14 MAI 2024 | ATUALIZADO 14:32
ESTADO
CARLA ALBUQUERQUE
04/09/2023 15:37
Atualizado
04/09/2023 15:38

A arte da mariscagem promovendo o empreendedorismo das mulheres de Grossos

O Portal Mossoró Hoje conheceu o trabalho da Associação das Mulheres Pescadoras e Artesãs do Município de Grossos, que desempenham entre outras coisas, a arte da mariscagem em um processo de captura contínua de mariscos de forma artesanal, para seu próprio sustento e comercialização. A atividade é extremamente importante, social e economicamente falando, para o município e contribui diretamente na vida das mulheres, que apesar dos desafios impostos pela prática, dão continuidade e transformam aquilo que vem da natureza, em um fonte de renda para suas famílias, além de manter viva a tradição repassada de geração a geração pelas mulheres das comunidades rurais.
O Portal Mossoró Hoje conheceu o trabalho da Associação das Mulheres Pescadoras e Artesãs do Município de Grossos, que desempenham entre outras coisas, a arte da mariscagem em um processo de captura contínua de mariscos de forma artesanal, para seu próprio sustento e comercialização. A atividade é extremamente importante, social e economicamente falando, para o município e contribui diretamente na vida das mulheres, que apesar dos desafios impostos pela prática, dão continuidade e transformam aquilo que vem da natureza, em um fonte de renda para suas famílias, além de manter viva a tradição repassada de geração a geração pelas mulheres das comunidades rurais.

“A mariscagem pra mim é tudo, é também um aprendizado, a minha mãe era marisqueira e se aposentou como pescadora, pra nós fica o exemplo de um trabalho digno como qualquer outro como advogado, comerciante, é uma experiência de vida”, ressalta.

É com essas palavras Navegante Mendonça define a arte da mariscagem praticada por um grupo de mulheres empreendedoras da cidade de Grossos. A Associação das Mulheres Pescadoras e Artesãs do Município de Grossos, enxergou na natureza uma oportunidade de trabalho e renda para suas famílias.

O Nordeste inteiro conta com 3. 338 km de praias em todo seu litoral, que vai do sul da Bahia ao extremo noroeste do estado do Maranhão. Todos os estados do Nordeste são banhados pelo oceano Atlântico, e é nesse litoral extenso que peixes, crustáceos e mariscos, encontram as condições ideais para reprodução.


No município de Grossos, na região do Costa Branca do Rio Grande do Norte, o marisco que vem da praia, coloca comida na mesa de inúmeras famílias nas comunidades de Barra, Pernabuquinho e Alagamar e, além de fonte de renda, é atividade importante na cadeia turística, social, gastronômica e também sustentável da cidade.

Um grupo de mulheres dessas comunidades, que já desenvolviam a prática da mariscagem, resolveram há 16 anos atrás, se organizar enquanto associação para juntas fortalecer o trabalho e garantir uma fonte de sustento para suas famílias.

Navegante Mendonça, uma das fundadoras e atual presidente da associação das Marisqueiras, conta que o projeto surgiu por volta de 2003, por sugestão de uma assistente social da cidade. A partir daí, sentiram a necessidade da criação da associação, que abriu espaço para mulheres marisqueiras expandirem seus trabalhos.

“O marisco sempre foi o carro-chefe da associação, até hoje, a maior parte da nossa renda vem do marisco, ele quem cobre tudo que precisamos fazer”, afirma Navegante.

Pratos à base de Marisco

Quando pensamos no marisco, mais conhecido na região como Buzo, Taioba e Sururu, logo nos vem à mente pratos como ensopados, farofa... mas o leque de receitas à base dessa proteína pode ir bem mais além.

No último dia 30 de agosto, as marisqueiras participaram de um curso de beneficiamento do marisco e reinventaram pratos já conhecidos acrescentando o marisco nas preparações e surpreenderam com a variedade de receitas que podem ser facilmente preparadas a partir do marisco.

“A maioria dos restaurantes só servem o ensopado, o caldo, os pratos mais conhecidos, nós decidimos inovar e fazer o escondidinho de buzo, a macarronada, coxinha de camarão, pastel de buzo, hamburguer de Marisco, almôndegas, que foi muito bem aceito em todos os eventos que participamos”, destaca a presidente.

A associação participou da 23 ª edição da Festa do Bode, em Mossoró, onde apresentaram os pratos à base do Buzo para degustação. “Não deu pra quem quis, todo mundo aprovou nosso pastel de Buzo”, comemorou a marisqueira. Quando questionadas sobre qual o segredo dos pratos, a resposta é simples, “Amor, nós fazemos cada receita com muito amor, por isso que é bom”.

Quando deram início aos trabalhos da associação, cerca de 30 mulheres faziam parte do grupo, atualmente, em torno de 16 estão associadas. Navegante conta que a associação abriu espaço para mulheres divulgarem seus trabalhos também como artesãs, confeccionando peças em crochê, renda de bilro e outros artigos feitos à mão. O mais recente trabalho das artesãs, são as peças produzidas a partir do pó da concha.

O ditado, nada se perde tudo se transforma, pode ser aplicado facilmente na associação das marisqueiras de Grossos. Com o reaproveitamento das conchas do marisco, é possível produzir peças decorativas como kit de banheiro, jarros de plantas, quadros decorativos, petisqueiras entre outros produtos que tem feito sucesso pelas feiras de artesanatos e praias da região.
"O projeto é esperança para cada mulher e cada menina que a gente pode incentivar, a ideia é aproveitar aquilo que a natureza nos oferece, transformar em arte e assim gerar renda para nossas famílias", afirmou Navegante.

O artesanato feito do pó da concha, foi desenvolvido em parceria com uma aluna de Doutorado da UFERSA, cuja tese tinha como fonte de estudo o reaproveitamento da concha após a retirada do marisco.

“É um projeto novo na associação, ainda estamos engatinhando para desenvolver novas peças, mas já está trazendo resultados positivos”, comemora.

Desafios

Essa dança de mãos cuidadosas, transmitida a cada geração de mulheres que vivem nessas comunidades, e que produz o sustento das famílias, exige uma rotina de trabalho cansativa que inclui catar, transportar, limpar, congelar e vender.

Os dias de retirada do marisco dependem do que elas chamam de maré boa, que é quando a maré baixa o suficiente para o marisco aparecer, e assim, facilita a retirada.

Elas passam de quatro a cinco horas trabalhando no mar, sob o sol forte, para ao final do processo vender o quilo do marisco por R$ 20, o que gera uma renda de R$ 600 por quinzena para cada marisqueira.

Hoje, a maior parte da produção é vendida em Grossos, outra parte é comercializada através da rede Xique Xique em Mossoró e mais recentemente, a associação está buscando uma parceria com um frigorífico da cidade de Icapuí no Ceará.

As condições de trabalho e as longas jornadas no mar, também são um desafio na vida dessas mulheres que precisam colocar literalmente a mão da massa diariamente. Mas elas decidiram desde cedo, que os cuidados com a saúde estariam presentes em todas as etapas de produção.

“Sempre tivemos esse cuidado com a nossa saúde, também em parceria com a Ufersa, temos um projeto que cuida da saúde da mulher marisqueira, nós recebemos atendimento com dermatologista, que nos cede protetor solar, camisas térmicas e chapéus pra gente se prevenir, porque sabemos que se não cuidar hoje, futuramente podemos adoecer”, comenta.

Outro ponto de apoio para a saúde das marisqueiras, é o posto de saúde do município de Grossos, localizado na comunidade Pernambuquinho. Na unidade, as mulheres tem acesso a atendimento médico e exames de rotina.

O trabalho pesado, as muitas horas no mar, a incerteza diante das dificuldades do dia a dia, nada disso as impede de exercer esse ofício tão cultural e tradicional que representa para elas muito mais do que apenas uma forma de sobrevivência, a mariscagem se tornou a identidade dessas mulheres que veem na atividade, uma forma de se expressar e mostrar pra o mundo o quanto o seu trabalho é importante e faz diferença na vida de muitas pessoas ao seu redor.

“Queremos que a associação continue, e outras mulheres participem para dar continuidade a tudo que nós já conquistamos. Queremos que assim como nós, elas enxerguem na natura um oportunidade”, finaliza.

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