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ESTADO
Da redação
13/01/2016 06:50
Atualizado
13/12/2018 02:02

Assuense nota mil na redação do ENEM atribui conquista ao esforço dos pais

Filho de empregada doméstica e de um vendedor, o assuense Fábio Constantino é o orgulho da família e dos amigos. Com a nota do ENEM, ele pretende ingressar no curso de Medicina.
Arquivo Pessoal

Filho de empregada doméstica e de um vendedor, o assuense Fábio Constantino Lopes Júnior, de 19 anos, é o orgulho da família e dos amigos no município de Assu, região do Vale do Açu do Rio Grande do Norte. O motivo vai além da nota 1000 na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2015.

Formado em Agroecologia pelo Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), no município de Assu, onde mora, Fábio afirma que os pais estão bastante orgulhosos, e ele feliz por conseguir retribuir todo o esforço feito por eles pela sua educação.

“Meu pai me dizia que eu deveria tentar ser o melhor para que eu pudesse buscar meus objetivos com mais afinco. Desde que eu era uma criança, minha mãe desistiu da vida dela para se dedicar a minha, ela me teve muito nova, 14 anos, abandonou a escola e começou a trabalhar, sempre com dificuldade, mas fazendo o possível dela”, conclui o estudante.

Com os 1000 pontos conquistados, o estudante busca cursar Medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) na capital potiguar. Até agora, ele está em primeiro lugar na lista de nota de corte, de acordo com o Sistema de Seleção Unificada (Sisu).

“Eu, como preto, pobre e aluno do interior, filho de empregada doméstica, sempre quis retribuir com orgulho o esforço que meus pais fizeram para me dar educação - minha mãe já chegou a trabalhar os três turnos. Também sempre quis uma profissão que ajudasse as pessoas. Gostava muito de ciências e no ensino médio aprendi que gostava de biologia. Então Medicina se encaixou em todos os meus objetivos, virando meu sonho”, detalha o jovem.

Fábio conta que o resultado foi surpreende até mesmo para ele. “Eu achava que ia tirar uma nota boa, mas não 1000. Eu me senti seguro”, conta empolgado. Em 2015, o estudante fez o Enem pela segunda vez. Em 2014, tirou nota 620 na redação. O que, segundo ele, foi suficiente para entrar no curso de Agroecologia. Já no ano seguinte, resolveu estudar para buscar o sonho que se tornou a medicina.

Perguntado sobre as notas das outras matérias, ele foi rápido: enviou um “print” da página do Enem com o resultado. No total, o jovem fez 635,8 pontos em Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; 713,6 em Ciências da Natureza e suas Tecnologias; 703,7 em Ciências Humanas e suas Tecnologias e 782 em Matemática e suas Tecnologias.

O processo de estudo foi bem “hardcore”, como definiu o estudante. A expressão define algo como extremo. A rotina é estudar das 7h às 22h quase todos os dias, talvez por isso, e pela habilidade com o tema, Fábio conta que se sentiu seguro para escrever a redação.

“Meu posicionamento político e visão de mundo sempre foram mais sociais. Ajudar, defender e lutar pelos menos desfavorecidos e injustiçados se tornou uma meta. Diante disso, já me sentia habituado ao tema, já que um dos meus principais combates é contra o machismo”.

O jovem estudou o ensino fundamental em escola particular, graças a uma bolsa integral que conquistou, e também fez cursinho de forma gratuita. Já o ensino médio cursou em escola pública.

Questionado sobre o que gosta de escrever, Fábio é direto. “Poesia. Tenho quase um livro (risos)”, diz ele. Em tom de brincadeira, a reportagem questionou quando seria o lançamento do livro. “Quando me formar, para seguir o exemplo de Augusto dos Anjos, que era negro e poeta”, concluiu.

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