12 MAI 2024 | ATUALIZADO 22:36
EDUCAÇÃO
Cezar Alves
27/08/2020 11:19
Atualizado
27/08/2020 11:41

“Espécie de se vira!”, diz reitor eleito sobre gestão pro tempore no IFRN

José Arnóbio foi eleito com quase 50% dos votos em eleição democrática dentro da instituição, que tem 48 mil estudantes e cerca de 3 mil servidores entre professores e técnicos e, apesar da previsão legal para sua nomeação, o ex-ministro do MEC, Abraham Weintraub, optou por um nome pro tempore indicado pelo deputado federal General Girão.
José Arnóbio foi eleito com quase 50% dos votos em eleição democrática dentro da instituição, que tem 48 mil estudantes e cerca de 3 mil servidores entre professores e técnicos e, apesar da previsão legal para sua nomeação, o ex-ministro do MEC, Abraham Weintraub, optou por um nome pro tempore indicado pelo deputado federal General Girão.

O reitor eleito e não empossado no cargo no Instituto Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do (IFRN), por fatores estranhos ao que é previsto na Legislação Brasileira, professor José Arnóbio, disse que a gestão pro tempore, que ele vê como intervenção política, está deixando a instituição à deriva no Estado. “Está funcionando numa espécie de se vira!”, disse o professor em entrevista ao MOSSORÓ HOJE, nesta quarta-feira, 26.  

Arnóbio disse que para gerir a instituição que tem 21 Campi, uma unidade em construção em Jucurutu e a sede em Natal, é preciso ter uma equipe, que conheça a instituição e não tenha nome sujo. "Existe quatro cargos empossados pelo reitor pro tempore Josué Moreira que estão com nomes sujos e, legalmente, não poderiam assumir tais cargos ", diz.

O reitor eleito disse que a maior preocupação é com os 48 mil alunos espalhados nas 21 unidades do Estado. Ele lembra que já faz mais de 5 meses sem aulas, devido a pandemia, e a preparação para o retorno das aulas não presenciais está acontecendo sem comando. O que aconteceu até agora é graças aos diretores das unidades. Esforço deles.

Sobre a construção de uma segunda unidade do IFRN em Mossoró, o reitor eleito disse que isto não será possível, porque o Governo Federal, o mesmo que botou o reitorado pro tempore no IFRN, tirou R$ 1,4 bilhão das universidades e institutos federais no País. “Temos previsão para Mossoró, Umarizal, Alexandria e outras cidades do Estado”, diz Arnóbio.

José Arnóbio afirma também que a gestão pro tempore é autoritária e não respeita as decisões do conselho da instituição. Inclusive tem uma reunião agendada agora para o dia 28, ou seja, para esta sexta-feira, que é fundamental para a gestão do IFRN no Rio Grande do Norte, porém o atual gestor está fazendo de tudo para impedir que aconteça.

“Em outras reuniões do Conselho Superior, a nossa principal conselheira chorou com os atos autoritários do reitor pro tempore, cortando a fala dos conselheiros e levantando a voz”, informa o reitor eleito, lembrando que se continuar neste mesmo caminho, o IFRN será ferido gravemente e dificilmente terá como se recuperar em gestões futuras.

José Arnóbio e vários professores em contato com o MOSSORÓ HOJE disseram que intromissão política na gestão da instituição (impondo um gestor incompetente e sem equipe), está promovendo um esfacelamento administrativo interno da instituição que, se a Justiça Federal não restabelecer o previsto em Lei, não terá como restaurá-la no futuro.

A escolha do reitor do IFRN é feita no voto, conforme previsto a legislação. Não é uma lista tríplice, como acontece com as universidades. O eleito é nomeado pela Presidência da República. Arnóbio concorreu num processo pacífico e democrático com vários outros professores, inclusive com o então reitor da instituição, e foi eleito com quase 50% dos votos.

Esta eleição interna aconteceu em 2019. Houve o processo de transição, que foi pacífico, onde a equipe reunida por José Arnóbio recebeu a gestão do ex-reitor e ficou com tudo pronto aguardando a nomeação pela Presidência da República, foi quando aconteceu a interferência política e começaram os problemas na gestão do IFRN.

O então ministro Abraham Weintraud, da Educação, alegando um suposto processo (não existente), decidiu por impor um nome do recém filiado ao então PSL, no caso Josué Moreira, para a função pro tempore. Poucos dias depois, o deputado General Girão admitiu em entrevista no rádio que referendou o nome de Josué Moreira. “Intervenção política”, diz.

Sobre o suposto processo, o reitor eleito disse que tem a ficha limpa e que ato administrativo interno instaurado contra ele foi injusto e quer que o reitor pro tempore o coloque para julgamento e não fique segurando-o, para que ele possa provar a inocência. “Eu estava de férias e o bispo de Natal já assumiu total responsabilidade (mostra carta) pela barraca fazendo referência ao ex-presidente Lula que foi instalada no pátio do IFRN durante um evento da Igreja Católica e não do IFRN”, explica o reitor José Arnóbio.

Veja entrevista NA INTEGRA.


Na entrevista concedida ao MOSSORÓ HOJE, o professor contou um pouco da história dele. Disse que é natalense e sempre estudou em escola pública. Revelou que foi jogador das categorias de base do América e sonhava em ser treinador de futebol e por esta razão cursou Educação Física. Entretanto, terminou saindo do futebol e ingressando no IFRN há 26 anos.

Dentro do IFRN, José Arnóbio passou por todos os setores, conhecendo cada parte da instituição e, talvez devido a este conhecimento, devido a este contato corpo a corpo com os colegas professores e técnicos da instituição, tenha sido escolhido democraticamente para ser o reitor. “Isto é o previsto em decreto lei de 2009 e precisa ser cumprido”, acrescenta.

Vê a instituição tão importante para o desenvolvimento econômico sustentável sendo destruída por interesses políticos, o professor José Arnóbio disse que adoeceu. Muitos dos colegas dele também já acrescentaram que não estão se sentindo bem. É algo devastador vendo o que está acontecendo enquanto cidadão, enquanto servidor desta instituição, que no próximo dia 23 de setembro completa 111”, conta.

"Eu posso contratar um especialista e me recuperar, mas a instituição, se continuar no ritmo que vai, não terá como se recuperar mais. A ferida que está sendo feita, por interesses que não tem qualquer relação com a educação, é grande demais", destaca o reitor eleito José Arnóbio, que espera que a Justiça Federal restabeleça o mais rápido possível o que é previsto em lei e o emposse, junto com toda a equipe, para evitar o pior.


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