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ESPORTE
Da redação
05/02/2017 19:39
Atualizado
13/12/2018 12:49

Eu, o Nogueirão, comunicadores irresponsáveis e o juiz Assis Amorim

Não havia como ter qualquer contato com Assis Amorim e não conhecer suas famosas histórias
Wilson Moreno
Este domingo, 5, foi de lembranças, saudades e muitas histórias relacionadas ao ex-vereador, ex-deputado e juiz aposentado Assis Amorim, que faleceu em sua residência por volta das 7h30 deste sábado, 4, vítima de problemas cardiorrespiratórios.
 
Não havia como ter qualquer contato com Assis Amorim e não conhecer suas famosas histórias. Ele não levava problemas a diante. Ele ia adiante e os resolvia. E fazia isto com coragem, zelo, responsabilidade, e sempre com muita humanidade.

Em 2004, a Lida Desportiva Mossoroense aceitou que as equipes Baraúnas e Potiguar jogassem as partidas validas pelo Campeonato Estadual no Estádio Manoel Leonardo Nogueira, mesmo sabendo que os lances de arquibancadas da ala oeste estavam arriando.
 
Eram conscientes também que vestiários estavam imundos e que as pilastras da ala leste estavam comprometidas. A área de cabines de TV, numa escala menor, também não reunia nem de longe segurança para quem assistia e transmitia os jogos.
 
Fizemos inúmeros alertas em relação à situação dos lances de arquibancadas do lado oeste, no entanto, os jornais (inclusive o que eu trabalhava) e as rádios ignoraram. Descobri que os Bombeiros não haviam liberado o estádio para jogos e mesmo assim haviam jogos realizados.
 
Juntei documentos, inclusive de engenheiros de segurança, demonstrando imensa preocupação com os lances de arquibancadas. Na medida que o inverno avançava, mais afundava as piladas e mais lances de arquibancadas de concreto arriavam.
 
Levava a documentação para os jornais e era ignorado. O perigo de uma tragédia de enormes proporções era solenemente ignorado pelo então presidente da LDM, Simone de Gumércia, e seus auxiliares, assim como também pela imprensa, apesar de dá para ver a olho nu.
 
O campeonato já caminhando para a final entre Potiguar e América. O primeiro jogo estava previsto para ser no Nogueirão. Era certeza de grande público e a euforia dos torcedores era imensa. Ali estava a possibilidade real do Potiguar finalmente ser campeão estadual.
 
Dentro da Redação do Jornal de Fato, com documentos e fotos, ouvir o diretor da LDM planejar colocar 25 mil torcedores no Nogueirão. Até então já tinha ouvido falar em público de 12 mil e o estádio ficava lotado, completamente lotado em todas suas áreas.
 
A minha preocupação cresceu. Voltei ao Estádio e fiz mais fotos e novamente percebia que as arquibancadas do lado Oeste estavam arriando cada vez mais. Estava nas súmulas dos árbitros (Isac Márcio) as péssimas condições dos vestiários. Haviam equipes que se vestiam nos ônibus.
 
Como a mídia tradicional de Mossoró, envolvida na campanha pela promoção do jogo, não mostrava a possibilidade real de uma tragédia se colocasse 25 mil torcedores no Nogueirão, chamei a promotora de Justiça Ana Ximenes e entreguei os documentos.
 
Ana Ximenes (foto à esq.) imediatamente ingressou na Justiça pedindo a interdição do estádio. O juiz Expedito Ferreira de Sousa, hoje desembargador e presidente do Tribunal de Justiça do Estado, determinou a interdição do Estádio Manoel Leonardo Nogueira.
 
Reconheceu, documentalmente, o risco iminente de uma tragédia.
 
Começou o calvário deste repórter. As rádios, através de radialistas (menos Fabio Oliveira e Jota Nobre) irresponsáveis fizeram uma campanha difamatória contra minha pessoa tão forte que o jornalista César Santos, do Jornal de Fato, determinou minha demissão do jornal.
 
A ordem era para não mais passar nem perto do Jornal de Fato, para não incorrer em risco de a empresa ser apedrejada. Ciro Robson e Pé Quente fizeram uma carreata descendo a Avenida Presidente Dutra para forçar a Justiça a liberar o Estádio para o jogo final
 
Em discursos inflamados, irresponsáveis, incitaram os torcedores contra este repórter e o jornal que eu trabalhava. Por preocupação, foram colocadas viaturas da Polícia Militar perto do Jornal de Fato. Eu tive que mudar de endereço. Inúmeras vezes foi abordado na rua por ignorantes aos gritos.
 
Genivan Vale, que futuramente viria a se eleger vereador de Mossoró, foi um deles. O clima estava insustentável. Diziam que eu havia recebido dinheiro do América para prejudicar o Potiguar e se quer tinham a dignidade de verificar in loco as condições do Nogueirão.
 
Foi quando, num plantão judicial, entrou na história o juiz Assis Amorim. Ao contrário de “repórteres”, “Radialistas” e Jornalistas que no linguajar popular desciam a ripa neste repórter, Assis Amorim foi ao estádio, pessoalmente, e comprovou tudo que estava documentado.
 
Não contou duas vezes, manteve a interdição dos locais apontados por este repórter como perigosos: lances de arquibancadas leste e Oeste, determinou que serviços básicos de limpeza fossem realizados e liberou o jogo para 12 mil torcedores. Mandou instalar telões fora.
 
O jogo foi realizado e o Potiguar venceu o América por 4 x 0. Não pude assistir o jogo e menos ainda trabalhar, por uma questão de segurança. Relataram que os jogadores do Potiguar jogaram como se fosse o último jogo da vida deles. Venceram e foi uma grande festa.
 
Dois dias depois do primeiro jogo da final do Estadual de 2004, o qual o Potiguar Sagrou-se pela primeira vez campeão Estado, o CREA, a Prefeitura de Mossoró, Bombeiros e desportistas vistoriaram as alas leste e Oeste dos lances de arquibancadas e imediatamente a derrubaram.
 
Comprovaram precisamente o risco iminente que citei nas provas e que a promotora Ana Ximenes, no cumprimento do seu dever, aplicou a intervenção judicial para evitar uma tragédia, tendo sido prontamente atendida e nunca reconhecida socialmente pelo feito.
 
Posterior a este fato, a Prefeitura de Mossoró, que na época tinha dinheiro em caixa, investiu mais de R$ 7 milhões no Estádio. Construiu novos lances de arquibancadas, cabines de TV, Rádio, Cadeiras e novos vestiários, tanto para profissionais, como para amadores.
 
Quanto a este repórter, apenas um jornalista, usando a dignidade dos homens, proferiu um pedido de desculpas: César Santos. O fez em sua Coluna no Jornal de Fato. Ele determinou também a suspensão de minha demissão deste jornal. Lá fiquei por mais dez anos.
 
Vários outros “jornalistas” e “radialistas” que me criticaram, de forma irresponsável, assim como aqueles que usaram o espaço de mídia para me chacotear, simplesmente não tiveram mais coragem de olhar nos meus olhos. Se resumiram ao silêncio dos fracos.
 
A mim, a certeza do dever cumprido.
 
O então juiz Assis Amorim, num encontro casual, disse que um estádio construído por Renê Dantas jamais cairia, porém, o inverno daquele ano de 2004 havia sido muito forte e realmente deteriorado as pilastras nas duas alas mostradas nos documentos.

Foto: Wilson Moreno
 
O Nogueirão só tem a estrutura que tem hoje, graças a este ocorrido em 2004.
 

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