O assassinato brutal da juíza Viviane Vieira do Amaral Arronenzi, de 45 anos, na véspera de natal, no Estado do Rio De Janeiro, levantou o debate sobre feminicidios no Brasil.
Viviane Vieira do Amaral Arronenzi foi esfaqueada 15 vezes pelo ex-marido, o engenheiro Paulo José Arronenzi, de 52 anos (preso em flagrante) na frente das 3 filhas.
Não demorou muito e começou as declarações defendendo armar a população, mais ou menos na mesma ideia que o presidente Jair Messias Bolsonaro defende.
Escreveram e falaram que bastava existir alguém armado no local ou a própria juíza para evitar o ocorrido. Copiamos e transcrevemos a resposta escrita por Ricardo Brisolla Balestreri.
“A maioria das pessoas não tem nenhum equilíbrio emocional para nada, quanto mais para portar armas de fogo. Armas são para policiais (que devem, dentre outras tarefas, desarmar bandidos) e ainda assim para policiais que deveriam ser muito bem selecionados e treinados. Armas não deveriam estar nas mãos de não profissionais. Querer armar toda a população é reconhecer a sucumbência do sistema de segurança pública”.
E reagiu: “Ademais, o que está por detrás disso é, na verdade, uma estratégia muito esperta de armar milícias políticas para defender milícias e milicianos corruptos (que posam de honestos e vestais). Esse liberalismo armamentista no Brasil está preparando é uma guerra civil, a ser sustentada pelos fanáticos de uma nova seita política e pelo seu guru. Abraço”, escreveu.
O guru que Balestreri faz referência é Jair Messias Bolsonaro.
O especialista em segurança pública acrescentou: “Uma das perversas consequências do liberalismo na aquisição e no porte de armas, é o crescimento dos casos de feminicídio. Facilitar o acesso às armas de fogo (o que Bolsonaro tentou fazer) é, inevitavelmente, multiplicar e banalizar as ferramentas para o cometimento de homicídios”.
Ricardo Brisolla Balestreri
Fala-se muito em Israel e na Suiça. Conheço ambos os países. Israel, em especial, conheço razoavelmente bem, tenho lá grande quantidade de amigos, a maioria militares profissionais da reserva. Até onde eu saiba, nenhum anda armado ou pensa que armas são para autodefesa cotidiana. Tiveram bom treinamento militar, têm armas em casa (com muita zeladoria), estão sempre em prontidão militar, mas não andam com armas pelas ruas. Quem faz isso são os militares da ativa e os policiais. É mito que cultuem armas e as utilizem como cidadãos particulares. São povos muito menos passionais e de culturas autocontroladas (mesmo os israelenses, que vivem em guerra). A chance de um sujeito dar uma batida de carro e tomar um tiro é praticamente nula em Israel e na Suiça. Igualmente, de um tiroteio por stress com "paredão de som" ou divergência de terreno com algum vizinho. A possibilidade de se estar em um cinema ou em uma escola e um doido iniciar uma matança existe, mas só em casos estatisticamente raros de terrorismo político (muito bem combatido por forças profissionais), não por desequilíbrio pessoal ou complexo armado de rejeição, em função de bullying, de alguém que se desequilibrou e tem fácil acesso a armas, como nos EUA...
Respeito as demais opiniões mas acho que não levam suficientemente em conta o perfil passional dos nossos machos latinos, o evidente desequilíbrio nas relações interpessoais em um país anômico como o Brasil, as polarizações políticas ultra fanatizadas, a falta de uma cultura de manejo coletivo -via militar - e de respeito temeroso a armas de fogo (como em Israel e Suiça). Creio que, aqui, nesta nossa cultura concreta, muita gente armada vai apenas gerar um aumento do "faroeste caboclo", sobrando o estrago para as nossas já atazanadas e insuficientemente cuidadas polícias darem jeito. Ao invés de entregarmos a responsabilidade da segurança pública a leigos (que na verdade vão é se matar uns aos outros) deveríamos estar jogando todas as energias nas necessárias reformas e no urgente apoio ao precaríssimo sistema de segurança pública que temos na maior parte do país.