29 ABR 2024 | ATUALIZADO 11:43
POLÍCIA
Da redação
12/05/2016 13:31
Atualizado
14/12/2018 10:20

Além de dentista, promotores descobrem que médico também ganha sem trabalhar

John Cavalcante não foi encontrado no local de trabalho no Centro de Saúde do Bairro Princesinha na manhã desta quinta-feira, 12, e não foi preso, como aconteceu com o dentista José Nunes Terceiro
Cedida / Grupo Alto Oeste de Plantão / WhatsApp

Os promotores de Justiça do Ministério Público Federal e Estadual informaram que além do odontólogo José Nunes Terceiro, o médico John Cavalcante Aguiar também é alvo da investigação em Pau dos Ferros, assim como outros profissionais que atual em pelo menos 37 municípios do Alto Oeste do Rio Grande do Norte, também estão sendo investigados.

Doutor Terceiro, como é mais conhecido, foi preso no meio da manhã desta quinta-feira por agentes das promotorias federal e estadual, acompanhados com agentes de Polícia Civil de Pau dos Ferros. Está preso, aguardando decisão judicial. John Aguiar não foi encontrado.

Leia: Dentista preso por bater ponto em posto de saúde público e ir atender particular

O trabalho de investigação para saber se os médicos contratados pelas respectivas prefeituras para atuar em programas de Estratégia Saúde da Família (ESF) e da Política de Atenção Básica de Saúde nos municípios tem a frente o procurador da república Marcos de Jesus.

Nas inspeções realizadas ao longo da investigação, o procurador da república Marcos de Jesus informa que constatou que quase 100% das prefeituras da região não tem ponto eletrônico, o que facilita os médicos ganhar sem ter que trabalhar. Não comprova que trabalhou.

  (Alto Oeste de Plantão / WhatsApp)
Ainda conforme a assessoria de comunicação da MPF, através de ações que foram ingressadas na Justiça, pelo menos 19 prefeituras da região Oeste já instalaram os pontos eletrônicos. Mesmo com o ponto, Doutor Terceiro continuou recebendo recursos públicos da Prefeitura de Pau dos Ferros e trabalhando em seu gabinete odontológico privado.

Acompanhado com o promotor de Justiça Rodrigo Pessoa, do Ministério Público estadual, o promotor federal Marcos de Jesus, junto com a polícia flagrou o odontólogo atendendo em sua clínica particular, depois de ter batido o ponto no Centro de Saúde Caetano Bezerra do Nascimento, no bairro Manoel Deodato, em Pau dos Ferros.

O MPF apontou a ocorrência do crime de inserção de dados falsos (artigo 313-A, do Código Penal). Os representantes do Ministério Público acompanharam a polícia na diligência que flagrou o odontólogo atendendo em sua clínica particular, depois de ter batido o ponto no Centro de Saúde Caetano Bezerra do Nascimento, no bairro Manoel Deodato, em Pau dos Ferros.

Inspeções feitas pelo MPF constataram que ele costuma bater o ponto no posto de saúde às 7h e deixa o local por volta das 8h, indo para sua clínica.

Ao final da manhã, entre 12h e 13h, retorna ao posto e bate o ponto que supostamente seria o da saída do turno matutino e fica no local até aproximadamente 13h40, quando registra o ponto de entrada do período vespertino e sai novamente para atender seus pacientes particulares. Ao final da tarde volta à unidade de saúde pública para registrar sua “saída”.

O dentista recebe por 40h semanais do Município e mantém, ainda, outro contrato com a mesma jornada de 40h (legalmente incompatível) com a Prefeitura de Luís Gomes.

Médico John Aguiar

A representação encaminhada pelo MPF ao MP/RN inclui também o nome de outro profissional contratado pela Prefeitura de Pau dos Ferros, o médico John Cavalcante Aguiar, que deveria trabalhar 20 horas por semana no Centro de Saúde José Edmilson de Holanda (Posto Princesinha), porém não comparece à unidade desde dezembro de 2015.

Além dessa jornada, ele ganha por outras 20 horas a serem cumpridas no posto do bairro Manoel Deodato, porém o profissional permanece apenas 6 horas por semana no local, de segunda a quinta-feira, das 12h às 13h30.

John Cavalcante não chega, sequer, a registrar as entradas e saídas no relógio de ponto. Durante a diligência desta quinta-feira, o médico não foi localizado, mas no entendimento do MPF deverá responder pelo crime de estelionato (artigo 171, § 3º, do Código Penal).

Pau dos Ferros

  (Alto Oeste de Plantão / WhatsApp)
O Município que contratou o médico e o dentista foi alvo de uma ação civil pública (0800218-02.2015.4.05.8404) que, em janeiro, resultou em uma liminar obrigando a Prefeitura a implantar o Sistema de Registro Eletrônico de Ponto e exigir de todos os servidores da área da saúde o cumprimento de suas jornadas.

Documentos fornecidos pelo próprio Município comprovaram que muitos profissionais não cumprem as cargas horárias exigidas dentro da Política de Atenção Básica de Saúde, em programas como a Estratégia de Saúde da Família.

Por reconhecer o fato e não adotar medidas que impeçam a irregularidade, o prefeito Fabrício Torquato e as secretárias municipais de saúde do período investigado, Patrícia Leite e Maria Tereza da Silveira Mesquita, se tornaram alvo de uma ação de improbidade por parte do MPF.

Inspeções

Desde abril o procurador Marcos de Jesus vem promovendo inspeções em postos de saúde de toda a região. Em 2014 o Ministério Público Federal iniciou um trabalho que envolve a assinatura de acordos (termos de ajustamento de conduta – TACs) e o ingresso de ações judiciais para que as prefeituras do Alto Oeste Potiguar adotem sistemas de registro eletrônico de ponto, com o objetivo de controlar a jornada de trabalho de todos profissionais da saúde. Somente metade das 38 prefeituras da área de atuação da Procuradoria da República em Pau dos Ferros aderiu aos TACs.

Já ocorreram inspeções nos municípios de Doutor Severiano, Francisco Dantas, Marcelino Vieira, Pilões, Viçosa, São Miguel, Serrinha dos Pintos, Taboleiro Grande, Pau dos Ferros, São Francisco do Oeste e Rafael Fernandes. Foram ajuizadas ações civis públicas para instalação de ponto eletrônico nos municípios de Água Nova, Rafael Fernandes, Itaú, Lucrécia, Rodolfo Fernandes e Olho D´água dos Borges, além de Pau dos Ferros. Ações em desfavor de outros municípios e a execução de acordos não cumpridos vêm sendo analisadas e devem ser concluídas em breve.

O MPF tem investigado ainda a conduta dos secretários municipais de saúde, uma vez que são eles os gestores responsáveis pelos cumprimentos das regras do Estratégia Saúde da Família (ESF) e pela condução da Política de Atenção Básica de Saúde nos municípios.

A suspeita é que eles têm inserido dados falsos no sistema, com o propósito de receber irregularmente os recursos da União.

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