19 ABR 2024 | ATUALIZADO 07:32
MOSSORÓ
ANNA PAULA BRITO
11/05/2021 16:02
Atualizado
12/05/2021 08:49

“Minha segunda casa”, diz Jureide Brito, servidora do Hospital Tarcísio Maia há 35 anos

No mês em que o Hospital Regional Tarcísio Maia celebra 35 anos de existência, o MOSSORÓ HOJE conversou com uma das servidora mais antigas da unidade hospitalar, tendo atuado no local desde a abertura de suas portas, no dia 10 de maio de 1986, e permanecendo até os dias atuais. No local, Jureide relata momentos que marcaram sua trajetória, lembra com carinhos dos primeiros anos do hospital e fala sobre como a equipe passou por surtos de cólera, dengue e vem superando a pandemia da Covid-19.
“Minha segunda casa”, diz Jureide Brito, servidora do Hospital Tarcísio Maia há 35 anos. No mês em que o Hospital Regional Tarcísio Maia celebra 35 anos de existência, o MOSSORÓ HOJE conversou com uma das servidora mais antigas da unidade hospitalar, tendo atuado no local desde a abertura de suas portas, no dia 10 de maio de 1986, e permanecendo até os dias atuais. No local, Jureide relata momentos que marcaram sua trajetória, lembra com carinhos dos primeiros anos do hospital e fala sobre como a equipe passou por surtos de cólera, dengue e vem superando a pandemia da Covid-19.
FOTO: CEDIDA

Surto de cólera, dengue, zika e agora a pandemia da Covid-19. Perdas irreparáveis de amigos e familiares, mas recuperações que podem ser comparadas a verdadeiros milagres. Tudo isso foi vivido pela servidora Jureide de Brito Almeida nos 35 anos de atuação no Hospital Regional Tarcísio Maia.

Jureide é uma das primeiras servidoras do Hospital, tendo começado a trabalhar na unidade em 10 de maio de 1986, data em que o então Hospital Regional Tancredo Neves (HRTN) abriu as portas para se tornar referência em atendimento de urgência e emergência em Mossoró e região.

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Natural do povoado de Santo Antônio (hoje distrito de Santo Antonio), em Severiano Melo, ela conta que veio para Mossoró com apenas 10 anos de idade, com mais 3 irmãos e 3 colegas, para estudar e realizar o sonho de ser professora de História, curso que chegou a concluir na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).

No entanto, no final de abril de 1986, recebeu um convite para assumir uma vaga de emprego no Hospital Regional Tancredo Neves. Aceitou e, aos 21 anos, passou a ocupar uma das quatro vagas de arquivistas existentes na unidade.

“Iniciei ali como arquivista ao lado das colegas Francisca Antonia Montenegro, Gilcilene Maria da Silva e Lucia de Fatima Azevedo, no Setor do SAME (Serviço de Arquivo Médico e Estatística) que tinha como Chefe de setor Maria de Fatima Vieira Costa. No Início de tudo, todos os funcionários se conheciam, até porque o número era menor, e nos tratávamos como família, tipo assim, eu falo do meu irmão, mas não aceito que ninguém fale (rsrs), mexeu com um, mexeu com todos. Éramos muito unidos mesmo, do menor ao maior dos cargos”, conta.

Ela explica que o começo foi difícil, pois tinha que conciliar o trabalho no hospital, das 6h às 12h, com os estágios de professora, para concluir a faculdade de história, das 13h40 às 15h20, no Colégio Estadual. “Graças a Deus, muita gente me ajudava, entre elas, quero aproveitar pra agradecer a minha irmã Genir de Brito, que muito contribuiu para que eu conseguisse sobreviver a tudo”.

Jureide conta que no SAME conquistou a confiança da chefe e aprendeu todos os serviços daquele setor (arquivo, registro, estatística, internamento e informações) e ainda foi substituta da chefia em suas férias e licença.

“Em maio de 1991 com a chegada de um novo diretor a unidade, o Dr. Nilson Pedro Chaves, fui convidada a assumir a chefia do Same, visto que a minha chefe (Fatima Vieira) assumiria a chefia da Divisão de Serviços Gerais. Na chefia permaneci até abril de 2003, quando fui exonerada e automaticamente substituída após a mudança de governo”, diz.

A partir deste momento, passou a fazer parte da equipe da Assistente Social Josa Soares, na Assessoria de Recursos Humanos, até junho de 2013. Depois, atuou na central de diagnóstico (Setor de agendamentos de exames e cirurgias eletivas), ficando até 2016, quando recebeu o convite da Assistente Social Neuma Galdino para fazer parte do setor de internamento, retornando, assim, ao seu primeiro setor (SAME), onde está até hoje.

“A parte que mais me marcou foi o tempo que trabalhei no RH, pois tinha oportunidade de conhecer cada um dos servidores, chamá-los pelo nome, dar conselhos, mostrar a unidade, fazer cartinha de aniversário aos aniversariantes, festa em finais de semana, gincanas, reunir famílias e etc”, conta.


MOMENTOS MARCANTES

Se tratando de um hospital referência em urgência e emergência, não é difícil imaginar que foram muitos os momentos que marcaram a vida da servidora nos seus 35 anos de Hospital Regional Tarcísio Maia.

Jureide conta que entre eles está a perda de sua mãe, Neci de Brito Almeida, no dia 19 de abril de 2011. Ela estava internada na unidade e sofreu um infarto fulminante. A irmã mais velha, Genilda de Brito Almeida Moura, também faleceu na unidade. Ela lutava contra um câncer em fase terminal. Genilda foi a inspiração para que Jureide também realizasse um curso técnico em enfermagem tendo, inclusive, estagiado no hospital.

No HRTM, Jureide também perdeu outros familiares, assim como colegas de trabalho. Frisa a morte do pediatra Dr. Paulo Jansen, que não aconteceu no hospital, mas que ela diz que marcou profundamente a todos.

“Lembro perfeitamente do dia em que eu estava no plantão e chegou a notícia do acidente fatal do pediatra mais popular do Tarcísio Maia, Dr. Paulo Jansen, que, por sinal, era pediatra da maioria dos filhos dos funcionários. Ele era aquele médico que atendia nossos filhos a qualquer momento e ainda nos dava a medicação, quando ele tinha suas amostras grátis”, conta.

“Lembro também da perda recente, há poucos anos, do meu amigo José Ailson de Morais, da tomografia, quando retornava de sua cidade para um plantão e colidiu sua moto com uma vaca, morrendo no local. Esse dia foi muito triste para mim. Saber que uma pessoa que tinha ajudado a salvar tantas vidas, não pode fazer nada para evitar aquele acidente”.

Mais recentemente, perdeu os amigos Jane Eire, enfermeira, e o médico Clodovil Fernandes, ambos vítimas da Covid-19.

Entre as alegrias, Jureide lembra que teve a sua própria vida salva pela equipe do HRTM. Ela havia realizado a restauração de um dente em um outro local e o ferimento infeccionou devido a uma bactéria. A técnica de enfermagem precisou ser internada no hospital, permanecendo por 9 dias. Se não fosse o trabalho rápido da equipe, ela poderia ter tido uma infecção generalizada.

Também graças a equipe do hospital, Jureide ainda podem ter alegria de contar com a presença de suas duas irmãs mais nova, Josaneide Brito e Jailsa de Brito, seus irmãos, o mais novo e o mais velho, Julierme Brito e José Antônio de Brito, sua filha mais nova, Vanessa Almeida, além de muito outros entes queridos que chegaram a estar em situação muito grave, mas foram salvos pelo trabalho dos profissionais que lá atuam.

Ela, que também dá plantão no setor de internamento, conta que é sempre uma apreensão quando chega algum paciente, principalmente trazido pelo Samu, pois sempre fica uma sensação de que pode ser algum parente ou amigo.

“Mesmo quanto alguém que não conheço, eu procuro tratar bem e com muito respeito. A gente não deve nunca fazer diferenciação de pessoas. Aquela pessoa tá precisando de ajuda, ela não tá ali à passeio e eu sempre tento fazer o possível para ajudá-la”, diz.

Hoje, aos 56 anos, 35 deles vividos nos corredores do HRTM, Jureide lembra com carinho de tantos desafios que a equipe enfrentou e ressalta como um choque de gestão deu mais dignidade aos pacientes e servidores do local.

“No início, tínhamos atendimento laboratorial, clínico e odontológico. Também tinha, até 1994, a internação em obstetrícia. Lembro do surto de cólera e também da dengue, foram tempos difíceis para dar assistência e atender a uma demanda tão alta. No passado chegamos a atender mais de 300 pessoas por dia, hoje é porta regulada, não temos mais aqueles pacientes em corredores”.

Por fim, ela fala que sente muito orgulho de fazer parte da história do Hospital Regional Tarcísio Maia, sua segunda casa.

“Trabalho como se fosse o meu primeiro dia, e atender ao público é a parte que mais gosto, me faz bem, pois tenho oportunidade de ajudar alguém. Sou grata a Deus pela oportunidade que me deu de fazer parte dessa família. Poderia até já estar aposentada, mas tenho primeiro que aprender a conviver longe dali, sinto que ainda não é o momento de me afastar, ainda tenho muito a contribuir, acrescentar na vida da população que precisa desse serviço”, conclui.


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