A grave crise econômica que se intensificou no Brasil no último ano tem afetado todos os setores ligados à economia. A construção civil, por exemplo, tem sentido diretamente os efeitos desta crise. Em Mossoró, a realidade do setor é ainda pior devido, segundo o Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon), às inúmeras exigências feitas pelo grande financiador do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), a Caixa Econômica Federal.
De acordo com o presidente do Sinduscon, Sérgio Freire, em Mossoró as exigências com as mudanças no Minha Casa, Minha Vida foram ainda mais acentuadas e isto tem deixado o setor com grandes prejuízos. “A Caixa Econômica tem feito exigências que não são feitas em nenhuma outra parte do Brasil, e isto é um dificultador para o processo de financiamento, um exemplo disto é a aceitação do DECORE (Declaração Comprobatória de Percepção de Rendimentos), antes podíamos fazer uso deste documento, agora, não mais. No entanto, no restante do País ainda é aceito”, disse ele.
Além das exigências, o limite de crédito está bem reduzido, segundo Sérgio Freire, não cabendo no bolso de quem procura o financiamento. “O grande gargalo é sem dúvida o limite de crédito. A mudança está tão radical que temos exemplos práticos de financiamentos pré-aprovados e que agora não podem ser mais feitos”, explica.
De acordo com informações passadas por Sérgio Freire, o grupo de empresários em breve se reunirá com o banco financiador, Caixa Econômica, com o objetivo de sanar essas pendências. “Temos que entender o porquê desse radicalismo só para os empreendimentos de Mossoró, e vamos nos reunir para encontrar essas respostas”, enfatiza.
O Sinduscon Mossoró tem recentemente 38 empresas de construção civil filiadas, cerca de quatro mil empreendimentos em andamento, e a maioria foi paralisada nas obras devido essas alterações. “Com as mudanças, todo mundo tem prejuízo, o construtor, o dono do imóvel, o trabalhador que fica desempregado por falta de verba para seguimento da obra, enfim toda a cadeia envolvida”, acrescenta o presidente do Sindicato.
Segundo Sérgio Freire, o ano de 2015 teve apenas a entrega de dois empreendimentos, e programado para este ano de 2016 apenas um. “Em outros tempos, era comum o fechamento anual com mais de trinta entregas de imóveis”, destaca ele.
Porém, mesmo diante de tantos agravantes, a expectativa é que a realidade de 2017 seja positiva. Para Sérgio, a estabilidade do Governo Federal tem dado um ‘start’ no setor. “Foi inesperado o bom movimento do mês de junho, e julho já se desenha positivo também”, comenta.
Exigências além da aprovação de crédito
Além de toda problemática envolvendo o financiamento há ainda outro agravante responsável pela paralisação da obra, que é a liberação de água para o empreendimento. A Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) tem colocado, de acordo com o Sinduscon, alguns empecilhos na licença para o abastecimento. Sérgio Freire fala que os empresários já tentaram a resolução do problema em uma reunião juntamente com o governador Robinson Faria há cerca de seis meses, onde a companhia se comprometeu em retirar as exigências para o andamento das obras, porém até hoje nada foi feito por parte da Caern.
“A Companhia nos concede uma licença de funcionamento e depois retrocede, fazendo com que os construtores tenham que pagar quantias elevadas para perfuração de poço, para seguimento da obra. Valores muito altos que não há como dá seguimento ao empreendimento”, ressalta o presidente.
O grupo de empresários deve nos próximos dias tentar novo encontro com o governador para alinhar as pendências, dar seguimento às obras e investir em novos empreendimentos. “Quando há construção toda economia se beneficia, o trabalhador que terá espaço no mercado, como também o comércio”, finaliza Sérgio Freire.
Caixa esclarece andamento do MCMV em Mossoró
Após o lançamento da terceira fase do Minha Casa, Minha Vida algumas mudanças foram adotadas. As principais alterações elencadas pelo gerente-geral da Caixa em Mossoró, Arthemies Luís, foram às novas faixas de renda familiar que estão no valor de R$ 2.350 e de subsídio, no valor de R$ 20 mil.
Diferente do que o representante do Sinduscon falou à equipe do MOSSORÓ HOJE, o gerente da Caixa afirma que nenhuma exigência a mais está sendo cobrada em Mossoró. “Cobramos a comprovação de renda do cidadão que deseja financiar um imóvel. Nada, além disso. Estamos mais criteriosos em preservar a qualidade dos imóveis que serão colocados no mercado, por isso algumas condicionantes são exigidas também às construtoras”, explica Arthemies.
Para se encaixar no programa, alguns critérios devem ser adotados pelas construtoras, tais como o valor do imóvel não ultrapassar os 170 mil reais. Além disso, a qualidade do empreendimento, conforto e segurança também são quesitos para aprovação. “Temos uma avaliação técnica, jurídica e financeira para a liberação”, diz o gerente.
Segundo informa o representante do banco, a previsão é que até o final de dezembro sejam entregues em Mossoró cerca de 600 novas unidades habitacionais. Ele acrescenta ainda que o programa continua com uma boa procura. “A procura pelo financiamento continua. O sonho da casa própria não acabou, e nós, como banco, estamos aqui para auxiliar na realização desse sonho”, conta.
Questionado sobre a quantidade de inadimplentes neste período de recessão ao qual passa o Brasil, e se esses dados interferem na liberação de mais financiamentos, Arthemies fala que os números tiveram um crescimento e esse fator prejudica diretamente o andamento do programa. “Os financiamentos são feitos com recursos públicos, portanto o capital tem que retornar para que outras pessoas possam ser beneficiadas com o programa”, destaca.
Para incentivar os credores se tornarem adimplentes, a Caixa deu início a uma campanha nas plataformas midiáticas que permite contato direto com os atendentes para análise de propostas e regularização no cadastro.