29 MAR 2024 | ATUALIZADO 18:35
MOSSORÓ
Da redação
07/08/2018 16:06
Atualizado
08/02/2019 12:30

De pedreiros a engenheiros: irmãos mossoroenses

De pedreiros a engenheiros: irmãos mossoroenses
Valéria Lima
Depois de mais de 10 anos trabalhando como pedreiros com o pai, dois irmãos enfrentaram um grande desafio, que hoje é motivo de orgulho e alegria para a família Dantas. Moradores do bairro Belo Horizonte, zona periférica de Mossoró, na região Oeste potiguar, Lidrevando Silveira Dantas, de 28 anos, e Lidreano Silveira Dantas, de 30, decidiram embarcar no sonho de se tornarem Engenheiro Civil.

O ápice dessa história ocorreu no último dia 31 de julho, quando os dois irmãos receberam o diploma na Universidade Potiguar (UNP), em Mossoró. Uma noite memorável para eles e os pais - o mestre de obras Benedito Dantas e a artesã Maria Conceição Silveira. O MOSSORÓ HOJE foi até a residência da família conhecer mais sobre essa história. Benedito e Conceição criaram os três filhos com muito trabalho (dois homens e uma mulher - que reside em Caicó).



Aos 14 anos de idade, Lidrevando, o mais novo, já trabalhava com o pai nas obras como ajudante de pedreiro. Com o tempo, ele decidiu seguir a profissão e desde então quis se aprimorar no que fazia. O interesse pela engenharia civil surgiu quando ele trabalhava em uma construtora, onde um dos engenheiros o incentivava a melhorar como profissional. "Ele confiava muito os serviços a mim, me ensinava até aquelas coisas que não era da minha função, e a empresa passou a me incentivar, daí então fiz o vestibular e fui aprovado", explicou Lidrevando, o primeiro a ingressar no curso no segundo semestre de 2013.  O pedreiro conseguiu ingressar no curso através do Pró-Superior, programa do Governo Federal, que concede o desconto de 50% na mensalidade. Os outros 50% estavam sendo pagos pela família até que o estudante conseguiu ingressar no Financiamento Estudantil (Fies).

Vendo o exemplo do irmão mais novo, Lidreano despertou o interesse pela área. Fez o exame na universidade e conseguiu ingressar no curso ainda no final de 2013. “A mensalidade era muito cara, a gente buscou a luta pelo Fies e até conseguir o ingresso nosso pai ajudou com tudo que podia, colocou todo o salário dele ali para a gente poder entrar na faculdade”, relatou ele.

“Nosso pai ajudou com tudo que podia”, diz engenheiro civil; veja vídeo



Os dois revelam a grande importância dos programas sociais para que pudessem realizar o sonho de cursar engenharia civil. Segundo Lidrevando, eles não tinham como ingressar na universidade pública porque as aulas geralmente são durante o dia e eles precisavam trabalhar para sustentar a família. “As mensalidades (das universidades particulares) são altíssimas, e a gente não tinha como enfrentar a universidade pública, por não ter como ficar lá manhã e tarde, esse é o período que a gente estava trabalhando para colocar nossos mantimentos dentro de casa para nossas famílias”, disse Lidrevando.

Já na universidade, começou o período de adaptação para ambos. Lidrevando conta que foi difícil porque fazia sete anos que não estudava. Naquele momento a ajuda de colegas do curso foi primordial para seu desenvolvimento nas disciplinas, segundo ele. “Ouvir o vocabulário dos professores era muito difícil para mim, eu estava sem estudar há sete anos, estava parado, não imaginava mais que ia estudar, aí então contei com a ajuda de seis amigos que estiveram comigo me ajudando em todo esse período num grupo de estudos, foi fundamental para que eu pudesse alcançar meus objetivos”, relatou.

Para os dois irmãos uma das principais dificuldades, além da financeira, era a questão do tempo dedicado ao estudo. Os dois trabalhavam como pedreiros durante todo o dia e à noite estudavam. Capricho associado com responsabilidade no trabalho e e os mesmos nos estuados. O cansaço do dia de trabalho era superado pela vontade de conseguir realizar o sonho.

Conciliar os horários foi desafiador para ambos, que além de trabalhar precisavam dar atenção aos filhos e esposas. “Foi um grande desafio, a gente era muito mais cobrado, a gente trabalhava o dia inteiro e à noite tinha que estudar, muitas vezes a gente chegava não dava tempo nem se alimentar direito, tinha que correr para a universidade e chegávamos tarde, dez da noite, dez e trinta, e ainda tínhamos que dar continuidade ao estudo, se não ia ficar difícil na hora da prova, muitas vezes a gente ia dormir de madrugada, dormia três, quatro horas por dia, mas graças a Deus deu certo”,  contou Lidrevando.



Lidreano relatou que foram dias difíceis e até já pensou em desistir, mas o incentivo para seguir em frente eles encontravam dentro de casa, ao olhar para o esforço dos pais. “O medo era de fracassar, de não chegar até o final, já deu vontade de desistir, mas quando a gente pensava no nosso pai a gente vencia o nosso próprio medo”, afirmou. 

O dia da entrega do diploma foi o dia mais aguardado não só para formandos, mas também para Seu Benedito e sua esposa Conceição. O mestre de obras e a artesã são pura alegria pela formação dos filhos, que hoje exibem a carteira de registro no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA-RN) com orgulho. “Eu não acreditava naquilo ali, naquela hora, caiu a ficha quando eles estavam recebendo o diploma, a alegria é grande, tem que ter muita fé em Deus e coragem, muita coragem, foi difícil a gente não teve ajuda de ninguém, um apoiando o outro, dizer que foi fácil não foi, eu na idade deles não tive a oportunidade, não tinha estudo, hoje eles são formados, têm estudo, eu comecei só não tinha quem me ensinasse, e botei a mão na massa e aprendi e passei para eles”, relatou Seu Benedito emocionado. A mãe lembra dos momentos difíceis e da alegria pela conquista dos dois filhos. “Estou muito feliz, foi muito difícil para eles assim como foi para a gente, e é um sonho realizado, eu toda vida insistia com eles para eles estudarem, e não ficar sofrendo com o pai sofreu muito na área, queria que eles chegassem ao nível que eles chegaram, formados”, contou Dona Conceição.

“Caiu a ficha quando eles estavam recebendo o diploma”, diz mestre de obras 



Os irmãos consideram quem estão muito bem preparados para o mercado de trabalho. O trabalho como pedreiro só agregou valor. Agora além de estarem prontos para executar a obra eles mesmo o criam o projeto para outros profissionais executarem. Desde 2016, os irmãos e o pai mantêm uma pequena empresa de construção civil em Mossoró. “Somos profissionais completos, nos tornamos pessoas que antes de executar um serviço para um profissional nós já sabemos como fazer e podemos ensinar também para eles”, contou Lidrevando. "O meu conhecimento com os deles estamos mantendo, só com o nosso conhecimento".

Os irmãos dão lição de superação e hoje deixam um recado para quem trilha caminho semelhante ao deles. “Eu digo que não desista nunca, porque as dificuldades vão vir, vão vir pessoas dizer que vão dizer que você não vai conseguir e outras com preconceito, mas não se deixe abater por isso, isso é fundamental para que você se torne mais forte, dê a volta por cima, busque seu sonho, tenha um foco”, declarou Lidrevando, em depoimento abaixo:

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