O oncologista Thiago Rêgo se mostra muito preocupado com o número elevado de pessoas com câncer no Rio Grande do Norte e poucos hospitais credenciados no SUS para atender esta demana gratuitamente.
O Especialista, que atende mais de 80 pacientes no Hospital Wilson Rosado, em Mossoró, pelo SUS, inclusive os exames, fala da necessidade da quebra de uma espécie de monopólio nos serviços de oncológia no RN.
Uma espécie de monopólio da morte, pois é o que acontece com quem tem câncer e não tem onde se tratar rapidamente e com rapidez e eficiência nos exames e tratamento.
Rêgo informa que este "monopólio" está sendo quebrado este ano tanto em Natal como em Mossoró, através dos serviços prestados no Hospital Universitário Onofre Lopes, na capital, e Wilson Rosado, na terra de Santa Luzia.
Segue o texto do médico Thiago Rêgo:
O longo e penoso caminho do tratamento do câncer no RN criado a anos devido ao monopólio de serviços e que aos poucos está sendo resolvido em 2015
"No meio do caminho tinha uma pedra...". No poema de Carlos Drummond de Andrade, assim como na vida, obstáculos estão presentes nas trajetórias humanas. O itinerário dos pacientes com câncer esbarra na dificuldade de realizar exames necessários à confirmação do diagnóstico. Vindos do Interior e enfrentando muitas horas de viagem e sem saber a direção do fim do túnel, são vítimas de um mal que fere, maltrata, devasta o corpo e a alma.
O problema maior está em conseguir uma biópsia, muitas vezes por falta de equipamentos e especialistas. Ainda existe a demora na entrega dos resultados pelos laboratórios. A espera é longa e carregada de sofrimento. O gargalo, segundo especialistas, está não só na atenção secundária, mas na básica que não dispõe de médicos preparados para conduzir o problema.
Assim, de cabeças erguidas ou não, Marias, Anas, Franciscas e Josés enfrentam a dura realidade de receber a notícia: você está com câncer, palavra que não era nem pronunciada há alguns anos. A vontade de viver guia essas pessoas simples e faz com que elas tirem força de onde não têm.
Tudo começa na atenção básica (postos de saúde), porta de entrada para o atendimento. Já enfrentam dificuldade, nessa primeira fase, de conseguir marcar consultas com especialistas e fazer os exames iniciais. Do posto, caso os sintomas apontem no sentido da doença, eles são encaminhados para a média complexidade, hospitais que vão realizar os exames necessários, como endoscopia, mamografia e outros. Aí é que o processo emperra por causa das filas do Sistema Único de Saúde (SUS). Muitos são obrigados a pagar para obter um diagnóstico mais rápido e, assim, começar o tratamento o quanto antes.
Após a confirmação, o paciente é direcionado à cirurgia, dependendo do tipo de câncer, e, posteriormente, às sessões de quimioterapia e radioterapia.
Em vista da demanda elevada que não consegue ser atendida em poucos hospitais credenciados no estado, a maioria dos pacientes do Interior se dirige à Capital, centralizando, assim, o serviço no Rio grande do Norte. Portanto, as filas de espera são inevitáveis.
A grande preocupação dos especialistas é que os pacientes já chegam ao tratamento com o grau mais avançado da patologia. Muito em virtude da desinformação, da recusa a realizar exames, mas também da falta de acesso aos mecanismos de confirmação. "A saúde ainda está patinando no diagnóstico tardio. Mais de 50% dos casos são do nível quatro, no Hospital das Clínicas". Sendo assim, a cura cai em 40%. A descoberta precoce é decisiva, contribuindo para que as chances cheguem a 95%.
Doença que hoje está entre a segunda e a terceira causa de morte no Estado, a incidência crescente dos casos de câncer é consequência, em parte, do envelhecimento da população. Nas mulheres, mama, colo de útero e cólon são os mais prevalentes. Já nos homens, próstata e aparelho respiratório.
Notas