Já pensou em não poder sair na rua por medo de ser assaltado? Andar olhando de um lado para o outro assustado com o barulho de qualquer motocicleta se aproximando? Pois é, situações como essas estão se tornando cada vez mais frequentes diante da onda de assaltos registrada atualmente.
Estudantes, trabalhadores, padarias, lojas.... Diversos são os alvos dos assaltantes. A frase “passe o celular” é uma das temidas pelas vítimas. Diante disso, a pergunta que não quer calar: o assalto pode causar traumas psicológicos? Segundo a psicóloga Niédia Paiva, sim. Para a especialista, o trauma é uma desorganização e sobrecarga emocional que ocorre depois de um evento como um assalto.
“Comumente após um assalto, a pessoa apresenta estado agudo de estresse, onde os sintomas são agitação, lembranças recorrentes do fato, desorientação, entre outros, porém, isso é normal”, alerta.
A estudante Magdally Ferreira é especialista no assunto, infelizmente. Ela foi assaltada entre cinco e seis vezes – não lembra a quantidade certa. Nos dois primeiros assaltos, a estudante reagiu, pois percebeu que o assaltante não tinha arma. No entanto, se machucou. Nos dois assaltos seguidos, também não usaram arma. Mas, ela com medo preferiu não reagir.
“Devido a tudo isso, acredito ter ficado muito abalada emocionalmente. Tanto que qualquer barulho de moto ou pessoa desconhecida se aproximando já começo a ficar com medo, coração acelerado, nervosa. Agora, após um certo tempo, fico com certo receio, mas está mais controlado, agora é mais cuidado mesmo, tenho muita cautela, como não sair de bolsa, guardar bem o celular, sair a pé com o mínimo de objetos que possam atrair assaltantes”, relata a estudante.
A jovem já teve celulares e motocicleta roubados. Após ter o veículo roubado, ela conseguiu recuperar através da Polícia. No entanto, temeu usá-lo e atrair novos assaltos. Acabou vendendo a moto.
Niédia Paiva explica que há alguns fatores que podem favorecer para que uma pessoa desenvolva, de fato, um trauma psicológico após um assalto, sendo estes a idade que o indivíduo tinha quando o fato ocorreu, o momento em que estava, a intensidade e duração da experiência, o sentido que este teve na história de vida da pessoa, os sentimentos experienciados no momento e também a recorrência do evento.
“Tudo é bastante subjetivo, pois algumas pessoas se mantêm num estado de ‘anestesia emocional’ e com o passar do tempo é que ela vai ‘descongelando’; outras pessoas desenvolvem um estado mais depressivo, com perda de interesses e desânimo; outras passam a ficar ansiosas, temendo que a situação se repita; e há também aquelas que não conseguem lembrar de nenhuma imagem da situação, ficando apenas com o efeito emocional do que ocorreu, como se tivesse sido algo muito doloroso e por proteção, faz-se esquecer”, afirma.
A psicóloga relata que depois de dois ou três dias os sintomas de trauma da vítima vão naturalmente diminuindo. “Quando isso não aconteça dentro desse prazo, é imprescindível que a pessoa busque ajuda psicológica”, conclui a especialista.