O Brasil inteiro parece reviver neste sábado, 3 de dezembro, a trágica notícia do acidente com o avião da Lamia que transportava a delegação do clube Chapecoense, vitimando 71 pessoas, entre jogadores, comissão técnica, tripulantes e jornalistas.
Com a chegada dos corpos a Chapecó, as lágrimas que haviam cedido espaço à perplexidade voltaram a cair, dessa vez com mais intensidade.
Das 71 vítimas, 50 foram levadas para serem veladas inicialmente na Arena Condá, palco de muitas vitórias do Chapecoense. A chuva recepcionou os jogadores, que voltaram para casa não como campeões de um torneio internacional, não entraram no estádio ovacionados pela possível vitória contra o Atlético Nacional, entraram como ídolos, agora eternos, de uma cidade apaixonada pelo clube que vivia sua melhor fase na história.
O Portal MOSSORÓ HOJE, com o apoio de Joyce Gabriela, mossoroense que vive há cerca de um ano em Chapecó, ouviu o relato de alguns moradores da cidade que estiverem neste sábado na Arena Condá, despedindo-se dos seus ídolos. Confira abaixo, os depoimentos na íntegra.
“É uma dor muito difícil de explicar, porque Chapecó era muito unida por conta do time, o pessoal acompanhava com muita garra, é difícil conhecer alguém de Chapecó que nunca tenha ido ao estádio, que não conhecesse algum dos jogadores, que eram muito próximos da população. É um sentimento de perda de um familiar, é uma perda muito difícil para a cidade toda.
Os jogadores eram muito carinhosos com os fãs, abraçavam todo mundo na rua, tiravam fotos, nunca foram esnobes, não deixavam o sucesso subir à cabeça, muitos deles eram evangélicos, frequentavam as igrejas que nós frequentamos, o convívio era muito bacana. Eles não eram só pessoas que vestiam a camisa e representavam a cidade, eram parte da população. Eram pessoas comuns. Eram muito mais do que jogadores.
Vai ser muito difícil a cidade se reerguer, vamos ter que passar por um período muito grande de luto para conseguir aceitar essa catástrofe. Vai ser algo sempre lembrado por todos nós"
Luiza Francelino – promotora de uma operadora de telefonia móvel
“O momento em que chegou a notícia em Chapecó, não foram pessoas que haviam morrido, mas um pedacinho de que cada um de nós que caiu lá na Colômbia, um pedaço do coração de cada chapecoense foi junto com o avião, para ele voltar a ser reconstruído não vai ser fácil. O sentimento é devastador, não foi apenas um time de futebol que se foi, foram 71 famílias, 200 mil pessoas, uma arena inteira se foi, vai ser difícil para Chapecó superar isso, a cada dia que que você passa em frente ao estádio percebe que o time que você torcia desde pequeno não está mais lá.
Não vai ser hoje, nem amanhã que iremos superar. Quem sabe juntos nós iremos conseguir esquecer a dor ou apenas superá-la? Todos os dias vamos lembrar os momentos bons, os títulos. Como frequentador do estádio vai ser difícil saber que os meus ídolos não estarão mais lá, que a energia que eu sentia a cada gol não vai ser mais a mesma, mas eu tenho fé que um dia todos nós iremos conseguir entrar no estádio com a mesma alegria que vinha acontecendo de uns meses e dias para cá"
Luan Antônio Fortes – vendedor
“O sentimento no estádio é que até o céu chorou. Eu nunca vi tanta chuva e ao mesmo tempo tanto fervor dentro de um só estádio, as pessoas clamando por seus jogadores, amigos, as famílias chorando por seus filhos, irmãos, pais. Não há uma pessoa só sequer que não tenha se emocionado com tanta fatalidade e tragédia.
Eu vivi muito tempo no Rio Grande do Norte, sou potiguar com muito amor e carinho, mas pude ser acolhida por uma cidade maravilhosa, de pessoas pacatas, simples e é bem complicado, é inevitável a gente não chorar vendo essas pessoas chorarem pelos seus ídolos, e não só ídolos jogadores de futebol, são pessoas que construíram um sentimento de luta, garra por tudo aquilo que Chapecó sempre buscou. Eu posso te dizer, é de tamanha tristeza, uma dor sem explicação, espero que todos nós, inclusive eu que não sou daqui, consigamos superar essa tragédia".
Joyce Gabriela – vendedora
"Todos estão sentindo muita dor, porque era o time da nossa cidade, e a gente tinha convivência, conhecia, muitos tinham contato pessoal com os jogadores e isso dói muito. Mesmo quem não conhecia pessoalmente está sendo solidário, o pessoal de Chapecó está sofrendo muito.
Todos os familiares estavam com acompanhamento de psicólogos, foram preparados, mas quando os caixões chegaram a maioria das famílias entrou em desespero, não acreditou que ali dentro estava aquela pessoa que saiu para ganhar uma competição, isso é bem difícil de acreditar.
Sempre vou lembrar da alegria que ele tinha (Marcelo Augusto, zagueiro do Chapecoense), e de todas as palavras que ele sempre dizia para contagiar a gente, quando a gente estava triste ele sempre falava: ‘estou contigo, hein?’, nunca vou esquecer isso".
Karina de Almeida – estudante, amiga pessoal de Marcelo Augusto