Pegos de surpresa, os potiguares vivenciaram entre o fim de julho e os primeiros dias de agosto uma onda de ataques que se espalhou por diversas cidades do interior do Estado e pela capital Natal. Os crimes foram desencadeados após a instalação de bloqueadores de celulares na Penitenciária Estadual de Parnamirim.
A sensação de insegurança foi o maior sentimento expressado pelos mossoroenses nesse período. Olhar sempre atento, menor circulação das pessoas no comércio, ausência de alunos nas escolas. Rotina alterada, que só agora começa a ser normalizada.
Os reflexos dessa mudança puderam ser sentidos em diversos aspectos. A economia foi fragilizada, com faturamento de algumas lojas caindo em cerca de 50%. “Quando não se tem tranquilidade às pessoas não querem sair de suas casas. Comprar nem sempre é uma necessidade imediata, então fica pra depois e com isso a economia não gira”, afirma o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Mossoró, Getúlio Vale.
A secretária do lar Ireneide Nascimento diariamente deixa sua filha de seis anos na escola e segue ao seu trabalho, mas as constantes ameaças às escolas não permitiram que a mãe seguisse tranquila a sua atividade diária. Fazendo vigília quase todo o período de aula da filha para certificar que tudo não passava de boato, Ireneide foi perdendo aos poucos o medo. “Passei três dias chegando atrasada no meu trabalho, mas meu medo de perder o emprego foi menor do que deixar minha filha na escola”, conta.
A secretária, que mora em um bairro periférico na cidade de Mossoró, afirma que a tranquilidade começou a voltar quando percebeu que muita coisa do que era divulgado não passava de boataria espalhada pela própria população e depois que viu o trabalho constante das polícias nas ruas. “Quando abri a porta de casa para deixar minha filha na escola e ia trabalhar tinha tanto carro de polícia na esquina que montei na bicicleta e saí bem confiante. Ah se fosse assim sempre”, acrescenta ela, reflexiva.
Lutar contra a boataria é um dos maiores desafios. “Hoje, todo mundo tem acesso a redes sociais e são nesses espaços que as mentiras são disseminadas e causa os maiores prejuízos. Infelizmente para a população vale mais acreditar nos boatos do que na versão oficial dos agentes de segurança”, destaca o secretário municipal de Segurança Pública de Mossoró, tenente-coronel Alvibá Gomes.
A funcionária pública Luciene Araújo todo dia se desloca até a cidade de Caraúbas. Nesses últimos dias ela constatou que os carros que fazem linhas para a cidade estavam em número reduzido. “Eu tenho um carro fixo para fazer a viagem todo dia, e nos dias de maior tensão o motorista não fez a viagem, temendo algum imprevisto durante o caminho”, comenta.
Ataques em Mossoró
Para a Secretaria Municipal de Segurança Pública, que tem dado sequência a um trabalho integrado com a Polícia Militar, Polícia Civil, e Bombeiros, os ataques que aconteceram em Mossoró e região nada têm a ver com as instalações de bloqueadores, tampouco são ordens vindas pelas facções criminosas que agiram na capital. “Os meliantes aproveitaram o clima de tensão vivido pelos potiguares para cometer delitos e causar pânico na população”, afirma Alvibá.
Em Mossoró, os agentes de segurança atuam de forma integrada para garantir eficiência do trabalho. Como declarou o Alvibá Gomes, as forças de segurança na cidade trabalham em irmandade. “As polícias estão trabalhando em parceria e distribuídas em toda a cidade, principalmente nos pontos que apresentam maiores reincidências de crime”, frisa.
Consequências
Diante desse sentimento de medo, a orientação feita pela psicóloga Niédia Paiva é que a rotina não deve mudar diante de boatos, e os pais não devem se apavorar e passar insegurança aos filhos. “O medo pode gerar traumas para o resto da vida, os pais precisam filtrar as informações e manter a calma e tranquilidade, principalmente na hora de lidar com os filhos”, explica.
Para muitos, a lição que se pode tirar desses acontecimentos é que, quando necessário a polícia faz acontecer. “Nunca se viu a polícia querendo mostrar tanto serviço como ultimamente. Precisa a bandidagem agir para as autoridades levantarem”, dispara o estudante Lucas Bandeira.
Mesmo com o clima ameno, muitos estudantes estão pagando o preço pela perda do transporte coletivo, realidade enfrentada por municípios como Governador Dix-sept Rosado. Muitos comerciantes perderam a expectativa de faturamento nesse Dia dos Pais, muitas mães de família chegaram atrasadas em seus serviços, muitas crianças se apavoraram na escola temendo ataques de bombas, muitos taxistas não fizeram sua rota.
Foram dias de medo que vão ficar para a história do povo norte-rio-grandense. Mas, que a intensificação do serviço e a vontade de servir daqueles que são responsáveis por passar segurança à sociedade não cesse ao final de tudo.