23 SET 2024 | ATUALIZADO 15:05
MOSSORÓ
Cezar Alves, Da redação
20/08/2016 18:32
Atualizado
14/12/2018 09:08

Sofrimento dos bebês que tem alergia ao leite de vaca e seus derivados

Leite especial é muito caro e a Unicat só distribui para as famílias em Natal; região de Mossoró tem cerca de 80 bebês precisando
O bebê Artur Castro Frota, com 20 dias de vida, apresentou irritação forte na pele e assaduras com fissuras no bumbum, em função da alergia ao leite de vaca e a todos os seus derivados consumidos pela mãe Heliana Castro. Hoje, com 3 meses, a alergia está controlada.
 
Entretanto, nem sempre os bebês com alergia ao leite de vaca conseguem o diagnóstico precoce, evitando assim o sofrimento e até o risco de morrer. Na maioria dos casos só se descobre quando já está perdendo peso e/ou quando começa a sair sangue nas fezes do bebê.
 
A explicação é do médico gastropediatra Luiz Gonzaga Guerra. Segundo ele, o tratamento é no processo alimentar e deve ser essencialmente voltado para o bebê e para a mãe. "É preciso tirar tudo que tem origem do leite da vaca da alimentação da mãe e do bebê", diz.
 
Assim como Artur Castro Frota, segundo Luiz Gonzaga Guerra, existem diagnosticados com alergia ao leite de vaca e seus derivados cerca de 80 bebês, com idade de zero a três anos, só na região de Mossoró. A dieta para o bebê é de alto custo, responsabilidade do Estado.
 
Luiz Gonzaga é o único gastropediatra no interior do Rio Grande do Norte habilitado para diagnosticar e receitar a dieta correta para o bebê e principalmente para a mãe que amamenta. Ele atende no PAM, do Bairro Bom Jardim, em Mossoró/RN.
 
Segundo Luiz Gonzaga Guerra, três sintomas indicam que o bebê tem este tipo de alergia: sangue nas fezes, problemas respiratórios e vermelhidão na pele. "Observamos o histórico clínico do paciente e da mãe, são feitos os testes e chega-se ao diagnóstico", informa.


 
No caso de Artur Castro Frota, Luiz Gonzaga Guerra destaca que os pais perceberam logo no início, antes que a criança começasse a perder peso. A vermelhidão na pele e as assaduras com fissuras no bumbum levaram os pais a procurarem a pediatra Raphaela Cavalcante, que o encaminhou para o gastropediatra.
 
Luiz Gonzaga, por sua vez, fez os testes e diagnosticou a alergia ao leite da vaca. A mãe Heliana Castro modificou completamente sua dieta, deixando de comer leite de vaga e qualquer de seus derivados, para continuar amamentando o filho Artur.
 
Nem todos os pais percebem o problema nos primeiros dias de vida de seus filhos. Geralmente levam algum tempo. Foi o caso de Fernando Lima Gurgel, de 1 ano, filho de Taiana Suyane Lima Gurgel e do professor Fábio Firmino de Albuquerque Gurgel.
 
Taiane e Fábio perceberam que o filho precisava de cuidados especiais quando observaram que o bebê não estava pegando o peso, tinha vômitos, e sangue nas fezes. Com orientação especializada, começou a dieta com a fórmula ideal de leite para evitar alergia.
 
Já Alyanne Amaly Lopes Alves de Freitas e o marido Damyson Geann Marinho de Freitas perceberam que a filha Sophia Vitória Alves de Freitas, que hoje está com 5 meses, apresentava sintomas parecidos com os de Artur, filho de Heliana Castro e Emanno Frota. O casal procurou o especialista, que diagnosticou a alergia.
 
O casal Joseany Fernades e Costa Junior, pais de Carlos Eduardo, que tem 2 anos, perceberam que o filho tinha alergia a leite de vaca e seus derivados quando começou a alimentação sólida, aos seis meses. Antes, segundo Joseany Fernandes, o bebê só mamava.

 

Leite especial para crianças alérgicas só é distribuído pelo Estado em Natal

O leite especial para bebês alérgico ao leite de vaca e seus derivados é distribuído para as crianças gratuitamente na Unicat, em Natal. Não existe distribuição no interior.
 
Para conseguir o leite especial, os pais da criança precisam levá-la para ser consultada e acompanhada (de 3 em 3 meses) pelos médicos do Hospital Universitário Pediátrico da UFRN.
 
Cada criança recebe 15 latas de leite/mês. Os pais ficam obrigados a irem a Natal todo mês, levando as latas vazias e as que foram consumidas para devolver na UNICAT e receber novas 15 latas.
 
Estranhamente a Unicat não aceita os formulários e receita de gastropediátricos que atuam no interior, o que obriga os pais dos bebês que moram no interior a irem buscar em Natal.

 
 

Leite de vaca tem potencial alérgico muito alto, aponta pesquisa

Os pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte publicaram recentemente um artigo sobre este tipo de alergia e o caminho para tratar gratuitamente.
 

Veja AQUI.
 

A proteína do leite de vaca (PLV) apresenta potencial alergênico alto e é considerada o mais frequente componente dietético causador de alergia alimentar.
 
O diagnóstico da alergia à proteína do leite de vaca (APLV) baseia-se nas manifestações clínicas, na resposta à dieta de exclusão e posterior teste clínicos.
 
Seu tratamento consiste na retirada do leite de vaca e seus derivados da dieta e na sua substituição por fórmulas à base de proteína isolada de soja, de proteínas extensamente hidrolisadas ou de aminoácidos, conforme o grau de alergia do paciente.

O estudo diz:

"Para os indivíduos que apresentaram sintomas exclusivamente digestórios, prescreveram-se fórmulas à base de proteína isolada de soja em 51%, de hidrolisado proteico em 43,3% e de aminoácidos em 5,8%.
Para aqueles com sintomas exclusivamente cutâneos, prescreveram-se fórmulas 155 à base de proteína isolada de soja em 78,3% e hidrolisado proteico em 21,7%, não se observando prescrição de fórmulas de aminoácidos.
Todas as crianças com sintomas exclusivamente respiratórios receberam prescrição de fórmula à base de proteína isolada de soja".

 
Hospital Pediátrico da UFRN implantou programa em 2007

No RN, o tratamento é feito através do Programa de Avaliação da Indicação e Uso de Fórmulas Infantis Especiais para Alergia à Proteína do Leite de Vaca (PAIUFA).
 
Este programa foi implantado em 2007 no Hospital de Pediatria da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Hosped-UFRN) e é atualmente referência para todo o Estado.
 
Ou seja, o cidadão do interior do Rio Grande do Norte tem que se deslocar todo mês a Natal para receber o leite do Governo, um gasto enorme para os pais e um stress igualmente grande para os filhos, já com problemas sérios de alergia.

 

Veja quem são os médicos que estão habilitados para tratar alergias nos bebês

E não é qualquer gastropediatra que pode diagnosticar e receitar as dietas aos pequenos e suas mães. Veja lista abaixo dos profissionais habilitados e cadastrados no PAIUFA da UFRN:

Luiz Gonzaga Guerra
Ana Cristina Vieira de Melo
Jussara Melo de Cerqueira Maia
Neftali Macedo Junior
Poliana Araújo Silveira
Renilson Rodrigues
Rosane Costa Gomes
Valéria Borges Lima G. Costa
 
No caso, Luiz Gonzaga Guerra é o único que atua no interior do Rio Grande do Norte e, todos os pais que o MOSSORÓ HOJE conversou informaram que a UNICAT, responsável pela distribuição do leite no RN, não aceita as indicações dele.

 
 
Gastropediátra vê posição da Unicat como discriminatória

Os pais relataram que chegaram na UNICAT, em Natal, com o formulário e a requisição preenchidos pelo gastropediatra Luiz Gonzaga, de Mossoró, e foram orientados a procurarem os profissionais que atuam em Natal para fazer o mesmo que Luiz Gonzaga fez em Mossoró.
 
Em contato com o MOSSORÓ HOJE, Luiz Gonzaga se mostrou indignado. Vê a posição da Secretaria Estadual de Saúde como discriminatória com relação a ele, que tem a mesma formação dos médicos que atuam em Natal, e massacrante aos pacientes do interior.
 
Luiz Gonzaga é contratado pela Prefeitura Municipal de Mossoró para atender as crianças especiais no Centro Clinico Professor Vingt-Un Rosado, no bairro Bom Jardim. Ele falou que muitas das crianças são filhos de pais humildes, que não tem condições de irem a Natal.
 
"Sofremos junto com os pacientes, pois sabemos o que os bebês precisam para não ter alergia e não podemos fazer muito. Já enviamos ofícios a todos os setores do Governo do Estado e não recebemos resposta. O quadro continua e os bebês sofrendo", finaliza Luiz Gonzaga.
 

Mães indignadas com a indiferença da UNICAT com Mossoró

Taianne Suyane Lima Gurgel, mãe de Fernando Lima Gurgel, disse que está indignada, aflita com esta exclusão de Mossoró. "Eles deveriam distribuir o leite na UNICAT de Mossoró, com o formulário e a requisição do gastropediatra Luiz Gonzaga, de Mossoró", declara.
 
O casal Joseany Fernandes e Costa Junior já vem sofrendo com este descaso do Estado com Mossoró há pele menos 18 meses. O filho do casal, Carlos Eduardo, toma uma lata de 400 gramas a cada 5 dias. Cada lata custa em média R$ 200,00 e não tem para vender.
 
Alyanne Amalle e Damyson contaram que estão fazendo um sacrifício tanto físico quanto financeiro para mensalmente irem a Natal fazer a conferência das latas de leite na UNICAT. Assim como os demais casais, o casal está revoltado com a indiferença do governo.
 
Depoimento de Heliana Castro

"A nossa vida e as das nossas crianças APLV's já são bem difíceis. Viver com tanta restrição alimentar não é nada fácil, principalmente para elas. Demos graças a Deus que Dr. Luiz Gonzaga passou a atender aqui em Mossoró, mas esbarramos na burocracia do Estado. Não há nada que justifique a não distribuição da fórmula especial na Unicat Mossoró. E o pior, agora querem que levemos nossos filhos para serem consultados em Natal. É uma falta de vontade sem igual de nos ajudar a vencer essa doença".

O gastropediatra Luiz Gonzaga revela o tempo que precisa para curar o bebê com alergia ao leite de vaca e seus derivados. Normalmente é feita uma dieta especial de um período que vai de 8 a 12 semanas. Aí faz novos exames para saber se a criança ganhou tolerância ao leite de vaca. Geralmente demora de 6 meses a um ano de tratamento.



 

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