A Copa América veio para o Brasil como um teste de fogo. Jogar qualquer tipo de competição de alto nível, principalmente em casa, traz dificuldades bem difíceis de serem antecipadas. Daí, o que diferencia um competidor do outro é justamente como ele lida com tais problemas no momento em que eles aparecem.
Para o Brasil, isso apareceu logo cedo com a lesão de Neymar. Mesmo que o super-astro do Paris Saint-Germain não estivesse em sua melhor forma poucas semanas após o fim da temporada com o clube francês, ele é no mínimo o líder técnico e a referência para o resto do time nas horas em que faltam soluções para o time.
Sua ausência já forçou Tite a procurar soluções alternativas. E a escolha por trazer Willian no lugar de Neymar causou uma certa insatisfação coletiva, principalmente entre quem esperava que o técnico gaúcho procurasse aproveitar aquela oportunidade para continuar um até aqui lento processo de renovação. Este que foi iniciado a partir da saída do Brasil nas quartas de final da Copa do Mundo do ano passado, conta até aqui apenas com alguns nomes pontuais enquanto que a “coluna” principal do time continua sendo seus veteranos.
Mas acabou que Willian foi um mero coadjuvante em todo o esquema. Sem Neymar atraindo todos os holofotes do palco, abriu-se espaço para que seus “colaboradores” sobressaíssem. Foi assim que Philippe Coutinho deu seus brilhos, enquanto que Gabriel Jesus, Éverton e Roberto Firmino retornaram a Tite a confiança depositada em seus serviços.
E menos de um mês depois da estreia do Brasil na competição, com uma vitória merecida por 3 a 0 sobre a Bolívia, a Seleção se sagrou campeão em solo próprio. Assim Tite conseguiu encerrar nosso ciclo de seis anos sem ganhar um título sequer, além dos trinta anos desde a última vez que o Brasil levantou um troféu em casa – justamente também com uma Copa América.
Por isso que agora os ânimos estão bem positivos quando se trata da Seleção. Palpites de futebol tratam o Brasil como atual favorito ao título da próxima Copa do Mundo, com chances levemente melhores que a atual campeã França e a Alemanha.
Entretanto, seria de bom grado arrefecer tal animação com o Brasil. Não só pelo fato deste ser um roteiro pelo qual passamos anteriormente quando ganhamos a Copa das Confederações em 2013 somente para acontecer o que aconteceu em 2014. Mas também pelas circunstâncias tanto nossas, quanto de nossos concorrentes.
Tite estava a um passo da demissão antes da Copa América. Qualquer coisa além da vitória na competição, ainda mais quando as principais forças concorrentes ao Brasil como Argentina, Uruguai e Chile não se mostravam nas melhores condições técnicas, táticas e físicas, seria motivo para vê-lo fora do cargo.
Tal situação quase foi confirmada já nas quartas de final, quando o organizado time do Paraguai segurou o Brasil com um 0 a 0 que nos levou a uma disputa por pênaltis. Por sorte, não fomos eliminados em tais circunstâncias por uma terceira vez após testemunharmos tal desastre em 2011 e em 2015.
Além disso, derrotamos o nosso eventual rival na final por 5 a 0 na fase de grupos. Mesmo que o Peru tenha melhorado muito desde aquela derrota acachapante que quase o eliminou do torneio, o Brasil era o claro favorito ao título. Favoritismo que foi confirmado pouquíssimos minutos após o apito inicial, com o gol de Éverton aos 15 minutos de partida. Ao final dos 90 minutos, vencemos os peruanos por 3 a 1.
Logo, a situação da competição em torno do Brasil está longe do ideal. Muito diferente do que se vê na Europa, onde times como a Holanda se encontra em processo de renovação que quase deu frutos, ao perderem a final da Liga das Nações da UEFA por 1 a 0 contra Portugal.
Esse ambiente lembra muito o cenário pré-Copa do Mundo de 2018, quando o Brasil trucidou seus vizinhos nas eliminatórias, e falhou em traduzir tal dominância contra rivais europeus na Rússia. É quase garantido que se o processo se repetir – e as chances disso acontecer são bem altas – as esperanças coletivas alcançaram patamares que dificilmente serão realizadas.
Sendo assim, que tal um pouco mais de “pé no chão”?