Fiquei chocado com a notícia da moça de 16 ou 17 anos de idade, que foi estuprada por mais de 30 homens no Rio de Janeiro. Mas fiquei mais chocado ainda com a cobertura da mídia.
Procurei ler essa notícia em diferentes veículos de comunicação e o resultado disso tudo é de envergonhamento quanto a minha profissão de jornalista.
Essa notícia deveria causar comoção, campanhas de esclarecimento e protestos. Mas o que vejo é uma tentativa de colocar uma mea-culpa para a garota, enfatizando o fato dela usar drogas ou de frequentar "lugares de risco".
A mensagem que tenta mostrar com isso é de que ela teria um comportamento que justifica tamanha barbaridade. Tenta mostrar para as mulheres que as "bem-comportadas" e que frequenta "bons-lugares" e tem "boas companhias" não correm esse risco. Querem mostrar que as "belas, recatadas e do lar" estão livres disso.
Mentira pura! As mulheres correm risco em qualquer lugar, nos lugares, ocasiões e pessoas menos esperadas. É um risco constante, por isso, o feminismo deve ser incentivado e debatido.
As mulheres sofrem violência no Brasil, em Portugal, em Paris. As mulheres sofrem violência no ônibus, na escola, na festa, na rua ou em casa. O machismo está em todo lugar. Quando morei com algumas feministas, aprendi muito e procuro a cada dia ser menos machista. Sim, ser menos, pois essa cultura está tão enraizada, que só uma luta constante poderá curá-la ou ao menos amenizá-la.
Enquanto acham que é "mimimi" ou preconceito invertido, admiro o Centro de Estudos Sociais, da Universidade de Coimbra, por ter um doutorado voltado para os Estudos Feministas. Precisamos de mais e mais feministas nas ruas ou nas universidades, procurando esclarecer a todos e combater o machismo.
Vamos a luta, pois hoje é um dia, como jornalista e homem, que devemos estar de luto.