04 FEV 2025 | ATUALIZADO 15:26
Luz Espírita
15/02/2016 13:41
Atualizado
13/12/2018 00:32

Quem não perdoa está doente

Quem não perdoa está doente
Reprodução/Internet

O que dizer de quem não sabe que apenas finge perdoar? Não tem jeito. Quando nos permitimos escapar a paz, é que certamente deixamos também escapar o perdão. Sem condições ainda para perceber o que realmente nos tortura, atribuímos ao outro o motivo da angústia que apenas nós mesmos temos o poder de provocar e também de curar.

O grande desafio consiste em saber que o perdão não está numa palavra. Está na atitude de cura a si mesmo através da busca da compreensão transformadora, que pode ser construída por qualquer um de nós que tente não mais esconder em palavras aquilo que somente pode vir do coração. Da busca pessoal e incessante pela verdadeira transformação.

Liguemos, pois, todos os pisca-alertas quando na nossa condição humana bradarmos: “Eu Perdoei”.  Essa, muitas vezes, falsa convicção, pode ser exatamente a caixa escura onde vamos guardar a oportunidade de crescer. Nenhuma embalagem é inviolável e tão segura que consiga conter por muito tempo a força arrasadora das nossas imperfeições.

Exteriormente podemos tentar esconder as dores do passado e as do hoje também. Mas pensemos. Não é a dor um sinônimo de doença? Quando o corpo físico sofre, por exemplo, com dor de cabeça, mal estar, ou qualquer outra enfermidade orgânica, não vamos ao médico? Não precisamos identificar e tratar a doença para fazer cessar a dor?

Pois bem, quando apenas dizemos ter perdoado aquilo que uma rápida lembrança resgata de modo destruidor, abrimos mão de ir ao especialista em busca do diagnóstico. Ir ao médico pede tempo. Dá trabalho. Custa caro. Então decidimos ficar na “zona de conforto” e tentamos nos livrar apenas da dor.

Vamos então ao mais fácil. Paramos na primeira farmácia, procuramos uma saída por conta própria. O inconsciente propõe e lá vamos nós mais uma vez “fingir” que ficarmos bons com maior facilidade. Vemos na prateleira do estabelecimento várias palavras. Compramos uma chamada perdão. Compramos uma não. Pegamos um estoque para da próxima vez não ter nem o trabalho e já tê-la na mão.

Como todo bom analgésico, a palavra que compramos passa temporariamente a dor, mas não cura a doença. Esquecemos a dor e o sintoma que nos avisava que precisávamos de cuidados mais especiais. Depois virão as consequências. Doença escondida é bomba para explodir a qualquer tempo.

Nos acreditamos curados. Pensamos que esquecemos e até esquecemos que nem tentamos. Uma palavra na boca e ações diferentes comandam o coração do espírito, que enfermo diminui pouco a pouco as valiosas energias vitais. Sem perceber agora estamos ferindo. Atacamos, às vezes silenciosamente não só quem nos feriu, mas todos ao nosso redor.

Seguimos arrastando as chagas que fazemos questão de esconder. Não são poucas. Vejamos quantas coisas para perdoar num só dia. Multipliquemos por uma semana, por um mês, por todos os dias da nossa vida. Depois sem nos desesperar, multipliquemos por todas as chagas que estamos armazenando escondidas de todas as nossas outras vidas. Muita coisa né? Assim até dá para entender onde sem querer perdemos tudo de bom que às vezes vibramos por encontrar.

Aos poucos desaparece o sorriso leve, a irritação começa a surgir frente as mais pequeninas coisas. Nervos à flor da pele. Transbordamos a dor acumulada que não somos mais capazes de suportar. Fica difícil tolerar, conviver. Culpamos a correria da vida que fica pesada, o trabalho que é puxado, o chefe impaciente, os colegas de trabalho irritantes.

Em casa os filhos dão muito trabalho, o marido ou a esposa não nos compreende e não nos trata como desejamos. Eles não veem que preciso deles? Que preciso de ajuda? Como poderiam se escondemos de todos a nossa real incapacidade ainda de perdoar?

Perdemos o equilíbrio. Perdemos o controle da própria vida. Vamos nos distanciando e perdendo oportunidades, distanciando pessoas e criando um abismo imenso que nos separa de nós mesmos. Tudo porque não tivemos coragem de buscar o diagnóstico na hora exata. Por que meu Deus? Porque não vi a tempo? Porque esperei a doença dolorosa crescer e se espalhar por todo lado?

O fato é que para muitos de nós “ir ao médico” é ir procurar doença e por isso fugimos. Que dizer do que somos capazes de fazer para esconder um defeito nosso que não queremos encontrar? Será que não queremos encontrar ou acreditamos que ele não tem cura e por isso temos medo de enfrentar? Onde nasceu tanto medo? Onde perdemos a fé que esclarece e cura?

Às vezes estamos carregando doenças “terminais terríveis” por várias existências. Começamos a perdoar verdadeiramente quando reconhecendo a nossa ferida, ainda aberta, não enxergamos mais apenas nós mesmos, passamos a ver também o outro. Agora mais distanciados do nosso egoísmo, no lugar de vermos o mal no que tenta ferir, começamos a ver na verdade um irmão doente precisando de ajuda.

O momento do nascer, também da grande oportunidade do verdadeiro enfrentamento concedida por Deus. Não nos interessa mais a chance de derrotar o “inimigo”, mas a oportunidade de finalmente despertar para a própria dor. É o começo da busca corajosa pelo diagnóstico que poderá levar a grande cura que Deus nos inspira todos os dias.

Lembremo-nos do grande exemplo que nos foi dado para que, por mais que ainda estejamos na caminhada evolutiva, ainda em condições iniciais de evolução moral, não nos enganemos com falsas “qualidades” que ainda não possuímos para que ao ver a verdade comecemos a despertá-las.

No mais alto grau das aflições físicas as quais foi submetido, Jesus olhava com a mais profunda caridade para os seus algozes. Por mais que a dor física lhe atingisse o corpo físico, ele demonstrou com grande perfeição o caminho da cura para aquele que busca a paz do verdadeiro perdão. “Pai, perdoai, eles não sabem o que fazem”.

Mostrou assim que as dores que nos sãos impostas são necessárias. Que são muitas vezes muito grandes. Que em tantas ocasiões ferem sem trégua. Que podem parecer insuportáveis ou mesmo injustas, como as que ele, apenas para nos dar o exemplo, se submeteu. Demonstração linda de que apenas o perdão verdadeiro é caminho de elevação para o espírito.

A conduta pacificadora de amor de Jesus fez tremer o coração ainda frio dos algozes que aumentavam a força que lhe feria a carne, mas não conseguiam atingir a brancura de sua alma. A força extraordinária irradiava da fé absoluta que guardava todas as grandes verdades do Pai em seu coração.

Todavia nada doeu mais a Jesus do que ver a condição de enfermidade de seus irmãos. Da mesma forma nada torturou mais aos que lhe feriam do que vê-lo oferecer-lhe amor e piedade como resposta aos golpes fatais. Sequer o julgamento equivocado o Mestre questionou mostrando que a verdade interior é única e não pode ser demonstrada senão na ausência de conflitos.

Seus olhos pacificadores perturbavam aqueles que não o entendiam e que só posteriormente foram perceber a valiosa oportunidade de despertar que lhes havia sido ofertada. Não percamos tempos nas nossas lutas nos considerando injustiçados ou buscando nos outros a paz da vivência diária que ainda não temos.

Busquemos dar um pouco mais de nós mesmos em prol da nossa própria melhoria e veremos que toda luz que irradia, cura. Se almejamos ser verdadeiramente úteis a nós mesmos e aos outros, despertemos a grande condição de amor que nos foi ofertada por Deus. Comecemos nos perdoando e vendo que a oportunidade é dada para primeiro ver, depois curar.

Notas

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