com as forças sociais, com os deputados e até mesmo com o Governo do Estado, para que a gente garanta realmente o orçamento demandado pela universidade, os duodécimos, para podermos executar internamente. Precisamos não apenas que a comunidade universitária conheça o projeto que já foi elaborado, mas que haja uma articulação política com todos os deputados estaduais, para que a gente efetive, já que o projeto de autonomia financeira já está previsto no PPA, que se encerra em 2019, está previsto para 2017, mas até agora não foi feita nenhuma ação por parte da gestão atual para garantir essa mobilização política e essa articulação no interior e fora da universidade, para se efetivar o processo de autonomia financeira da universidade.
 
MH: Resumidamente, quais são as propostas de Telma para as áreas de ensino, pesquisa e extensão da Uern?

TG: No Ensino, nós vamos fortalecer os cursos existentes, garantir a infraestrutura necessária. Nós sabemos que nos últimos processos de reconhecimentos dos cursos da universidade, a principal observação apresentada pelo conjunto das comissões de avaliação diz respeito exatamente à infraestrutura dos cursos, seja em termo dos seus acervos bibliográficos, seja em termo da garantia dos prédios, do acesso à internet, do número de computadores que existe em cada faculdade ou curso. Nós vamos fortalecer esses cursos existentes, vamos ampliar a assistência, digamos, da administração e da gestão em relação a esses cursos, no sentido não apenas do acompanhamento técnico dos processos de reconhecimento, mas também da garantia e da observância das questões que são cobradas pelas comissões de avaliação. Sobre as Pesquisas, nós precisamos ampliá-las no interior da universidade, fortalecer os grupos existentes, já temos muitos grupos que são consolidados, precisamos fortalecê-los ampliando as bolsas de iniciação científica, retomando as bolsas internas de produtividade, que é algo altamente estimulante para os pesquisadores e faz anos que a universidade abandonou essa sua política de garantir essas bolsas com recursos próprios. Para a Extensão, nós temos que ampliar a presença da universidade nas comunidades circunvizinhas, garantir mudança e revisão das normas de distribuição de carga horária, referentes à extensão, principalmente agora que é lei federal, que todos os cursos devem ter 10% da sua carga horária destinos à extensão. Temos que desburocratizar os processos, para tanto nós apresentamos na nossa carta-programa a criação de um Fundo de Pesquisa Extensão dentro da universidade, a partir de parcerias com as comunidades, prefeituras circunvizinhas. Todos os campus da nossa Uern são importantes e são presenças marcantes em suas localidades, então pretendemos construir esse fundo a partir de convênios com a Prefeitura, para que se relacione mais a universidade com a comunidade. Temos certeza que seremos bem-recebidas quando formos conversar com as prefeituras, que teremos êxito nessa proposta, porque a universidade é reconhecida, é necessária em todos esses recantos.
 
MH: Qual a proposta da senhora para melhorar a segurança no campus Central da Uern?

TG: É óbvio que o problema de segurança não se centraliza na universidade, é resultado de um problema conjuntural, social que se aprofunda em nosso país. Nós pretendemos atuar em três direções. Primeiramente construir um processo de monitoramento eletrônico do campus 24h, com instalação de câmeras, com o apoio sistemático que possa chegar rapidamente, em caso de algum sinistro. Ao mesmo tempo deveremos construir, a partir de uma capacitação ampla de toda a comunidade, uma cerca viva na universidade, pois não defendemos que a universidade tenha muros, pelo contrário, ela tem que romper todos os muros. Queremos e pretendemos construir essa cerca viva com a presença de toda a comunidade, convocando estudantes, professores e técnicos para participar desse processo. Também queremos trabalhar e ampliar a partir da extensão, para que a universidade se aproxime cada vez mais da comunidade ao seu redor. Acreditamos que com a ampliação da extensão nós podemos sim garantir uma solidariedade da universidade com a comunidade e uma proteção. São três caminhos que defendemos.
 
MH: Como a senhora avalia a estrutura física da Uern atualmente e que projetos a senhora pretende executar para melhorar essa estrutura, caso seja eleita?

TG: Nossos prédios são antigos. A universidade tem 50 anos de história e vários prédios têm estruturas bastante antigas, na realidade esse é um problema que atinge todos os campus da Uern. O que eu apresento como uma análise dessa situação: o que tem acontecido com a nossa infraestrutura, com relação aos prédios antigos, é uma demonstração clara da falta de planejamento estratégico de nossa universidade, que nunca se propôs a fazer um processo de manutenção preventiva. Lembro que quando fui diretora da Faculdade de Serviço Social, nós fizemos isso a partir de uma articulação com a gestão central, isso deveria ser feito em todos os prédios antigos, e não esperar que os problemas se avolumem. Outra questão que devemos destacar é a quantidade de prédios inacabados que temos na universidade, isso também demonstra uma falta de planejamento estratégico e principalmente a necessidade de um orçamento participativo, em que pudéssemos discutir coletivamente qual a prioridade que a universidade em relação a obras como o prédio da FANAT em Mossoró, da biblioteca em Pau dos Ferros, prédios que há quase 10 anos estão em construção. Sabemos que esse tempo de demora de finalização da obra complica o resultado final e pode prejudicar a universidade na perda dos recursos investidos, então para nós isso passa, decisivamente, pela falta de uma gestão democrática no interior da universidade e pela falta de um planejamento estratégico que evite esses problemas estruturais.
 
MH: A proposta de privatização da Uern, feita pelo desembargador Cláudio Santos gerou polêmica no final do ano passado. Eleita reitora e o assunto vindo à tona novamente, qual será a posição de Telma Gurgel?

TG: Para nós essa declaração é um exemplo claro de como a nossa universidade está sem representação política, está sem uma liderança que coordene sua defesa. É um exemplo claro do abandono que a comunidade universitária sente hoje com relação a sua gestão, que não lhe defende, não lhe fortalece. Para nós, será completamente impossível acontecer qualquer declaração dessa em nosso mandato, porque nós temos a firmeza de defesa da universidade, da diplomacia na negociação com o Governo e teremos articulação política, dentro e fora da Uern, para garantir a nossa defesa com respeito, firmeza e dignidade da nossa comunidade.
 
MH: E o que diferencia Telma Gurgel de Pedro Fernandes?

TG: A nossa coragem. A nossa condição de diálogo com o diferente, a nossa racionalidade dos usos dos recursos públicos, a nossa perspectiva de democracia. Nós jamais iremos nos submeter à política econômica recessiva sem uma defesa firme de nossa comunidade. Nós temos criatividade, diplomacia para articular todas as forças políticas em defesa da Uern, já fizemos isso várias vezes enquanto militante do movimento sindical, do serviço social, essa é exatamente a nossa defesa, que nível de negociação nós estaremos levando com o governo estadual, devemos defender a universidade acima de tudo, e não nos submeter, cabisbaixos, a medidas recessivas, e sim fortalecer a universidade, para a partir daí o governo reconhecer a nossa potencialidade como a única instituição de formação superior que tem realmente colaboração a dar no desenvolvimento do Estado em nível das instituições públicas estaduais.



MH: O professor Pedro, ao responder essa pergunta, afirmou que os diferencia é a capacidade do diálogo. Como a senhora avalia essa afirmação?

TG: Ele está equivocado. Eu sou formada em Serviço Social, nossa faculdade aqui em Mossoró é reconhecida nacionalmente como um dos melhores cursos de Serviço Social, e o princípio da nossa formação, o primeiro princípio do perfil do assistente social, é a capacidade de medias conflitos. A nossa profissão surgiu na década de 1930 exatamente para mediar os conflitos entre capital e trabalho no início da industrialização brasileira, então nós somos completamente capacitadas para dialogar com forças antagônicas, completamente capacitada para dialogar com forças que divergem dos nossos interesses, e isso nós já provamos quando fomos diretora da Faculdade de Serviço Social por dois mandatos, quando participamos, várias vezes, de mesas de negociação de greve com o Governo do Estado. Na realidade, considero essa uma avaliação que não deveria ser feita nesse processo eleitoral, uma avaliação que desqualifica não apenas a formação que o curso de Serviço Social garante para suas alunas e alunos, mas também um desrespeito ao próprio princípio de formação acadêmica da nossa faculdade, que capacita profissionais para intervenção exatamente dos conflitos, me sinto completamente preparada para dialogar com os diferentes, lapidada, sob o ponto de vista político, para estabelecer relações de respeito, mas não será uma negociação de baixar os olhos, mas sim de fortalecer a nossa comunidade, de não submissão, e sim de reconhecimento de nossa força política, que temos muita, uma comunidade direta de 12 mil estudantes, 1,2 mil professores, quase 700 técnicos, essa é a nossa força política, que vamos coordenar em defesa da universidade, a nossa diferença está exatamente aí.

MH: Fique à vontade para suas considerações finais.

TG: Nós consideramos que essas eleições serão um marco na história da nossa universidade. Nos colocamos como uma candidatura que é a herdeira política do movimento de estadualização ocorrido na década de 1980, quando ninguém acreditava que a universidade iria ser estadualizada, nós estivemos presente e participando de todo esse processo, e compreendemos que agora chegou a hora de completar esse processo de estadualização, garantindo para a reitoria da universidade uma pessoa, uma proposta política que se originou daquele movimento, porque foi naquele movimento que eu nasci como sujeito político do interior dessa universidade e também na cidade Mossoró. Também quero destacar a nossa proposta de valorização da comunidade acadêmica, que se encontra hoje em um processo acentuado de baixa autoestima institucional, onde nós perdemos com frequência técnicos-administrativos, professores doutores, mestres, que abandonam a universidade porque não veem segurança no seu ambiente de trabalho, projeção de crescimento na carreira acadêmica. Nós compreendemos também que é extremamente importante nessas eleições frisar bastante como tem sido o compromisso da gestão atual com a sua comunidade, temos hoje quase um ano de salário atrasado e nunca a gestão se pronunciou oficialmente contra isso, ao invés disso o que nós vimos foi a filiação do reitor ao partido do governador no pior momento da crise da nossa universidade.  O que temos visto com o processo de terceirização do serviço da nossa universidade, no qual se desumanizou por completo a relação de trabalho com os técnicos de apoio ao cotidiano da Uern, que perdeu completamente o poder de gestão desses serviços no seu interior, e não se responsabiliza. Não é à toa que até ontem esses apoiadores terceirizados tinham dois meses de salário atrasado e em nenhum momento o reitor se posicionou. Essa é a contradição que nós visualizamos e que permitiu o nosso crescimento. Nós visualizamos na universidade uma gestão que está perdida, que não tem planejamento, não olha para a sua comunidade, nós queremos reverter essa história. Podemos contornar a crise com criatividade e democracia. Para nós o ponto de partida é esse: uma gestão que seja, acima de tudo, democrática, que tenha uma equipe eficiente, com gestores centrais que sejam ágeis na execução do orçamento, equipe articulada na captação de emendas, insistente na execução dessas emendas. A Uern precisa retomar a sua história, se valorizar em nível de Estado, garantir a sua permanência enquanto universidade pública, gratuita e de qualidade. Nós sentimos um apoio crescente no interior da universidade. O que nos honra é saber que não só a universidade, mas também a sociedade torce por nós, pela nossa firmeza, coragem, determinação. Compreendemos que o principal elemento e característica de uma gestora tem que ser o reconhecimento do outro, ter capacidade de se colocar no lugar do outro, é isso que nós sentimos quando nascemos na universidade como estudante, depois como professora, fortalecendo cada vez mais sua existência. Nossa vida é articulada à luta da universidade e queremos agora, após essa eleição, continuar esse mesmo processo, com mais apoio da comunidade, referendada pela eleição na qual sairemos vitoriosa. Somos a única alternativa hoje para a Uern permanecer pública, gratuita e de qualidade, daremos o melhor de nós nessa próxima etapa.
 

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