Lembram da fila de desempregados que dobrava o quarteirão próximo à Praça dos Esportes em agosto do ano passado?.
Cerca de 2000 pessoas passaram o dia para entregar currículos para concorrer a uma das 134 vagas ofertadas pela empresa Porcellanati, em Mossoró. A fila começava na Secretaria de Desenvolvimento Econômico, na Rua Rui Barbosa, Alto da Conceição, e parava na Avenida Rio Branco, próximo a empresa Socel. Alguns candidatos ficaram na fila desde as primeiras horas do dia.
A Prefeitura de Mossoró vendeu a promessa e fez os mossoroenses correrem em busca de algo que até a própria prefeitura não tinha certeza. A própria empresa já havia firmado compromisso com o sindicato e com a Justiça do Trabalho para aproveitar a mão de obra dos ex-servidores.
O Plano de Recuperação Judicial da Itagres, empresa catarinense responsável pela fábrica da Porcellanati em Mossoró, foi rejeitado na continuação da 2ª Assembleia Geral de Credores, realizada no município de Tubarão (SC) no mês anterior ao festival anunciado pela Prefeitura. As dívidas da empresa com o Banco do Nordeste do Brasil (BNB), que totalizam R$ 77.636.706,35, foram determinantes para a rejeição do plano. Logo, a empresa não tinha como voltar a funcionar.
A correria para entregar os currículos foi tamanha que a Prefeitura pressionou os candidatos com cadastramentos diários de apenas 300 pessoas, num total de 2400 atendimentos até o fim da seleção. Os interessados tinham até dia 24 de agosto para demonstrar interesse para as vagas de mecânico, eletricista, controlador, operador de máquinas, controlador de esmaltação, operador de esmaltação, auxiliar de laboratório, forneiro, técnico de seguranla, conferente de estoque, auxiliar de expedição, assistente de logística, conferente de carregamento, operador de expedição, portaria, auxiliar de serviços gerais e balanceio.
Em Mossoró, a Prefeitura de Mossoró investiu verbas publicitárias para vender a ideia de que a cidade se tornaria um pólo cerâmico, de que a Itagrês atrairia empresas-satélites, que forneceriam matéria-prima para a produção de revestimentos cerâmicos. Como os desempregados que passaram o dia na fila esperando uma vaga que sequer existia, a ilusão do pólo cerâmico tinha apenas efeitos eleitorais.A presidente da Câmara, Izabel Montenegro, chegou a mostrar indignação em sessão em março do ano passado.
“Mossoró não pode viver eternamente da fruticultura, do sal, que são atividades sazonais, e ficar na esperança do petróleo e gás. Precisamos de mais. Cadê o distrito industrial? Cadê a Porcelanatti, o polo cerâmico?”, perguntou.
No informativo "Senado Notícias", Rosalba Ciarlini alimentava este discurso, ao destacar que a fábrica "deverá funcionar como atrativo para que se instale na região um pólo cerâmico, que trará outras empresas para Mossoró. Só a fábrica da Itagres gerará cerca de 3.500 empregos diretos ou indiretos na cidade".
A nova promessa era de que a Porcelanatti recomeçaria a funcionar no início deste ano.
Quem estava na fila contornando o quarteirão e acreditou no pólo cerâmico que só Rosalba Ciarlni e seus seguidores viram, pode acreditar desta vez: foram todos enganados.