04 MAI 2024 | ATUALIZADO 10:43
Retratos do Oeste
22/03/2015 07:20
Atualizado
12/12/2018 18:38

A engenhôca da segurança está com as carretas quebradas

A cadeia de serviços que formam as forças de seguranças quebrou em vários pontos, tornando o combate a violência insatisfatório, insuficiente no Brasil
Cezar Alves

Há muitos anos eu bato na mesma tecla: o combate a violência só é possível se ela for compreendida como uma engrenagem, uma engenhôca de fazer garapa de cana. Ou todas as peças funcionam ou as que funcionam não vão funcionar bem. Será sempre insatisfatório, insuficiente e a violência avançara.

As principais peças desta engrenagem são: família, escola, polícia ostensiva, polícia judiciária, Poder Judiciário e o sistema prisional.

Sobre a família, esta está destruída. O pai não senta mais a mesa com o filho na hora do almoço. Não conversa com ele. Tem que trabalhar para garantir o mínimo de sobrevivência. Quando está em casa, um almoça na sala e o outro no quarto.

A consequência natural disto é o sujeito crescer com valores morais e éticos distorcidos.

As escolas estão em ruínas. Mas isto não é nem o maior problema. Pior que a estrutura que não presta das escolas, é o modelo de ensinar o B A BÁ no Brasil. O método é totalmente ultrapassado. Se o método é ultrapassado, a aplicação deste é desastrosa.

Com os “atrativos” da rua, da TV, do computador, é praticamente impossível o professor conseguir atenção do garoto adolescente cheio de dúvidas com seus ensinamentos. Para o garoto, a sala de aula é um sacrifício, quase um castigo. O sistema faliu.

O policiamento ostensivo é feito pela Policia Militar e pela Guarda Municipal nas cidades que tem. Este trabalho está sendo feito, apesar das dificuldades, a Polícia Militar tem cumprido seu dever, inclusive colocando a vida do PM em risco em operações às escuras.

E as operações são as escuras exatamente porque não temos a polícia judiciária, que por sua vez é composta por agentes civis (investigadores) e equipes de perícia forense do Instituto Técnico-científico de Polícia (ITEP), responsáveis pela produção de provas.

O correto, o mais lógico, seria a Policia Civil com seu suporte de inteligência definir bem o alvo e chamar a PM para resolver. O que a PM precisa é de um alvo definido e não alvos tão genérico, invisível, armado e perigoso, tornando-se ele próprio o alvo.

Se as provas são precárias, o quadro complica também no Poder Judiciário, que, por não ter provas para condenar o criminoso, termina sendo obrigado a seguir o que determina a Constituição Brasileiro: solta o acusado, que por sua vez, volta ao mundo do crime.

Este criminoso preso e depois solto, cria marra e sobra exatamente para quem faz o trabalho ostensivo e principalmente para o cidadão.

Se não existe política de estado para garantir a unidade familiar, a Educação está falida, a PM está no sacrifício, polícia civil/pericial não existe, Poder Judiciário está em sérias dificuldades, o sistema prisional se transformou em faculdades do crime. É assim que os bandidos a chamam.

Ou seja, de nossa engrenagem, apenas a Policia Militar funciona e assim mesmo com grandes dificuldades. Se existisse uma política de estado voltada para fortalecer a família e a educação de qualidade em escolas construídas em locais amplos, nem da PM a população iria precisar.

A PM só está tendo que agir, porque a família e a formação falharam.

Como a Polícia Judiciária não tem condições de investigar os crimes, os processos chegam ao Poder Judiciário com provas mais fracas do que caldo de bila. O bandido termina absolvido, o que faz disparar a sensação de impunidade no seio social.

Como consequência surge a figura do justiceiro. A Lei passa a ser de Talião.

Neste cenário já reina o triste sentimento de vingança nas pessoas. Observe que você mesmo, leitor, quando topa numa pedra, retorna para quebra-la. Imagine se machucar alguém querido o que você é capaz de fazer. Dimensione isto e observe que a vingança reina dentro de nós.

Por outro lado, o nobre sentimento do perdão é esquecido. Somos seres racionais irracionais, incapazes de perdoar o nosso semelhante, até mesmo em situação acidentais.

E o nosso engenho de moer cana é complementado com o sistema prisional, sua última peça fundamental. O sistema está imundo, desumano, que, ao invés de reintegrar o sujeito socialmente, o torna centenas de vezes mais perigoso do que quando foi preso. E nos dias atuais com as facções, o torna uma fera.

Em resumo, este é o motivo de tanta violência.

Notas

Publicidades

Outras Notícias

Deixe seu comentário