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ESPORTE
Da redação
31/08/2017 22:15
Atualizado
14/12/2018 07:02

A incrível história de superação do jogador Paulo Jr, comemorando os 2 anos do transplante de medula

Hoje empresário, Paulo Junior contou sua história, em detalhes, do momento que sofreu os efeitos da leucemia, passando pelo tratamento doloroso, o transplante e a cura ao lado da família e amigos
O jogador de futebol Paulo Junior, de 32 anos, está voando em campo, como se fala no linguajar usado no meio futebolístico. Isto, jogando com os amigos e algumas partidas "valendo". Sobra vigor físico, habilidade, chegada rápida e finalizações precisas. Características de um bom atleta.

Quem assiste Paulo Junior jogando assim hoje, nao acreditaria se soubesse que há dois anos lutava bravamente pela vida num hospital especializado em oncologia em Recife. Isto mesmo! Contraiu uma leucemia agressiva, o que tirou do futebol profissional dentro das quatro linhas, mas não dos amigos, da família e do ramo do futebol. A experiência que ganhou atuando no exterior por mais de 10 anos, o levou a função de empresário.

Paulo Junior resolveu fazer um ressumo, de tirar fôlego e arrancar lágrimas sobre sua história, e publicar em seu perfil no Facebook (paulojr.brasil). E o fez em detalhes, do dia que desmaiou a esta quinta-feira, 31 de agosto de 2017, exatamente 2 anos depois do transplante de medula que o trouxe de volta a vida. Esta data é para se comemorar como se fosse um título. 



Segue-a.

Hoje é um dia daqueles! Dia de comemorar, nova conquista, mais um título agora não mais em campo e sim na vida. Hoje cheguei a uma marca muito especial, dois anos de nova vida, dois anos de TMO (transplante de medula óssea) e vou resumir um pouco de tudo que passei para vocês.
 
Depois de passar praticamente 10 anos jogando fora do Brasil, era a hora de voltar, minha esposa estava grávida do nosso segundo filho, era uma menina que tanto eu sonhava e assim decidimos ficar mais próximo da família.
 
Em janeiro de 2015 fui contratado pelo Salgueiro-PE para disputar o pernambucano e a copa do nordeste, minha estréia não poderia ter sido melhor, vitória (Salgueiro 3x0 Moto Clube) com dois gols e uma assistência.

Tudo perfeito, abrindo um novo mercado no Brasil e curtindo um pouco da família onde ficamos longe por tanto tempo.
 
Aos poucos foi começando a aparecer alguns sintomas (moleza, dores no corpo, febre), tudo indicava que eu tinha pego uma virose, mas mesmo assim fui medicado e continuei a treinar e jogar.
 
Até que um dia, no começo de março, na pousada onde eu morava eu desmaiei (levantei a noite para ir ao banheiro e na volta chegando perto da cama eu apaguei, cai, e parecia que eu estava indo embora... eu sentia que estava morrendo e de um modo estranho que eu mal consigo explicar como se eu estive fora de si mas ainda me sentindo ali eu clamei a Deus, e eu desesperadamente pedia pra não morrer, e só vinha em mente minha filhinha que estava para nascer, e eu clamava; ‘Deus, não me deixe ir assim, eu quero conhecer minha filha, eu quero ver meus filhos crescerem’.
 
Não sei precisamente quanto tempo fiquei desmaiado, para mim aquele momento foi onde Deus me salvou, me deu uma nova chance e fez o milagre, quando tornei, consegui me arrastar até a porta do quarto, abri a porta e coloquei metade do meu corpo no corredor para gritar por socorro... passei algum tempo pedindo socorro e como era tarde da noite ninguém escutava, consegui pegar meu celular e mandei uma mensagem para minha esposa, ‘estou morrendo’. Estava muito fraco mas continuei gritando por socorro, até que os donos da pousada ouviram e vinheram me socorrer. Passei a noite no hospital tomando soro e pela manhã voltei para o quarto da pousada.
 
O time viajaria naquela noite, e eles queriam que eu viajasse, iríamos pegar horas de ônibus para Fortaleza e pegar o avião para Maranhão onde íamos enfrentar o Moto Clube no jogo da volta, eu falava que não estava me sentindo bem e graças a Deus o médico do clube decidiu que eu não iria, se eu tivesse ido talvez não estaria contando essa história.
 
Na manhã seguinte acordei mal e decidi ir novamente para o hospital, meus pais, esposa e filho resolveram ir para Salgueiro mesmo contra minha vontade, pois estavam achando aquilo tudo muito estranho e na minha cabeça eu só estava com uma virose ou algo parecido. Passei o dia no hospital tomando soro, e quando eles chegaram no final da tarde que me viram tomaram um susto, eles falaram que eu já estava bastante abatido e de imediato pediram ao médico de plantão para que fizesse um exame de sangue (hemograma), a enfermeira não conseguia colher meu sangue, foi preciso um corte.
 
O resultado saiu rápido, e foi então que viram a gravidade do problema. Eu estava com 2 mil plaquetas, quando o normal é de 150-400mil, eu estava com 100 leucócitos, quando o normal é de 4-11mil, minha hemoglobina era 7,2, quando o normal é de 13-17, então eles suspeitaram que seria algo bem mais sério do que eu imaginava. Eu já estava muito fraco, não entendia e nem sentia muita coisa, de imediato eles pediram duas bolsas de sangue e minha transferência para um hospital de maior porte.
 
Deus sempre agindo e logo chegaram as bolsas e a ambulância e fui para o hospital de Juazeiro do Norte-BA. Logo foi feito o exame (mielograma) onde foi diagnosticado a minha doença, eu estava com LLA-T (leucemia linfoide aguda nas células tronco), uma leucemia muito agressiva e que normalmente quando acontece é em criança.
 
Quando o médico juntamente dos meus pais me deram a notícia, meu chão desabou, foi um grande choque na minha vida, creio que o maior. Eu lembro das minhas palavras; ‘doutor, quer dizer que estou com câncer? Quer dizer que não vou conhecer minha filha?’. E ele me respondeu friamente; ‘Vamos lutar’.
 
Mas Deus me deu força e peguei as palavras do médico e decidi lutar, escolhi fazer minha parte, optei por brigar com aquela doença e a luta começou. Nos primeiros dias minha esposa recebeu uma palavra; Isaías 55.11-13 ‘11. Assim será minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei. 12. Porque com alegria saireis, e em paz sereis guiados; os montes e os outeiros romperão em cântico diante de vós, e todas as árvores do campo baterão palmas. 13.
 
Em lugar do espinheiro crescerá a faia, e em lugar da sarça crescerá a murta; o que será para o SENHOR por nome, e por sinal eterno, que nunca se apagará.’ Nossa família sempre foi muito temente a Deus e decidimos tomar posse da palavra.
 
Os médicos de Juazeiro acharam melhor me encaminhar para o IMIP de Recife (um hospital de referência para meu caso), meus pais precisaram assinar um termo de responsabilidade, pois eles temiam que eu não aguentasse a viagem. Assim a correria começou para conseguirmos uma UTI aérea urgente e uma vaga no IMIP, não é fácil, mas tudo eu certo.
 
Chegando no IMIP eu fui direto para UTI, estava muito debilitado para começar uma quimioterapia e poderia não aguentar. Passei uma semana na UTI, as medicações começaram a fazer efeito e meu organismo começou a reagir, saí da UTI e fui para a hematologia, onde iria iniciar o tratamento.
 
O primeiro passo foi colocar um cateter, para receber a quimioterapia, e o grande problema da quimio é que ela combate as células cancerígenas mas também destrói as células boas, então as defesas do organismo ficam ainda mais baixas após a quimio (aplasia) e os cuidados são muitos nesses dias até que as defesas se recuperem um pouco.
 
As reações podem ser muitas (náuseas, dor de cabeça, diarreia, vômitos, enjoos, falta de apetite, etc.), mas graças a Deus não tive tantas. Logo o cabelo começa a cair, então decidi logo em raspar a cabeça e aceitar o que estava por vir. Meus irmãos foram chamados para fazer o teste de compatibilidade, pois no meu caso o mais indicado para que eu pudesse sobreviver era o transplante de medula óssea (TMO), as chances de uma compatibilidade aparentada é maior, mas mesmo assim muito difícil, somente 25% de chance, e se não tiver irmãos, entra na fila de espera para procurar alguém compatível em qualquer parte do mundo. Mais uma benção de Deus, minha irmã foi 100% compatível, até o tipo sanguíneo é o mesmo que o meu, então toda a preparação seria feita já com um doador aparentado (da família).
 
O tempo da minha primeira internação contando com uma semana de UTI foi aproximadamente um mês, eu perdi 11kg, fiquei muito magro e como estava careca fiquei bastante diferente, mas eu me animava porque dizia pra mim mesmo e acreditava a todo instante que tudo voltaria o normal, era só um momento difícil da minha vida.
 
Recebemos a primeira alta do hospital, estávamos tão assustados com tudo, que meu pai até pensou na hipótese de ficar no hospital preocupado com todos os cuidados e riscos que teríamos lá fora. Mas eu não aguentava mais aquela rotina, uma pessoa tão ativa como eu sempre fui, passava dia a dia da maca pro banheiro/do banheiro pra maca, a diversão era no horário da fisioterapia e as brincadeiras com enfermeiras e médicos.
 
Então decidimos passar essa semana lá mesmo em Recife na casa de um tio, pois além de todos os riscos, uma semana era pouco tempo pra ir em Mossoró e voltar. Foi uma semana muito boa, cuidados intensos, sempre de máscara, evitando visitas, muita higiene.
 
De volta ao hospital, onde começava todo procedimento...cateter/ cama/ banheiro/ banheiro/ cama...nada mais era novidade, então fica ainda mais difícil, mas eu tinha um foco, eu tinha fé, eu tinha uma filha por vir ao mundo.
 
Nesta segunda internação foi o parto da minha esposa, minha filhinha tão esperada nasceu, eu queria estar lá, eu queria ser o primeiro a coloca-la em meus braços, mas eu me conformava em saber que Deus está no controle de tudo. Mais uma alta veio, e mais uma vez decidimos ficar em Recife e tudo correndo bem voltei para terceira internação.
 
Normalmente cada internação duravam em média de 3 semanas, exames diários, medicações diárias e um acompanhamento elogiável, agradeço a Deus por ter me colocado naquele hospital, agradeço a todos os profissionais do IMIP-PE por ter tanto cuidado com a vida humana.
 
Então tive alta novamente, e dessa vez foram 12 dias e resolvemos pela primeira vez depois de tudo ir para casa e eu iria conhecer a minha princesinha. Que sensação, colocar Paula Eduarda (Dudinha) em meus braços, era mais uma resposta de Deus em minha vida, respondendo as minhas perguntas, respondendo as minhas dúvidas...
 
Então voltei para minha quarta e última internação antes do transplante, a vontade era de ficar em casa, mas eu sabia que tinha que seguir a programação a risco e eu tinha em mente que se alguma coisa não desse certo não poderia ser por algo que eu deixei de fazer.
 
A última internação foi a mais difícil, a vontade de estar em casa era grande e o pensamento no transplante era maior ainda.
 
Não vou mentir, tive muito medo, fiquei muito preocupado, porque uma quimioterapia já é uma luta, e muitas pessoas me falavam quem um Transplante de medula seria bem mais difícil.
 
Esse medo só aumentou quando eu tive a consulta de preparação para o TMO (transplante de medula óssea), onde a médica foi bem sincera, no momento até achei ela grossa pelas palavras, mas hoje entendo o quanto ela foi profissional e o quanto ela agiu corretamente, falou de todos as dificuldades que eu enfrentaria e mesmo se tudo corresse bem, minha chance de cura mesmo com o transplante era 50% e ainda teria o pós TMO, fase muito delicada.

Sai da consulta arrasado, preocupado e depois de receber alta fui para casa onde iria esperar ser chamado para o transplante. Fiquei em torno de um mês em casa, com minha família, me alimentando bem, descansando bem, fazendo leves exercícios, me sentindo super bem.
 
Inclusive meus exames desde a primeira quimioterapia já mostravam a remissão da doença. Mas eu sabia que tinha uma medula com problema, e em qualquer momento a doença poderia voltar. Chegou a hora, me ligaram do hospital, me despedi de minha esposa e filhos, mas com fé e confiante que iria voltar.
 
A ala do TMO é diferente da hematologia que eu estava acostumado, o isolamento é maior, ainda mais cuidados, quarto frio, porém, muito aconchegante. Logo coloquei o cateter, maior e mais grosso do que eu já tinha me acostumado, pois esse eu teria que usar por um longo período, seria o meu parceiro dia a dia.
 
Começamos a QT (quimioterapia) pre-TMO, mais forte do que eu vinha fazendo. Tudo foi correndo bem, Deus abençoando passo a passo, e chegou a grande dia foi o dia que Deus usou minha irmã, usou médicos, enfermeiros e medicações.
 
O transplante de medula óssea, não é como transplante de outros órgãos, é como uma transfusão de sangue sendo mais delicada. Minha irmã chegou cedo, colheu a medula e no começo da tarde eu já estava recebendo minha nova medula.
 
Os médicos chamam esse dia de D zero, dia que começa a contar a nova vida. Normalmente os médicos esperam a ‘pega da medula’ (que ela comece a funcionar por si) em torno de 3 a 4 semanas, e mais uma benção eu recebi, a medula pegou com 13 dias no dia 31/08/2015, a alegria foi grande, que noticia maravilhosa, que sensação.
 
Agora começa mais uma etapa, o pós TMO.
 
Depois que recebi alta do transplante, voltava um dia sim outro não no hospital para acompanhamento.Tomando os mesmos cuidados q tinhamos no hospital e as coisas foram evoluindo bem, passamos a ir no hospital de semana em semana, e de acordo como ia evoluindo, o tempo ia aumentando...
 
Todos falavam que os 90 primeiros dias pós tmo eram de extremos cuidados, e risco de morte, então esperamos com paciência ate chegar aos 3 Meses. Era a hora de voltar de vez pra casa, e só precisavamos retornar ao hospital de 15 em 15 dias...depois passou pra 30 em 30 dias. E tudo para mim era uma grande vitória, tive que tomar todas as vacinas novamente, voltei a correr, já não usava máscara todo tempo, poderia comer algumas coisas que estava proibido, aos poucos fui pra academia e enfim fiz meus primeiros jogos com meus amigos...

Estou com um novo projeto de vida, continuo no futebol, lógico, é minha paixão, mas agora não como atleta.
 
Então... preciso finalizar, ainda tinha muito pra falar rss..
 
Agradeço a Deus por todas essas conquistas e por tudo que Ele fez, faz e vai fazer em minha vida. Agradeço a meus pais por ter abdicado da vida pra ficar em todo instante ao meu lado, que sorte tenho de ter pais como vcs, agradeço a minha tia Selma por ter se sacrificado muito e tentado ficar o possível comigo, obrigado a minha esposa por ter dado conta de tantas responsabilidades e dificuldades sem a minha presença, minha irmã que sendo usada por Deus salvou literalmente a minha vida... agora faz muito mais parte de mim, obrigado a meu irmão pela força, pela fé...minha sogra que é uma segunda mãe e ajudou em todos os sentidos, ao meu cunhado Leo pelo apoio, por estar presente em todos os momentos... Agradeço a toda minha familia, meus amigos, conhecidos e ate mesmo pessoas que não me conhecem mas que oraram, mandaram mensagens e ajudou de um jeito ou de outro.
 
Queria mencionar e abraçar todos, mas infelizmente não posso...
 
Esse é meu testemunho, espero que renove as esperanças de alguém que possa estar passando por algo parecido.
Obrigado a todos!

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