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NACIONAL
COM INFORMAÇÕES DO JN
29/01/2020 09:51
Atualizado
29/01/2020 09:51

Nomeação do novo presidente da Capes preocupa comunidade científica

Benedito Guimarães Aguiar Neto causou polêmica ao defender o criacionismo, em 2019, e dizer que pretende disseminar essa ideia na educação básica. O Núcleo de Apoio à Pesquisa em Educação, Divulgação e Epistemologia da Evolução Charles Darwin, da Universidade de São Paulo, afirma que se a prática do criacionismo for consumada, “afrontará a própria Constituição, ao colocar o estado brasileiro a favorecer certas denominações religiosas, em detrimento de outras. E ainda condenará o Brasil a caminhar de maneira cada vez mais lenta na trilha da melhoria da educação pública”.
FOTO: REPRODUÇÃO

O MEC está enfrentando uma nova polêmica, desta vez, na área de pós-graduação. A discussão gira em torno da nomeação do novo presidente da Capes, órgão responsável pelas bolsas de mestrado e doutorado.

Benedito Guimarães Aguiar Neto foi reitor por quase nove anos da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. Em um evento na universidade, em 2019, ele defendeu o criacionismo.

“Queremos colocar um contraponto à Teoria da Evolução e disseminar que a ideia da existência de um design inteligente pode estar presente a partir da educação básica, de uma maneira que podemos, com argumentos científicos, discutir o criacionismo”.

O jornal “Folha de S.Paulo” destacou a polêmica na sexta-feira (24), quando Benedito Aguiar foi nomeado presidente da Capes.

A teoria criacionista se baseia na fé na criação divina, ou seja, a tese de que Deus criou a vida. A teoria chamada de “design inteligente” concorda com essa origem divina, argumenta que há sistemas tão complexos que só poderiam ser fruto de um criador inteligente.

A comunidade científica refuta tanto o design inteligente quanto a teoria criacionista que o inspirou.

“É lamentável. O criacionismo é um dos aspectos mais retrógrados da atualidade. É equivalente a pensarmos, por exemplo, que a Terra é plana. Existe um tipo de criacionismo que acredita que a Terra é plana”, disse o professor Sandro José de Souza, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

O Núcleo de Apoio à Pesquisa em Educação, Divulgação e Epistemologia da Evolução Charles Darwin, da Universidade de São Paulo, afirma que não há dúvida de que “o processo evolutivo seja a melhor explicação para os fenômenos da vida, uma conclusão aceita há mais de um século e atualmente endossada inclusive por muitas instituições religiosas, como o Vaticano”.

O núcleo ainda afirma que se a prática do criacionismo for consumada, “afrontará a própria Constituição, ao colocar o estado brasileiro a favorecer certas denominações religiosas, em detrimento de outras. E ainda condenará o Brasil a caminhar de maneira cada vez mais lenta na trilha da melhoria da educação pública”.

“Design inteligente não é ciência. Mas, ao se travestir de ciência, ele prioriza pesquisas científicas que comprovem que isso é ciência. Não estão comprovando coisa nenhuma, mas se gasta dinheiro — dinheiro público e dinheiro que poderia ser investido em ciência de verdade”, explicou Natália Pasternak, professora do Instituto Questão de Ciência da USP.

A “Science”, uma das revistas acadêmicas mais prestigiadas do mundo, disse que a nomeação de um defensor do criacionismo para comandar a agência que avalia os programas de estudo de graduação no Brasil “deixou cientistas preocupados sobre a interferência da religião na ciência e na política educacional”.

A revista destacou que é a segunda pessoa que defende o criacionismo a ter lugar importante no governo Bolsonaro. Fez referência à ministra Damares Alves, que já afirmou que a Igreja Evangélica perdeu espaço na ciência quando deixou a Teoria da Evolução entrar nas escolas.

A Capes, que atua na formação de professores da educação básica e financia bolsas de estudo de pós-graduação, vai ter em 2020 apenas 67% dos recursos que teve em 2019.

Os dados são da Lei Orçamentária Anual. Segundo a Capes, em 2019, o orçamento passou de R$ 4 milhões. Para 2020, estão autorizados na lei R$ 2,8 bilhões.


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