Nos últimos 15 anos, pesquisadores de todo o mundo estão registrando o desaparecimento e a morte massiva de abelhas, cada vez mais frequente. O dado preocupa, uma vez que esses insetos têm papel importante na polinização e, consequentemente, na produção de alimentos.
No Rio Grande do Norte a situação é ainda mais grave. A maior parte da economia do Estado está ligada à atividade agrícola de fruticultura irrigada e necessita das abelhas para produção.
Mas é justamente na produção de alimentos que está o problema, mais especificamente no uso desordenado de pesticidas, que é a maior causa da morte de abelhas, segundo o geneticista e pesquisador da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), Lionel Gonçalves.
“Os agrotóxicos, em especial os neonicotinoides, atingem o cérebro das abelhas, na parte de memória. Atingindo a memória, elas não sabem de onde vieram. Acabam se perdendo e morrendo”, explica o pesquisador.
Estima-se que mais de 1 bilhão de abelhas já tenham morrido devido aos agrotóxicos.
Estudo recente feito pelo pós-graduando da Ufersa, Idalécio Pacífico, comprovou que o desaparecimento das abelhas na região de Mossoró está ligado ao uso de agrotóxicos na produção de melão.
O trabalho científico usado como tese de doutorado analisou o mel produzido no município e encontrou vestígios de 19 pesticidas diferentes. Destes, 13 substâncias altamente nocivas, como o neonicotinoide e o malathion, foram localizadas no mel de abelhas que polinizam o melão.
“Ele fez um trabalho brilhante mostrando que o que está acontecendo é que a apicultura está sofrendo as consequências dos agrotóxicos. Ele simplesmente provou com as amostras dele”, enfatiza Lionel Gonçalves. “Isso é preocupante”, acrescenta o estudioso.
Para tentar contornar esta situação, o geneticista e outros pesquisadores da Universidade lançaram em 2013 a campanha “Bee or not to be?” ou “Sem abelha, sem alimento”, que alerta para a importância dos insetos na sobrevivência da espécie humana.
A campanha potiguar é reconhecida mundialmente e tem o apoio da Universidade de São Paulo (USP) e da Confederação Brasileira de Apicultura. A iniciativa orienta como ajudar na manutenção das abelhas e a importância delas para os seres humanos.
“Cerca de 70% da nossa alimentação depende das abelhas, ou seja, as plantas que produzem 70% dos nossos alimentos são polinizadas pelas abelhas. E sendo assim, se ocorrer alguma coisa para as abelhas, nós não vamos ter alimentos”, conclui Lionel Gonçalves.
Os estudos com abelhas são desenvolvidos no Centro Tecnológico de Apicultura e Meliponicultura (Cetapis) da Ufersa, em Mossoró. O Cetapis é considerado um centro de referência nacional em pesquisas sobre manejo de abelhas africanizadas, biologia, genética, fisiologia e comportamento de abelhas em geral.