O leite especial para bebês alérgico ao leite de vaca e seus derivados é distribuído para as crianças gratuitamente na Unicat, em Natal. Não existe distribuição no interior.
Para conseguir o leite especial, os pais da criança precisam levá-la para ser consultada e acompanhada (de 3 em 3 meses) pelos médicos do Hospital Universitário Pediátrico da UFRN.
Cada criança recebe 15 latas de leite/mês. Os pais ficam obrigados a irem a Natal todo mês, levando as latas vazias e as que foram consumidas para devolver na UNICAT e receber novas 15 latas.
Estranhamente a Unicat não aceita os formulários e receita de gastropediátricos que atuam no interior, o que obriga os pais dos bebês que moram no interior a irem buscar em Natal.
Os pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte publicaram recentemente um artigo sobre este tipo de alergia e o caminho para tratar gratuitamente.
Veja AQUI.
A proteína do leite de vaca (PLV) apresenta potencial alergênico alto e é considerada o mais frequente componente dietético causador de alergia alimentar.
O diagnóstico da alergia à proteína do leite de vaca (APLV) baseia-se nas manifestações clínicas, na resposta à dieta de exclusão e posterior teste clínicos.
Seu tratamento consiste na retirada do leite de vaca e seus derivados da dieta e na sua substituição por fórmulas à base de proteína isolada de soja, de proteínas extensamente hidrolisadas ou de aminoácidos, conforme o grau de alergia do paciente.
O estudo diz:
"Para os indivíduos que apresentaram sintomas exclusivamente digestórios, prescreveram-se fórmulas à base de proteína isolada de soja em 51%, de hidrolisado proteico em 43,3% e de aminoácidos em 5,8%.
Para aqueles com sintomas exclusivamente cutâneos, prescreveram-se fórmulas 155 à base de proteína isolada de soja em 78,3% e hidrolisado proteico em 21,7%, não se observando prescrição de fórmulas de aminoácidos.
Todas as crianças com sintomas exclusivamente respiratórios receberam prescrição de fórmula à base de proteína isolada de soja".
No RN, o tratamento é feito através do Programa de Avaliação da Indicação e Uso de Fórmulas Infantis Especiais para Alergia à Proteína do Leite de Vaca (PAIUFA).
Este programa foi implantado em 2007 no Hospital de Pediatria da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Hosped-UFRN) e é atualmente referência para todo o Estado.
Ou seja, o cidadão do interior do Rio Grande do Norte tem que se deslocar todo mês a Natal para receber o leite do Governo, um gasto enorme para os pais e um stress igualmente grande para os filhos, já com problemas sérios de alergia.
E não é qualquer gastropediatra que pode diagnosticar e receitar as dietas aos pequenos e suas mães. Veja lista abaixo dos profissionais habilitados e cadastrados no PAIUFA da UFRN:
Luiz Gonzaga Guerra
Ana Cristina Vieira de Melo
Jussara Melo de Cerqueira Maia
Neftali Macedo Junior
Poliana Araújo Silveira
Renilson Rodrigues
Rosane Costa Gomes
Valéria Borges Lima G. Costa
No caso, Luiz Gonzaga Guerra é o único que atua no interior do Rio Grande do Norte e, todos os pais que o MOSSORÓ HOJE conversou informaram que a UNICAT, responsável pela distribuição do leite no RN, não aceita as indicações dele.
Os pais relataram que chegaram na UNICAT, em Natal, com o formulário e a requisição preenchidos pelo gastropediatra Luiz Gonzaga, de Mossoró, e foram orientados a procurarem os profissionais que atuam em Natal para fazer o mesmo que Luiz Gonzaga fez em Mossoró.
Em contato com o MOSSORÓ HOJE, Luiz Gonzaga se mostrou indignado. Vê a posição da Secretaria Estadual de Saúde como discriminatória com relação a ele, que tem a mesma formação dos médicos que atuam em Natal, e massacrante aos pacientes do interior.
Luiz Gonzaga é contratado pela Prefeitura Municipal de Mossoró para atender as crianças especiais no Centro Clinico Professor Vingt-Un Rosado, no bairro Bom Jardim. Ele falou que muitas das crianças são filhos de pais humildes, que não tem condições de irem a Natal.
"Sofremos junto com os pacientes, pois sabemos o que os bebês precisam para não ter alergia e não podemos fazer muito. Já enviamos ofícios a todos os setores do Governo do Estado e não recebemos resposta. O quadro continua e os bebês sofrendo", finaliza Luiz Gonzaga.
Taianne Suyane Lima Gurgel, mãe de Fernando Lima Gurgel, disse que está indignada, aflita com esta exclusão de Mossoró. "Eles deveriam distribuir o leite na UNICAT de Mossoró, com o formulário e a requisição do gastropediatra Luiz Gonzaga, de Mossoró", declara.
O casal Joseany Fernandes e Costa Junior já vem sofrendo com este descaso do Estado com Mossoró há pele menos 18 meses. O filho do casal, Carlos Eduardo, toma uma lata de 400 gramas a cada 5 dias. Cada lata custa em média R$ 200,00 e não tem para vender.
Alyanne Amalle e Damyson contaram que estão fazendo um sacrifício tanto físico quanto financeiro para mensalmente irem a Natal fazer a conferência das latas de leite na UNICAT. Assim como os demais casais, o casal está revoltado com a indiferença do governo.
Depoimento de Heliana Castro
"A nossa vida e as das nossas crianças APLV's já são bem difíceis. Viver com tanta restrição alimentar não é nada fácil, principalmente para elas. Demos graças a Deus que Dr. Luiz Gonzaga passou a atender aqui em Mossoró, mas esbarramos na burocracia do Estado. Não há nada que justifique a não distribuição da fórmula especial na Unicat Mossoró. E o pior, agora querem que levemos nossos filhos para serem consultados em Natal. É uma falta de vontade sem igual de nos ajudar a vencer essa doença".
O gastropediatra Luiz Gonzaga revela o tempo que precisa para curar o bebê com alergia ao leite de vaca e seus derivados. Normalmente é feita uma dieta especial de um período que vai de 8 a 12 semanas. Aí faz novos exames para saber se a criança ganhou tolerância ao leite de vaca. Geralmente demora de 6 meses a um ano de tratamento.