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VARIEDADES
Ismael Sousa
09/04/2016 07:19
Atualizado
14/12/2018 06:39

Canindé: o mossoroense que cantou em grandes bandas e hoje vive no esquecimento

Um dos principais nomes do forró romântico nos anos 1990 hoje trabalha como pedreiro para sobreviver.
Ismael Sousa

É difícil prever o quanto vai durar o sucesso. Ainda mais no mundo da música. Poucos mantém a carreira em alta por muitos anos. O cantor mossoroense Canindé Carvalho é um exemplo. Após alcançar o auge do sucesso com músicas que até hoje são lembradas, caiu no esquecimento do público e não mais retornou aos grandes palcos.

Durante uma festa na cidade-praia de Tibau, em janeiro deste ano, o cantor e compositor Dorgival Dantas encontrou Canindé e procurou saber como vive hoje uma das vozes mais marcantes do forró romântico. Em uma postagem na sua conta no Instagram, entre outras coisas, Dorgival fez um desabafo e disse não entender como alguém com tanto talento poderia estar vivendo em outra situação além da música. Hoje Canindé é pedreiro.

"Queria descobrir de verdade, o que fez ou faz, uma pessoa boa e talentosa viver numa situação totalmente inversa da que deveria viver, de acordo com seu dom. Tive que ser forte, ao ver, Canindé, um grande artista, excelente cantor, que sou fã demais, emocionado contando pelo menos um pouco da sua história”, comentou Dorgival.

A equipe do Jornal MOSSORÓ HOJE procurou Canindé Carvalho, hoje com 43 anos e morando com a mãe de criação, na Alameda dos Cajueiros, na zona Leste de Mossoró, para falar um pouco sobre sua trajetória de vida. Apesar da ocupação diária, fazendo bicos como pedreiro, Canindé recebeu a reportagem e abriu o seu baú de histórias, contando sobre o sucesso, a fama, as parcerias que teve durante sua passagem por grandes bandas de forró e o esquecimento do cenário musical.

Nos anos de 1980, a época de ouro dos grandes bailes, Canindé começou a carreira tocando percussão e cantando algumas músicas em uma banda chamada “Big Bang”. Foi a partir de então que descobriu o dom de cantar, sendo chamado posteriormente para tocar na banda Flor da Terra, de Mossoró, que fez muito sucesso embalando grandes festas e eventos políticos.

“Com o Flor da Terra toquei em vários comícios políticos, tanto em Mossoró quanto em Natal. Nessa época, também atuei em uma antiga banda chamada Shi-ray, inclusive com alguns eventos em outros estados como na Paraíba e no Ceará”, conta ele.

O cantor relembra a época em que conheceu Dorgival Dantas. Os dois tocavam em bandas diferentes, ele na banda Flor da Terra de Mossoró e Dorgival na banda Terríveis, de Natal. Ele destaca que em muitos eventos juninos os dois se encontravam para colocar o papo em dia.

“Conheço Dorgival desde os tempos em que tocava teclado nas bandas Terríveis. Sempre que chegava o período junino, tocávamos em muitos eventos em cidades como Guarabira, Bananeiras e Campina Grande, na Paraíba. Sempre tivemos essa amizade, ele na banda Terríveis e eu na Flor da Terra”, enfatiza.

O talento de Canindé chamou a atenção de empresários cearenses. Através de um convite de um amigo, ele foi convidado para tocar em uma banda chamada “Remelexo” no município de Quixadá, na região sertão central cearense. Em seguida, recebeu um convite para morar em Iguatu, e assumir os vocais da recém-criada banda Líbanos.

“Cantei por um tempo na banda Líbanos, e em seguida o dono criou outra banda chamada Forrozão Tropykália onde fui o primeiro cantor. Na época gravamos o disco ‘Seguindo no Trem Azul’, pois o finado Joacir, dono da banda, gostava muito das músicas de Roupa Nova. Ele fazia questão de gravar, em todos os CDs, pelo menos uma música deles”, relembra Canindé.

Já nos anos 1990, após cantar na Líbanos e no Forrozão Tropykália, Canindé recebeu um convite para assumir o vocal da banda Calango Aceso, do empresário Emanoel Gurgel, dono de uma das maiores bandas de forró da época, a Mastruz com Leite. Pouco tempo depois, Canindé foi para a banda Cavalo de Pau, também de Emanuel Gurgel.

Ele conta que foram duas temporadas na banda, pois em um período se afastou para montar um novo projeto em Manaus, e retornou pouco tempo depois. Canindé ressalta que gravou diversas músicas, ao lado da cantora Francylene Mendes, muitas delas que fizeram sucesso e marcaram a banda ao longo de sua história.

Foi Cavalo de Pau que Canindé conheceu de perto a fama e o sucesso como vocalista. “Foi um tempo muito bom, pois tinha até fã clube da banda e as pessoas faziam questão de acompanhar o nosso trabalho. O dinheiro não era muito, já que a maior parte ficava com o empresário, mas dava para se sustentar muito bem”, lembrou o mossoroense.

Após sair da Cavalo de Pau, Canindé Carvalho foi convidado para acompanhar o trabalho da cantora Gleice Gavião, na banda Gaviões do Forró. Em seguida, retornou para Manaus, a convite da cantora Márcia Fellipe, onde atuou como back vocal na banda Companhia do Forró.  

Em 2010, Canindé retorna para o estado do Ceará onde integra a banda Caviar com Rapadura, atuando por cerca de um ano e meio. Após sair da Caviar, nunca mais foi procurado por empresários e, a partir daí procurou outras alternativas para se manter trabalhando.

“A última banda que me convidou foi a Caviar, mas não deu certo, então decidi deixar para lá. Mas vez por outra toco um som para desopilar com os amigos. Mas convite para voltar a tocar em banda grande nunca mais recebi”, lamenta ele.

Questionado sobre o retorno aos palcos, Canindé conta que até sonha em querer voltar a rotina de shows e ressalta que até já apareceram alguns convites, mas que ele recusou por não acreditar no projeto. “Já tive algumas propostas, mas vi que eram sem futuro, pois só de ir por aventura, via que não era o ideal para mim. Só não coloquei uma banda pois ainda não tive condições financeiras, mas quem sabe um dia, se der certo”, finaliza ele.

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