27 ABR 2024 | ATUALIZADO 08:55
POLÍTICA
Da redação
29/08/2016 08:47
Atualizado
13/12/2018 00:05

“Temo pela morte da democracia”, afirma Dilma no Senado

“Cassar em definitivo meu mandato é como me submeter a uma pena de morte política”, disse a presidente afastada.
Agência Senado
Em seu discurso de defesa aos senadores na manhã desta segunda-feira (29), a presidente afastada Dilma Rousseff negou que tenha cometido qualquer crime de responsabilidade. Para ela, sua eleição feriu interesses da elite econômica e política que, junto com a imprensa e embasados por uma frágil retórica jurídica, pretendem promover uma ruptura democrática e afastá-la do poder injustamente.

"Receio que a democracia seja condenada junto comigo", disse. Em outro momento, destacou que teme também "pela morte da democracia".
Dilma afirmou que um futuro governo de Michel Temer será usurpador, já que, no presidencialismo, não basta a perda de maioria parlamentar para afastar um presidente, mas sim a ocorrência de crime de responsabilidade grave e comprovado.

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"Não é legitimo afastar o chefe de Estado e de governo por não concordarem com o conjunto da obra, é o povo, só o povo, nas eleições. E nas eleições o programa de governo vencedor não foi esse", observou.

Para a presidente afastada, o governo interino, caso seja efetivado, atacará as conquistas obtidos nos últimos anos. Modificações e retiradas de direitos da Previdência Social, a revisão de garantias previstas na Consolidação das Leis do Trabalhos (CLT), avanços importantes para os negros, as mulheres e a comunidade LGBT estarão todos comprometidos pela submissão a princípios ultraconservadores, observou.

Eduardo Cunha

Dilma Rousseff afirmou que o deputado afastado Eduardo Cunha foi um dos artífices para se alcançar o clima político necessário para a desconstituição do resultado eleitoral de 2014, permitindo a abertura do processo de impeachment. A presidente afirmou não ter cedido à "chantagem explícita" para impedir o início do processo de cassação do mandato do deputado.

"Se eu tivesse me acumpliciado com a improbidade e com o que há de pior na política brasileira, eu não correria o risco de ser condenada injustamente. Quem se acumplicia ao imoral e ao ilícito, não tem respeitabilidade para governar o Brasil", alegou.

Antes disso, disse Dilma, os derrotados nas eleições tudo fizeram para desestabilizar o governo eleito, numa afirmação do "quanto pior, melhor", com um ativismo político que se tornou elemento central para a retração do investimento e para o aprofundamento da crise econômica. Eduardo Cunha foi fundamental para dificultar a aprovação de projetos importantes para o reequilíbrio das contas públicas e para permitir que "pautas bombas" passassem pelo crivo do Parlamento.

"Sem essas ações, o Brasil certamente estaria hoje em outra situação política, econômica e fiscal", opinou.

A força dos que queriam evitar a continuidade da "sangria" de setores da classe política, investigados por corrupção e desvio de dinheiro público também foi essencial para desestabilizar a sua gestão, disse Dilma Rousseff. Segundo a presidente afastada, esse é o preço que ela pagou por permitir, sem qualquer tipo de interferência, o trabalho livre do Ministério Público e da Polícia Federal.

Processo Legal

Para Dilma, o processo de impeachment está marcado por desvio de poder. Apesar de respeitar a ritos e prazos, a denúncia não se baseia em uma acusação justa, o que fere a democracia. Não há respeito ao devido processo legal quando a opinião de grande parte dos julgadores é divulgada antes do exercício final do direito de defesa. Nem quando dizem que a condenação não passa de uma questão de tempo, observou.

"Cassar em definitivo meu mandato é como me submeter a uma pena de morte política", disse.

Ela disse se sentir submetida a mais um julgamento em que a democracia tem assento, junto com ela, no banco dos réus: na primeira vez, foi condenada por um tribunal de exceção. Agora, está sendo condenada por juízes que foram eleitos, como ela, e que colocam a democracia em risco.

"Por duas vezes vi de perto a face da morte: quando fui torturada por dias seguidos, submetida a sevícias que nos fazem duvidar da humanidade e do próprio sentido da vida, e quando uma doença grave e dolorosa poderia ter abreviado minha existência. Hoje, eu só temo pela morte da democracia, pela qual, muitos de nós lutamos com o melhor dos nossos esforços", disse, emocionada.

Com informações da Agência Senado
 
 

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