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Retratos do Oeste
15/07/2015 15:26
Atualizado
12/12/2018 17:38

O triunfo da covardia e do cinismo

Até que o pinico do mundo, conhecido por internet, democratizou o direito à voz e trouxe uma enxurrada de lama ideológica de quem, confiante na impunidade, incita o crime e publica o que quer

O jornalista e escritor Dinarte Assunção fez um artigo que reflete o que penso sobre o uso das redes sociais. Copiei de O Potiguar e transcrevo aqui neste espaço.

Segue:

QUEM SE IMPORTA? – Por Dinarte Assunção – Jornalista

Por muito tempo, o cinismo e a covardia eram contidos meticulosamente por uma questão de ordem social. Poucas pessoas atreviam-se a fazer odes à barbárie. Até que o pinico do mundo, conhecido por internet, democratizou o direito à voz e trouxe uma enxurrada de lama ideológica de quem, confiante na impunidade, incita o crime e publica o que quer.

Rotineiramente nos deparamos com as bizarrices de quem diz falar em nome dos bons costumes.

A tragédia que projetou Itajá para as manchetes do jornais é um desses casos.

É um enredo que reúne todas as condições ideais para manifestação do cinismo abjeto, da loucura impensada e do preconceito cretino.

Cinco mulheres tiveram, na calada da noite, a vida interrompida por assassinos.

Onde morreram? Num bordel.

O que faziam? Eram prostitutas.

Pausa para absorver.

Ah, eram putas? Bem feito.

A dona do bordel era sapatão? Tem que acabar com essa raça mesmo.

E quem foram os heróis que fizeram esse favor à sociedade?

Tão indignante quanto o crime em si são essas manifestações que jorram nas redes sociais, sendo tão rapidamente reproduzidas, compartilhadas.

De um lado, temos aqueles que ousam falar. De outro, os que, não conseguindo por conta própria escrever, se deleitam silenciosamente ao passar as mensagens adiante. É o triunfo da covardia e do cinismo.

Quem, afinal, se importa com uma chacina dessas?

Que as moças sirvam de lição para que não se repita o caminho que elas escolheram.

Que a sapatão tenha o fim que mereceu.

E que prevaleçam as lições de bons costumes.

A mais precisa definição sobre essa raça de estúpidos que se reproduzem na velocidade do compartilhamento de suas atrocidades foi cunhada pelo italiano Umberto Eco.

Pausa para sua aspa.

Disse Eco:

“As redes sociais dão o direito à palavra a uma legião de imbecis, que antes falavam apenas em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade”.

Os imbecis são facilmente identificados. Espreitam à espera de uma oportunidade para jorrar suas atrocidades. Sendo tão profundos quanto um prato raso, são previsíveis no que fazem. São guiados pelo egoísmo e atraídos pelo achincalhe.

Eles não se importam. Mas não repassar o que eles reproduzem, contestar, e não perder a capacidade de indignação já é uma boa mostra do que se pode fazer. Quem se importa não se cala.

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